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Artigo - Doença azul
Alderi Emídio de Araújo, pesquisador da Embrapa Algodão
Também conhecida como mosaico das nervuras forma Ribeirão Bonito e por virose atípica, a mais importante enfermidade causada por vírus em algodoeiro é transmitida pelo pulgão (Aphis gossypii). Seu controle no Brasil está alicerçado no uso de cultivares resistentes e no emprego de inseticidas contra o vetor
Atualmente conhecido como "doença azul" o mosaico das nervuras forma Ribeirão Bonito foi assim chamado por se referir à ocorrência de uma suposta estirpe mais agressiva do vírus do mosaico das nervuras, observada por Costa e Carvalho (1962), afetando plantios de algodão no município de Ribeirão Bonito, no estado de São Paulo. Posteriormente, uma doença com o mesmo sintoma foi constatada no Paraguai, onde os técnicos locais associaram com a doença azul que ocorria na República Centro-Africana. Assim, quando os primeiros surtos desta virose começaram a ocorrer no Brasil, não se sabia ao certo de qual doença se tratava, se da doença azul verificada no Paraguai e associada com a que ocorria na África ou do mosaico das nervuras forma Ribeirão Bonito. A dúvida persistiu por longo período e, mesmo assim, foram conduzidos programas de melhoramento para resistência à doença e estratégias de controle da virose foram estabelecidas. Em 2005 foi realizado o sequenciamento do gene da capa proteica e de parte do gene da polimerase do vírus e, de acordo com análises comparativas das sequências, associaram a um Polerovírus da família Luteoviridae, tendo sido proposta a nomenclatura Cotton leafroll dwarf virus, CLRDV, encerrando a controvérsia existente. Portanto, a mais importante virose do algodoeiro no Brasil é a doença azul, causada pelo vírus CLRDV.
A doença se caracteriza por causar o encurtamento dos entrenós, mosaico ou palidez ao longo das nervuras, melhor visualizado pela observação das folhas contra a luz, e o restante da folha aparenta uma coloração verde azulada ou mesmo arroxeada. Rugosidade e intensa curvatura do limbo a partir das bordas são também verificadas. É comum nos casos mais severos que haja um vermelhão no limbo alcançando nervuras e pecíolo, o encurtamento dos entrenós causa enfezamento da planta, cujo crescimento cessa. A produção é completamente comprometida.
O vírus da doença azul é transmitido pelo pulgão (Aphis gossypii) e plantas expostas à alimentação por esses insetos infectados podem desenvolver sintomas em torno de 18 dias após o contato com o vetor.
Na safra 2005/2006 foram observados focos da doença azul em áreas onde estavam sendo cultivadas variedades resistentes. As plantas normalmente não exibiam os sinais característicos da doença azul, e sim alguns sintomas atípicos, como folhas com coloração avermelhada e plantas com pouca ou nenhuma redução de crescimento. Estudos realizados posteriormente permitiram concluir que os sintomas atípicos também eram ocasionados após a picada do mesmo vetor, o que poderia caracterizar assim como uma virose atípica. As observações feitas sobre a reação de diferentes variedades de algodoeiro em relação à virose atípica e à doença azul levaram a crer que poderia se tratar de patógenos diversos para doenças diferentes. Os estudos direcionados à caracterização dos vírus associados às duas formas da doença indicaram uma diferença na sequência de uma proteína que pode ter conferido ao vírus CLRDV a capacidade de superar a resistência de algumas cultivares de algodoeiro. Com base nesses resultados, os programas de melhoramento genético do algodoeiro, conduzidos atualmente no Brasil, levam em consideração a existência de dois patógenos, que provavelmente tenham características distintas. Ao mesmo tempo, cuidados devem ser dispensados de maneira mais incisiva no que se refere ao controle do pulgão em cultivares resistentes à doença azul e suscetíveis à virose atípica.
Como controlar
O controle da doença azul no algodoeiro se baseia em dois princípios: o uso de cultivares resistentes e o controle químico do vetor, no caso o pulgão Aphis gossypii. Em cultivares resistentes tanto à doença azul quanto à virose atípica, os níveis de pulgão podem atingir até 60% das plantas com colônias para que sejam iniciadas as aplicações de inseticidas para o controle. Em cultivares com resistência intermediária, os níveis de infestação de pulgões não devem ultrapassar 40% das plantas com colônias. O período de aplicação de inseticidas nas cultivares resistentes deve se estender dos 20 dias aos 70 dias após a emergência e dos 110 dias aos 130 dias. A amostragem deve ser realizada para detectar pulgões na face inferior das folhas e vistoriar a folha aberta mais alta na planta (ponteiro). O nível de controle é atingido quando a infestação for de 20 pulgões por folha ou 50% a 60% de plantas com pulgões.
No caso do plantio de cultivares suscetíveis, o período de controle deve ser mais amplo e se estender de cinco dias a 100 dias após a emergência e de 110 dias a 135 dias. A amostragem deve ser efetuada dividindo-se a planta em três partes e com exame da face inferior de uma folha do ponteiro, da parte intermediária e do baixeiro. O nível de controle é estabelecido a partir de um a dez pulgões por folha ou de 5% a 10% de plantas com três a cinco pulgões.
Na tabela 1 são apresentados os danos ocasionados pela doença azul em uma cultivar de algodoeiro suscetível, não submetida ao controle químico. Os valores permitem observar a dimensão dos prejuízos causados à produção no caso de descuido do produtor em adotar as medidas de controle no período adequado. A nota dada ao nível de doença varia de 1 a 5, sendo 1 a planta sem sintomas e 5 a planta com os sintomas mais severos.
É importante destacar que a aplicação de inseticidas após os 100 dias tem por objetivo, principalmente, o controle do pulgão como praga e não propriamente como vetor das viroses, uma vez que as fezes açucaradas do inseto podem ocasionar o fenômeno de caramelização da fibra ou "algodão doce"', que sofre severas restrições da indústria têxtil.
Recomenda-se que os produtores procurem informações seguras, junto às empresas obtentoras, sobre os níveis de resistência das cultivares a serem plantadas em suas áreas de produção, no que se refere à doença azul e à virose atípica, para estabelecer estratégias de controle que minimizem os riscos ao rendimento de suas lavouras.
Artigo publicado originalmente na revista Cultivar
Edna Santos (MTB-CE 01700)
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