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Pesquisa apresenta panorama global da produção de alimentos orgânicos em países de cinco continentes
Pesquisa feita por cientistas da Embrapa e publicada nos Anais do 59º Congresso Sober (Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural), realizado em agosto de 2021, buscou compreender a globalização da agricultura orgânica a partir de uma perspectiva comparativa e constatou que apesar do incremento no setor, comparativamente a produção brasileira em termos de toneladas por hectares se situa ainda bem abaixo da média dos países estudados, exceto, no caso do açúcar orgânico que ocupa posição de destaque na cena internacional.
O estudo selecionou 14 países do mundo localizados em 5 continentes que são: África – Quênia, Tanzânia, Gana e Ruanda; Ásia – China e Índia; Europa – Itália, Espanha e Dinamarca; América Latina – Brasil, México e Chile; América do Norte – Estados Unidos e Oceania – Austrália.
Conforme a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente e líder da pesquisa, Lucimar Santiago de Abreu, “a agricultura orgânica se encontra em grande estágio de desenvolvimento, contando com 72,9 milhões de hectares de área cultivada, tendo alcançado em 2019 um mercado de 106,4 bilhões de euros, sendo os maiores níveis já registrados”, diz.
“Além disso, está presente em 187 países, com 3.1 milhões de produtores em todo o mundo em 2019”. Dentre os países mais representativos nesse mercado encontram-se os Estados Unidos, que em 2019 movimentou 44,7 milhões de euros e a Europa, com 41,4 milhões de euros. Já no Brasil, o segmento movimentou R$ 5,8 bilhões em 2020, valor 30% superior ao de 2019, segundo a Associação de Promoção da Produção Orgânica e Sustentável (Organis).
Para a cadeia produtiva de produtos orgânicos é importante destacar quais são os principais produtos produzidos no Brasil. De acordo com dados preliminares do Censo Agropecuário de 2017, dos 68.716 estabelecimentos agropecuários certificados para a produção orgânica, 39.643 se dedicavam à produção vegetal; 18.215 à produção animal e 10.858 estabelecimentos tinham produção vegetal e animal orgânicos. Neste sentido, dados divulgados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em seu Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos, que registra produtores orgânicos certificados – pessoas físicas ou jurídicas – constam, em setembro de 2021, 25.097 produtores, distribuídos em todas as regiões brasileiras.
O pesquisador da Embrapa Cerrados João Paulo Soares destaca que, “com relação à área agrícola ocupada pela produção orgânica, dados do FiBL/Ifoam estimam cerca de 1,3 milhão de hectares, ou cerca de 0,5% da área agricultável brasileira. Além desta área, explica Soares, calcula-se que há ainda 1,7 milhão de terras consideradas orgânicas destinadas à apicultura e extrativismo; e dedicadas à produção de castanhas, açaí, palmito, plantas medicinais e aromáticas.
A produção orgânica brasileira dos principais produtos de origem animal era de 550 mil cabeças de frango, 720 mil dúzias de ovos, 6,8 milhões de litros de leite e 13,8 mil cabeças de gado abatidas ao ano em 2012. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com relação à produção apícola, o Brasil é apontado como o detentor do maior número de colmeias orgânicas do mundo, com quase 900 mil unidades.
Hortaliças
Ao se analisar a cadeia de hortaliças, observou-se que a produção da China (3.071.587 toneladas) é 11,5 vezes maior que a do Brasil (267,385 toneladas), a da Espanha (1.146.027,6 toneladas é 4,3 vezes maior que a do Brasil. Já a produção da Itália (1.698.548,7 toneladas), da Índia (1.295.795,2 toneladas) são 6,4 e 4,8% vezes maiores que a do Brasil, respectivamente. Por outro lado, a produção do Brasil é 3,2 vezes maior que a do México (83.050 toneladas) e 1,3 vezes maior que a da Dinamarca (209.683,3 toneladas).
Frutas tropicais
Ao avaliar a produção orgânica de frutas tropicais da China (732.988,8 toneladas), é 10,2 vezes maior que a do Brasil (71.728 toneladas); a da Índia (603.197,8 toneladas) é 8,4 vezes maior que a do Brasil, mostrando as maiores diferenças em produção na cadeia de frutas tropicais. Já a produção da Espanha (196.836,5 toneladas) e da Itália (181.236 toneladas) são menores que dos outros países citados, sendo 2,7 e 2,5 vezes maiores que a do Brasil, respectivamente. Contudo, a produção do Brasil é 1,1 vezes maior que a do México (63.965,9 toneladas) e 3,5 vezes maior que a dos Estados Unidos (20.553,3 toneladas).
Frutas de clima temperado
Quando foi comparada a produção orgânica de frutas de clima temperado da Itália e da Espanha, estas são 163,3 e 83,7 vezes maior que a do Brasil, respectivamente. Porém, a produção da China (812.895,3 toneladas) é 80,7 vezes maior que a do Brasil. Já a produção da Índia (662.753 toneladas) é 65,8 vezes maior que a do Brasil e a dos Estados Unidos (94.615,7 toneladas) é 9,4 vezes maior, sendo a produção da Dinamarca (13.912 toneladas) apenas 1,4 vezes maior que a do Brasil.
Citricultura
Para a cadeia da citricultura orgânica observa-se que a produção da Espanha (380.951,6 toneladas) e da Itália (289.366,7 toneladas) são 5,2 e 4,0 vezes maiores que a do Brasil (72.652,9 toneladas), respectivamente, e ainda a da Índia (100.110 toneladas) 1,4 vezes maior que a do Brasil. A produção do Brasil é 1,9 e 1,7 vezes maior que a dos Estados Unidos (38.139,9 toneladas) e a do México (42.947,5 toneladas). Neste caso, a produção brasileira está bem próxima da média.
Café orgânico
Para o café em 2006 a exportação mundial foi de 385.971 sacas; a Etiópia, na época a maior exportadora, embarcou 113 mil sacas; o Brasil exportou 7.453 sacas (OIC, 2009. Citado por Leão, 2010). Em 2007/08 foram exportadas 613.683 sacas no mundo. Os principais países importadores foram os EUA e a Alemanha, que importaram 57,75 % da produção mundial de café orgânico. A Suécia, terceira maior importadora, importou 7,35 % da produção mundial de C. O. (FAO, 2010, citado por Leão, 2010). Em 2006 o café orgânico foi vendido com 40% de preço prêmio sobre o café convencional (FAO, 2009, citado por Leão, 2010). Faltam dados recentes detalhados sobre esse importante produto da pauta de exportação.
Açúcar orgânico
Em relação ao açúcar orgânico faltam dados completos da produção e da exportação. Contudo, a Native, maior produtora com 87 mil toneladas em 2018 e, como no mercado convencional, a maior parte, neste caso, 64 mil toneladas, segue para o exterior. Isso garante à empresa participação de 31% no consumo global, de 280 mil toneladas. Segundo a FG/A, apenas duas outras usinas entraram e ficaram neste segmento: Jales Machado, com 70 mil toneladas e quase 20% do mercado global, e Goiasa, com 35 mil a 40 mil toneladas e participação estimada de 10%. Ou seja, o Brasil detém algo em torno de 61% do mercado global de açúcar orgânico, sendo que o orgânico representa só 0,16% do mercado mundial de 178 milhões de toneladas de açúcar de cana e beterraba. Os importadores são 64 países de diferentes continentes, especialmente da União Europeia (EU).
Orgânicos de origem animal
A produção brasileira dos principais produtos orgânicos de origem animal, em 2011 era de 550 mil cabeças de frango, 720 mil dúzias de ovos, 6,8 milhões de litros de leite e 13,8 mil cabeças de gado abatidas ao ano em 2012 que representam produções muito abaixo da Europa e Estados Unidos. Ao se avaliar, por exemplo, a produção global de leite orgânico constata-se que é de 7.1 bilhões de litros, sendo o maior produtor os Estados Unidos, seguido pela Alemanha, Dinamarca, Itália, Suíça e Nova Zelândia.
A contribuição da produção de ovos orgânicos difere consideravelmente entre os estados membros da EU, que aumentou 12,2% na última década. A Dinamarca tem a maior participação, seguida pela Áustria e pelo Reino Unido. Os principais países na produção de ovos com casca são a Espanha, a França e a Itália.
De acordo com a International Egg Commission, galinhas criadas ao ar livre e em sistemas de alojamento orgânico representaram 0,4% do total nos países da América do Norte e Latina, 23,8% do total nos países asiáticos e 14,6 % do total nos países europeus.
Com relação a produção orgânica animal entre 2008 e 2017, o maior aumento foi em aves domésticas (mais de 100%), o que pode ser parcialmente atribuído à alta demanda por ovos. No entanto, bovinos de corte e leite também cresceram substancialmente naquela década (+65%), assim como ovinos (+74%) e suínos (+48%). Para bovinos (4,4 milhões de cabeças na Europa), os maiores números são encontrados na Alemanha, Franca e Áustria. Olhando para os estoques de suínos (um milhão de cabeças), a Alemanha, a Dinamarca e a França têm os números mais altos.
Contudo, sistemas voltados para a produção de alimentos para o mercado interno brasileiro, vêm sendo construídos cada vez mais, em redes territoriais alternativas de produção e consumo, em regiões onde à questão alimentar é protagonizada por agricultores familiares, agentes de desenvolvimento e consumidores, especialmente em regiões próximas de grandes metrópoles.
A conclusão da pesquisa mostra que apesar do incremento da produção orgânica no mundo, comparativamente a produção brasileira em termos de toneladas por hectares se situa ainda bem abaixo da média dos países estudados, exceto, no caso do açúcar orgânico que ocupa posição de destaque na cena internacional, portanto, há potencial para o desenvolvimento dos sistemas orgânicos brasileiros e oportunidades para ocupar espaço no mercado internacional.
Um dos problemas enfrentados para a realização da pesquisa é a falta de informações estatísticas sistematizadas sobre a produção de orgânicos no Brasil.
Para além do panorama comparativo geral do sistema global agroalimentar orgânico, torna se importante dar continuidade à pesquisa e investigar as concepções, as práticas e os atores chaves institucionais que compõem e coordenam o crescente sistema global de produção e distribuição de alimentos orgânicos.
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Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)
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