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Embrapa participa de encontro de fruticultores no DF
Foto: Breno Lobato
Encontro no Núcleo Rural Pipiripau, em Planaltina (DF), reuniu cerca de 300 produtores e técnicos
Pesquisadores da Embrapa Cerrados foram palestrantes no 9º Encontro Regional de Produtores de Maracujá e 1º Encontro Regional dos Fruticultores, realizado no dia 2 de outubro no Núcleo Rural Pipiripau, em Planaltina (DF). Os encontros promoveram o debate e a troca de experiências sobre o cultivo do maracujá e de outras espécies frutíferas, buscando aprimorar o conhecimento sobre o cultivo e a comercialização e fortalecer a cadeia produtiva da fruticultura no Distrito Federal.
Devido ao uso intensivo de tecnologia e à atuação de instituições de pesquisa e de extensão rural, o DF tem a maior produtividade de maracujá do País, cerca de 35 ton/ha, mais que o dobro da média nacional, de 14 ton/ha. A atividade movimentou, no ano passado, R$ 17,6 milhões, de acordo com a Emater-DF. A região oferece condições ambientais e mercadológicas para a expansão do cultivo de outras espécies de fruteiras
O evento foi promovido pela Emater-DF, pela Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF (Seagri) e pela Associação dos Moradores e Produtores do Vale do Pipiripau, com o apoio da Embrapa, da Ceasa-DF e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal. Participaram cerca de 300 produtores e técnicos da região.
Livros
Na oportunidade, foram lançados os livros Expedição Safra Brasília – Maracujá volumes 1 e 2. O trabalho é um diagnóstico da produção do maracujá no DF junto a 82 produtores por meio da aplicação de questionários contemplando tanto dados de produção como, principalmente, de comportamentos, conhecimentos, aprendizado e motivações com relação à cultura.
O primeiro volume, mais voltado aos técnicos, descreve o método Diagnóstico Comportamental Produtivo da Atividade (DCAP). Já o segundo volume traz a aplicação do DCAP com os produtores de maracujá, mostrando os resultados dos questionários e os pareceres de pesquisadores e extensionistas rurais, além de algumas experiências de sucesso no cultivo do maracujá, entre outros tópicos.
Um dos autores e organizadores dos livros, o pesquisador Francisco Rocha destacou que a metodologia utilizada no diagnóstico da atividade produtiva do maracujá no DF é resultante de 20 anos de trabalho. “O trabalho não visa principalmente ao produto. O foco é no produtor, no conhecimento e na motivação dele, nas ações e nos impactos que ele obtém no dia a dia”, afirmou, acrescentando que o conhecimento desses resultados é fundamental para a tomada de decisão pelas instituições e pelos próprios produtores. “Temos que saber o que está acontecendo na ponta, qual a lacuna de aprendizagem do produtor e como ele lida com as tecnologias”, completou.
Mercado do maracujá
O pesquisador Paulo Fernandes apresentou uma análise da produção de maracujá no DF e em Goiás a partir de informações disponibilizadas pela Ceasa-DF e pela Ceasa-GO. No DF e em Goiás, dois mercados próximos, as centrais de abastecimento recebem maracujá azedo de diversos estados, principalmente da Bahia, responsável por 35% do maracujá comercializado pela Ceasa-GO e 53,3% do fruto vendido pela Ceasa-DF. Brasília, fornece apenas 9,9% do total comercializado pela Ceasa-DF.
Fernandes mostrou gráfico sobre o preço pago ao produtor durante dois anos (entre 2016 e 2018), apontando que o DF pagou melhor a produção que Goiás e a Bahia. “Ao longo desse tempo, o DF sempre pagou em torno de 20% ou até 40% a mais que Goiás dependendo do mês, e chegou a pagar mais que o dobro pago pela Bahia. É por isso que o maracujá da Bahia vem ser comercializado aqui”, observou.
Ele também apresentou uma tabela com a relação entre a oferta do produto e o preço na Bahia, em Goiás e no DF. “A oferta de produto não necessariamente regula o preço. Temos que entender isso”, destacou, mostrando ainda que apesar da área plantada na Bahia e em Goiás serem maiores 27.330 ha e 382 ha, respectivamente, em 2017, o DF, com apenas 148 ha tem algumas vantagens, como a proximidade do mercado, o que representa baixo custo de frete e maior rapidez na entrega ao consumidor final. “Temos o privilégio do custo de frete baixo e de ter a garantia de um mercado tão rico como o de Brasília”, disse.
Em relação à Ceasa, o escoamento da produção de maracujá no DF representa apenas 11,9% da produção, enquanto em Goiás é de 42,9%. “O produto também pode escoar diretamente para supermercados, por venda direta, há vários caminhos. Um mercado que tem vários compradores é rico”, disse. Para o pesquisador, a presença do maracujá baiano no mercado brasiliense é positiva por garantir a oferta do produto. “A Bahia não é nossa concorrente. Temos vantagens competitivas de estarmos próximos do mercado, de oferecermos um produto de alta qualidade. Não há limitação de mercado”, analisou.
Abacate
As inovações tecnológicas no cultivo do abacateiro, fruteira nativa do México e da América Central que tem produção crescente no Brasil, foram abordadas pelo pesquisador Tadeu Graciolli. O pesquisador destacou o potencial de expansão da cultura no DF devido às características de clima e solo. “Temos um clima tropical de altitude, com dias de muito sol e noites mais frescas. Qualquer variedade se dá bem aqui”, disse.
Segundo o pesquisador, a grande procura pelo abacate se deve às propriedades medicinais e nutricionais – é rico em potássio, proteínas e gordura que eleva o nível de HDL, o chamado “colesterol bom”. Ele destacou a composição do fruto, do qual 20% a 25% do peso se deve ao caroço, pois é uma planta que mobiliza muita energia para produzir óleo, bem como o cenário mundial de produção, no qual o Brasil é o sexto maior produtor, com 195 mil toneladas em 2016 e consumo de 300 g por habitante/ano. São Paulo e Minas Gerais são os principais estados produtores.
Graciolli apresentou as características das principais cultivares encontradas no mercado, desde as mais precoces, como a Geada, colhida de dezembro a fevereiro, até as mais tardias, como a Fuerte, com colheita de meia estação entre março e junho e tardia entre julho e setembro. Apesar de conterem menos óleo, as cultivares mais precoces são colhidas em períodos com menor oferta do fruto, possibilitando bons preços ao produtor. “É possível produzir abacate no DF por seis a oito meses, desde que se escolha variedades com diferentes períodos de floração”, observou o pesquisador.
Ele abordou as exigências edafoclimáticas para o cultivo do abacateiro, como temperaturas amenas no período de indução floral e solos bem drenados e arejados para evitar a asfixia das raízes. Para a implantação da cultura, Graciolli destacou que deve-se evitar solos pesados (mais argilosos). “Uma muda de avocado (variedade Hass) trazida de São Paulo pode custar R$ 15 com o frete. É muito caro para perder as mudas”, comentou. Também falou sobre os espaçamentos de plantas mais usados; as recomendações de plantio, de condução das plantas e de adubação; as principais pragas e doenças da cultura, como a podridão das raízes, e as formas de controle; e as podas.
Quanto aos desafios para a produção de abacate, o pesquisador salientou que apesar do aumento da demanda, a qualidade, alcançada com investimento tecnológico, vai selecionar os produtores que permanecerão no mercado. Ele também apontou a demanda de técnicos envolvidos em pesquisa e extensão rural e a necessidade de resultados de pesquisas consistentes para a geração de recomendações confiáveis. “Nesse sentido, nada melhor que a pesquisa local. Nossa atuação em conjunto vai trazer confiabilidade para essas recomendações”, finalizou.
Pitaya
O pesquisador Fabio Faleiro fez palestra sobre a pitaya, planta frutífera cactácea nativa das Américas. Ele mostrou as características de diferentes espécies e variedades. “Existe muita variabilidade genética dentro de uma mesma espécie, com tamanhos e formatos diferentes de frutos, variedades mais doces e outras menos doces, maior ou menor resistência a doenças e maior ou menor vigor vegetativo”, afirmou, explicando que a Embrapa e parceiros têm desenvolvido, desde 1990, pesquisas para desenvolver cultivares da fruta, buscando atributos de alta produtividade, adaptabilidade, qualidade química e física dos frutos e resistência ou tolerância a pragas e doenças.
A pitaya se propaga de forma vegetativa por meio dos cladódios, que também podem ser comercializados pelos produtores. “Quanto maior o cladódio, mais fácil o pegamento. É uma planta de fácil propagação”, explicou o pesquisador, ressaltando que o material propagativo deve ser certificado e ter garantia de origem genética. A fruteira está sendo avaliada em diferentes regiões brasileiras, sob sistemas convencional e orgânico.
Faleiro falou sobre as perspectivas de lançamento de cultivares e da alta responsividade das pitayas à irrigação, às adubações orgânica, nitrogenada e potássica. Também citou as práticas culturais recomendadas quanto à abertura de covas ou berços; o espaçamento e a profundidade de plantio dos cladódios; a condução das plantas; as podas de formação; o tutoramento; a polinização manual; a proteção da flor em noites de chuva; e o controle de plantas invasoras.
Plantada comercialmente há menos de 20 anos no Brasil, a pitaya tem ganhado a atenção do setor produtivo devido às propriedades nutricionais e funcionais. O pesquisador mostrou que já existem agroindústrias produzindo diversos produtos com pitaya, como chips, sucos, sorvetes e geleias. “É uma planta que veio para ficar. Estamos desenvolvendo uma nova opção para os produtores do DF e de outras regiões”, disse Faleiro.
Resultados da Expedição Safra Brasília – Maracujá
O pesquisador também apresentou os principais resultados, soluções e experiências de sucesso identificadas na Expedição Safra Brasília – Maracujá, cujo principal objetivo foi aproximar os órgãos de pesquisa (Embrapa), extensão rural (Emater-DF) e políticas públicas (Seagri) dos produtores de maracujá do DF.
Ele mostrou o levantamento sobre os indicadores favoráveis e desfavoráveis à produção de fruteiras no DF; o perfil dos produtores; os diferentes sistemas de produção encontrados; os conhecimentos sobre a qualidade da muda e da semente, o uso da polinização manual e da fertirrigação, a compatibilidade dos fertilizantes, o manejo integrado de pragas e doenças, além da agregação de valor; os fatores motivacionais para se produzir maracujá; e como a pesquisa poderia contribuir com os produtores, por exemplo ofertando cultivares melhoradas geneticamente e disponibilizando informações como as encontradas no endereço www.cpac.embrapa.br/minicursomaracuja e nos livros 500 Perguntas 500 Respostas Maracujá e Guia de identificação e controle de pragas na cultura do maracujazeiro.
Faleiro salientou a importância do uso de mudas e sementes de boa procedência e a recomendação de não utilizar sementes do pomar anterior, devido aos problemas de heterose e endogamia. “O sucesso do pomar depende disso. O produtor do DF tem alta produtividade no maracujá porque usa tecnologia, que começa na muda e na semente. Não podemos economizar nisso”, afirmou, também destacando a necessidade de análise foliar, de adubação de cobertura, do uso da caderneta de campo e, principalmente, da polinização manual, que proporciona elevada relação custo-benefício.
Entre as experiências de sucesso encontradas n a Expedição Safra Brasília – Maracujá, Faleiro apontou o cultivo do maracujá em estufa, que traz vantagens como maior produtividade, homogeneidade e qualidade da produção, possibilidade de produção na entressafra e controle de doenças; sistema de rotação com o pimentão, que oferece maior rentabilidade e possibilita que meeiros se tornem proprietários; casos de reversão do êxodo rural com a inserção do produtor em mercados e melhoria da qualidade de vida; sistemas orgânicos em assentamentos de reforma agrária; cultivos em parceria com produtores de grãos; e o cultivo em espaçamento adensado, que otimiza o uso de pequenas áreas e garante alta produtividade.
Já o extensionista da Emater-DF, Geraldo Magela Gontijo, destacou os fatores de sucesso da cultura no DF, incentivada pelo órgão de extensão rural desde 1983, e os problemas mais citados nas entrevistas realizadas pela Expedição Safra Brasília - Maracujá, entre eles a falta de mão de obra e a dificuldade de compreensão do Manejo Integrado de Pragas. Em seguida, comentou sobre o manejo de pragas e doenças na cultura do maracujá e as tendências observadas, como os cultivos mais tecnificados, a melhoria na qualidade, a rastreabilidade da produção, o sistema de produção em estufa, agregação de valor e a produção orgânica. “Quando se une pesquisa, extensão rural e produtor, o sucesso é garantido”, comentou sobre a expedição.
Também foi palestrante o economista da Ceasa-DF João Bosco Soares Filho, que abordou o mercado de frutas no DF, apresentando dados sobre a comercialização de hortifrutigranjeiros na Ceasa-DF, como a participação da produção do DF e o comportamento dos preços dos produtos.
O evento foi finalizado com visitas a propriedades rurais no Núcleo Rural Pipiripau.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
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