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Pesquisa irá avaliar insumos bioativos para fertilização na horticultura orgânica
Foto: Ana Lucia Ferreira
N-Verde é um dos insumos que será testado em pesquisa sobre horticultura orgânica
Uma pesquisa da Embrapa Agrobiologia recém-aprovada para financiamento pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) pretende identificar novas possibilidades de fertilização na horticultura orgânica do Estado. A ideia é ampliar a utilização dos chamados insumos bioativos na horticultura orgânica, que são aqueles ricos em microrganismos benéficos ao agroecossistema, melhorando a liberação de nutrientes e aumentando sua eficácia, incrementando a biodiversidade, promovendo o crescimento vegetal e reduzindo os patógenos no cultivo de hortaliças e frutíferas.
Uma das estratégias do projeto é incorporar a adubação verde de forma rotineira em sistemas biodiversos e, para isso, serão desenvolvidos estudos com diferentes modalidades da técnica, várias formas de manejo da biomassa e espécies distintas. Em complementação, serão propostos e avaliados diferentes adubos orgânicos, como os fermentados do tipo bokashi e compostos aeróbicos, além da compostagem para aproveitamento racional dos resíduos localmente disponíveis. “O foco será direcionado no sentido de desenvolvermos fertilizantes cujas matérias-primas sejam de origem vegetal”, afirma o pesquisador José Guilherme Guerra, líder do projeto.
Outra possibilidade é a utilização do chamado N-Verde, uma tecnologia que está em desenvolvimento na Embrapa Agrobiologia e que transforma a biomassa aérea (parte da planta que fica para fora da terra) de determinadas espécies de leguminosas fixadoras de nitrogênio em um fertilizante orgânico vegetal rico em nitrogênio e de fácil aplicação. “A peletização da biomassa promove o aproveitamento máximo sem desperdício dos nutrientes, reduzindo o espaço de armazenamento e o custo de aplicação no campo, permitindo sua distribuição com uso de semeadeiras”, informa o pesquisador.
Paralelamente, outros recursos e técnicas serão avaliados, como a compostagem de resíduos de hortaliças cultivadas em sistemas agrobiodiversos para obtenção de adubos e substratos orgânicos, o manejo para produção e armazenamento on-farm de sementes de adubos verdes de forma a aumentar sua disponibilidade e o manejo orgânico diversificado de hortaliças baseado na fertilização com composto fermentado de origem vegetal e na adubação verde com leguminosas herbáceas. Também será avaliado o uso de fertilizante orgânico obtido por meio de fermentação anaeróbica de fontes de nitrogênio de origem animal na cultura do abacaxi irrigado, bem como a prática de sucessão de cultivo entre adubo verde e hortaliças sob sistema de plantio direto, sem o uso de herbicidas.
Outro aspecto da proposta é a avaliação do impacto desses processos e insumos sobre a composição dos microrganismos do solo. “A identificação do microbioma é fundamental para determinar se os serviços ecológicos prestados pelos microrganismos são operantes ou se há demanda por intervenção que viabilize a sua recuperação”, explica. Nesse sentido, será criado um banco de dados sobre o microbioma de sistemas orgânicos biodiversos, associado à capacidade produtiva do solo na produção de hortaliças e frutíferas. Além disso, será feita a caracterização das comunidades microbianas associadas aos processos e insumos, visando à preservação da agrobiodiversidade e à otimização dos processos de produção e desenvolvimento de novos insumos bioativos.
A horticultura no Rio de Janeiro
Dados da Embrapa indicam que, historicamente, o Estado do Rio de Janeiro possui o maior nível de consumo de hortaliças do Brasil, alcançando até 50 quilos por ano por pessoa. Geralmente o cultivo é fruto da agricultura familiar, em pequenos estabelecimentos rurais, que muitas vezes utilizam tecnologias industrializadas, fertilizantes sintéticos concentrados e agrotóxicos. Essas práticas não são admissíveis na agricultura orgânica, podendo oferecer riscos à sanidade dos produtos, à qualidade de vida dos produtores e à conservação da biodiversidade.
Assim, um dos grandes desafios para a pesquisa em agricultura orgânica é justamente o desenvolvimento e uso de insumos apropriados, já que a Lei 10.831, de 2003, que regulamenta a agricultura orgânica no Brasil, proíbe o uso de nitrogênio proveniente de fonte sintética. “Nesse tipo de sistema de produção faz-se necessário o desenvolvimento de tecnologias para o aproveitamento racional de outras fontes de nutrientes, bem como a promoção do sinergismo entre adubação orgânica e adubação verde, impulsionado pelos organismos edáficos (do solo) e pelos microrganismos”, explica José Guillherme.
A expectativa, a partir das avaliações e análises propostas nesta pesquisa, é de que sejam desenvolvidas práticas agrícolas que possam contribuir para a expansão e o fortalecimento da agricultura orgânica e agroecológica no Estado. “Resumindo, esperamos desenvolver um plano de manejo para produção e conservação on-farm de sementes de leguminosas usadas como adubos verdes, potencializar a adubação verde com plantio simultâneo com hortaliças para reduzir o custo de produção, estimular a prática da adubação verde com leguminosas arbóreas para suprir a demanda de nitrogênio das frutíferas e planejar o manejo da adubação verde em sistema de plantio direto sem uso de herbicida”, sinaliza o pesquisador.
Liliane Bello (MTb 01766/GO)
Embrapa Agrobiologia
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