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02/09/24 |   Mudanças climáticas  Agricultura de Baixo Carbono

Novas evidências de que biocarvão de eucalipto pode melhorar a qualidade do solo

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Foto: Isabella Lucon

Isabella Lucon - Aplicação do biocarvão

Aplicação do biocarvão

Em um estudo recente conduzido no Centro Experimental Central, do Instituto Agronômico (IAC), em Campinas (SP), pesquisadores do IAC, da Embrapa Meio Ambiente e da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul investigaram os efeitos do biochar (biocarvão) de eucalipto sobre solos argilosos em ambiente tropical. O estudo, que se estendeu por 28 meses, trouxe novas evidências sobre a sua eficácia na melhoria das condições de solos altamente intemperizados, caracterizados pela presença significativa de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio.

De acordo com Isabella Lucon, professora da Faculdade de Agronegócios de Holambra (Faagroh), o solo do estudo, típico de regiões tropicais, é naturalmente desafiador para a agricultura devido à sua baixa fertilidade e alta acidez. “No entanto, a aplicação de biochar se mostrou promissora na melhoria de propriedades físicas e químicas do solo”, observa.

O biochar, produzido a partir de resíduos de eucalipto por meio de pirólise, foi incorporado ao solo e seus efeitos monitorados ao longo de dois ciclos de cultivo de milho, nas safras de 2016/2017 e 2017/2018.

Ruan Carnier, bolsista na Embrapa Meio Ambiente , explica que os resultados do estudo indicaram melhorias significativas na fertilidade do solo. “A aplicação do biochar aumentou a disponibilidade de nutrientes essenciais, como fósforo, cálcio e potássio, na camada de solo de 5 cm a 10 cm de profundidade. Esses elementos são fundamentais para o crescimento saudável das plantas, e seu aumento pode contribuir para aumentar a produtividade agrícola em solos previamente deficientes”, destaca Carnier.

Além das melhorias químicas, o biochar também influenciou positivamente as propriedades físicas do solo. A densidade aparente – uma medida que indica a compactação do solo – diminuiu, enquanto a porosidade total aumentou, enfatizou Cristiano Andrade, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente. Essas mudanças são benéficas para a estrutura do solo, facilitando a penetração das raízes e a movimentação de água e ar, que são elementos essenciais para a saúde das plantas.


Mais retenção de água no solo

Outro aspecto positivo observado foi o aumento da capacidade do solo em reter água. Para cada tonelada de biochar aplicada, houve um incremento de 500 litros de água disponível por hectare. Essa retenção hídrica pode ser crucial em períodos de estiagem, especialmente para culturas com menor demanda hídrica, como algumas culturas de inverno.

Apesar dos benefícios, o estudo também revelou limitações importantes na aplicação do biochar em solos argilosos de regiões tropicais. Embora tenha havido melhorias na porosidade e na retenção de água, a resistência do solo à penetração – um indicador da facilidade com que as raízes podem crescer – não foi significativamente afetada. 

Outro ponto crítico levantado pelos pesquisadores é a questão do custo-benefício. Para que os efeitos do biochar sejam mais expressivos em solos argilosos, pode ser necessário aplicar doses maiores do material, o que pode elevar os custos. Além disso, o estudo não detectou mudanças significativas nos níveis de micronutrientes ou no carbono orgânico do solo, o que poderia limitar os benefícios a longo prazo e impactar o retorno sobre o investimento para os agricultores.

 

Implicações e futuras pesquisas

Este estudo destaca a importância de considerar as características específicas do solo e do ambiente ao avaliar a eficácia do carvão vegetal. Em regiões tropicais com solos argilosos, o uso de biochar pode trazer benefícios, mas esses são mais discretos em comparação a outros tipos de solo. Portanto, antes de recomendar a sua aplicação em larga escala, é crucial realizar análises econômicas e experimentos de longo prazo que levem em conta as particularidades de cada região.

Os pesquisadores enfatizam que, apesar das limitações, o biochar continua sendo uma ferramenta promissora para a melhoria do solo, especialmente em áreas onde a sustentabilidade agrícola é uma preocupação. No entanto, eles apontam para a necessidade de mais pesquisas em campo para entender melhor as interações do produto com diferentes tipos de solo e condições climáticas.

Os pesquisadores destacam que o biochar de eucalipto, quando aplicado em solos argilosos tropicais, mostrou-se eficaz em melhorar a fertilidade e algumas propriedades físicas do solo. As futuras pesquisas deverão se concentrar em otimizar as doses e métodos de aplicação para maximizar os benefícios, enquanto se avaliam os custos e a viabilidade econômica para os agricultores.

Para ler o trabalho completo, clique aqui 

Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente

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