Novilhas em sistemas de integração lavoura-pecuária ganharam mais peso e tiveram maior espessura de gordura da garupa. Em sistemas silvipastoris, novilhas apresentaram maior concentração sérica do fator de crescimento IGF-I. Conforto térmico (proporcionado pela sombra) e disponibilidade de pastagem de melhor qualidade foram determinantes para melhoria nos indicadores de precocidade sexual. Pesquisa foi realizada em experimento de longa duração na Embrapa Agrossilvipastoril, em parceria com as associações de criadores Acrimat e Acrinorte. Bezerros nascidos em sistemas integrados apresentaram cerca de dez quilos a mais, em média, em comparação aos filhotes de vacas que ficaram somente em pastagem. Sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) podem acelerar a precocidade sexual de novilhas nelore. A conclusão é de uma pesquisa realizada em Sinop (MT), pela Embrapa Agrossilvipastoril, e traz contribuições importantes para pecuaristas que trabalham com sistema de cria. De acordo com o estudo, coordenado pelo pesquisador Luciano Lopes, nos sistemas ILPF, as melhores condições térmicas geradas pela sombra das árvores influenciaram a concentração sérica do fator de crescimento IGF-I nas novilhas. Já os sistemas ILP, com pastagem precedida por dois anos de lavouras de soja, resultaram em maior ganho de peso e influenciaram na espessura da gordura da garupa. Todas essas características são indicadores de precocidade sexual em bovinos. “Quanto mais rápido o animal entrar em produção, melhor. É interessante a novilha parir o quanto antes e manter um parto por ano após a maturidade. Quanto mais cedo inicia esse ciclo, mais bezerros ela pode gerar. A precocidade depende de alguns fatores genéticos, da raça, mas o ambiente e a pastagem também podem contribuir para acelerar isso”, explica Lopes. A pesquisa foi realizada em um experimento de longa duração instalado na Embrapa Agrossilvipastoril e contou com parceria com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), que financiou parte das despesas de custeio e de mão de obra, e com a Associação dos Criadores do Norte de Mato Grosso (Acrinorte), que viabilizou os animais. Os dados coletados fizeram parte da dissertação de mestrado da médica-veterinária Kássila Fernanda Bertogna, da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Sinop (UFMT). Para a pesquisa, foram usadas 48 novilhas nelores, de 14 a 16 meses de idade, cedidas por quatro produtores associados à Acrinorte. Elas foram divididas em quatro tratamentos. Um com pecuária convencional, outro em sistema ILP com dois anos de lavoura e dois anos de pastagem, e dois sistemas silvipastoris, sendo um com linhas simples de eucaliptos (clone H13) distantes 37m entre si e outro com linhas triplas de eucaliptos com renque de 30 metros. Em todas as áreas foi usada a forrageira Brachiaria brizantha cv. Marandu e o manejo e adubação do pasto foi o mesmo. De acordo com o pesquisador, ao mostrar que as novilhas da raça nelore apresentam melhores indicadores de precocidade sexual quando criadas em um sistema integrado, a pesquisa traz uma nova perspectiva de manejo nas propriedades de cria, sobretudo aquelas localizadas em regiões mais quentes do Brasil. “É interessante que o produtor tenha em sua fazenda configurações diferentes de sistemas e que possa manejar categorias diferentes, ou subcategorias. Após a desmama, ILP é mais indicada para ganho de peso. Para o animal que se inicia na fase de reprodução, o sistema silvipastoril parece ser mais interessante, estimulando melhor a parte hormonal”, recomenda o pesquisador. Bezerros são maiores em sistemas integrados Outro levantamento feito na pesquisa foi o peso dos bezerros no nascimento. De acordo com os dados coletados, os bezerros nascidos das novilhas dos sistemas silvipastoris e da integração lavoura-pecuária tiveram peso médio sem diferença estatística, entre 34,5 e 35,8kg. Já os bezerros das vacas que ficaram na pastagem em sistema exclusivo nasceram menores, com peso médio de 25,4kg. Lopes explica que não é possível atribuir o resultado a apenas um fator, como o menor peso das vacas na pastagem exclusiva. Para ele, a soma dos fatores climáticos, fisiológicos e corporais foi responsável pela diferença. O menor peso dos bezerros ao nascerem vai se refletir no peso ao desmame e no tempo de engorda. Entendendo os resultados A precocidade sexual de uma novilha depende de fatores genéticos, da raça e da nutrição. O peso do animal é um dos principais indicadores para dar início à ciclagem e ovulação. A concentração hormonal também é outro ponto relevante. Dessa forma, nessa pesquisa foram avaliados o ganho de peso diário, a taxa de gordura na garupa (P8), a concentração sérica de IGF-I e o diâmetro folicular. Na avaliação do diâmetro folicular não houve diferença entre os quatro tratamentos. No ganho de peso e taxa de gordura na garupa, o sistema de integração lavoura-pecuária se sobressaiu. O ganho de peso diário na ILP foi de 482g, contra 340g da ILPF com renques simples, 303g da ILPF com renques triplos e 288g da pecuária exclusiva. Já a taxa de gordura na garupa ficou em 6,53mm na ILPF, contra 5,79mm na ILPFt, 5,51mm na ILPFs e 4,8mm na pecuária exclusiva. Devido aos altos custos das análises hormonais, a pesquisa avaliou apenas o fator de crescimento IGF-I. Nesse caso, a ILPF com linhas tripas e maior disponibilidade de sombra para as novilhas obteve maior índice, com 555 ng/ml. O sistema silvipastoril com linhas simples, ainda com presença de sombra, teve índice médio de 498 ng/ml. Os dois sistemas sem árvores ficaram estatisticamente abaixo, com 484ng/ml na ILP e 464ng/ml na pecuária exclusiva. De acordo com os pesquisadores, a diferença na concentração de IGF-I pode ser explicada pelas condições térmicas em cada tratamento. Mensurações de temperatura e umidade feitas em globo negro mostraram que, de maneira geral, nenhum dos sistemas apresentou condições ideais para o desenvolvimento dos animais, devido ao calor na região no período de avaliação (abril a novembro). Porém, nos tratamentos com árvore as condições eram menos severas. Da mesma forma, a carga térmica radiante, outro indicador de conforto térmico, também mostrou melhores condições para as novilhas nos sistemas com presença de árvores. “Com base na literatura, sabemos que o conforto térmico traz melhor resposta hormonal. Os resultados que tivemos sobre a concentração de IGF-I corroboram isso. Sendo assim, ter um sistema com árvores pode beneficiar as novilhas antes da inseminação e nos primeiros dias após a inseminação”, afirma Luciano Lopes. Outros resultados Instalada há dez anos, essa base experimental tem sido objeto de diferentes estudos de pesquisadores da Embrapa e de instituições parceiras. Na parte animal, primeiramente foram desenvolvidas pesquisas sobre ganho de peso em machos da raça nelore, mostrando que os sistemas integrados aumentam a produtividade, porém, a diferença de ganho fica menor na medida em que se aumentam a entrada de nutrientes na pastagem e a suplementação da alimentação. Também já foram desenvolvidas pesquisas sobre a sanidade animal e forragicultura. Novos resultados sairão nos próximos meses com indicadores sobre resposta imune de novilhas nelore em diferentes sistemas e sobre a ocorrência de verminoses. Além dos estudos com animais, pesquisadores de diferentes especialidades avaliam desempenho da lavoura, a integração entre os componentes, a dinâmica de água e solo, ocorrência de pragas, emissões de gases de efeito estufa, microbiologia do solo, entre outros. Saiba mais: ILPF resulta em maior ganho de peso na pecuária de corte Sombra na ILPF não aumenta incidência de verminoses em gado de corte Sistemas ILPF têm menores perdas de solo, água e nutrientes Lavoura pode manter produtividade mesmo com árvores crescidas em sistemas ILPF Pesquisa mostra interferência das árvores na lavoura em sistemas ILPF Sistemas ILPF alteram a dinâmica de ocorrência de pragas Eucalipto cresce mais em sistemas ILPF comparado ao plantio em monocultura Biodiversidade de microrganismos benéficos é maior em sistemas integrados de produção
Photo: Gabriel Faria
Melhores condições térmicas geradas pela sombra das árvores influenciaram o crescimento nas novilhas
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Novilhas em sistemas de integração lavoura-pecuária ganharam mais peso e tiveram maior espessura de gordura da garupa. -
Em sistemas silvipastoris, novilhas apresentaram maior concentração sérica do fator de crescimento IGF-I. -
Conforto térmico (proporcionado pela sombra) e disponibilidade de pastagem de melhor qualidade foram determinantes para melhoria nos indicadores de precocidade sexual. -
Pesquisa foi realizada em experimento de longa duração na Embrapa Agrossilvipastoril, em parceria com as associações de criadores Acrimat e Acrinorte. -
Bezerros nascidos em sistemas integrados apresentaram cerca de dez quilos a mais, em média, em comparação aos filhotes de vacas que ficaram somente em pastagem. |
Sistemas de integração lavoura-pecuária (ILP) e de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) podem acelerar a precocidade sexual de novilhas nelore. A conclusão é de uma pesquisa realizada em Sinop (MT), pela Embrapa Agrossilvipastoril, e traz contribuições importantes para pecuaristas que trabalham com sistema de cria.
De acordo com o estudo, coordenado pelo pesquisador Luciano Lopes, nos sistemas ILPF, as melhores condições térmicas geradas pela sombra das árvores influenciaram a concentração sérica do fator de crescimento IGF-I nas novilhas. Já os sistemas ILP, com pastagem precedida por dois anos de lavouras de soja, resultaram em maior ganho de peso e influenciaram na espessura da gordura da garupa. Todas essas características são indicadores de precocidade sexual em bovinos.
“Quanto mais rápido o animal entrar em produção, melhor. É interessante a novilha parir o quanto antes e manter um parto por ano após a maturidade. Quanto mais cedo inicia esse ciclo, mais bezerros ela pode gerar. A precocidade depende de alguns fatores genéticos, da raça, mas o ambiente e a pastagem também podem contribuir para acelerar isso”, explica Lopes.
A pesquisa foi realizada em um experimento de longa duração instalado na Embrapa Agrossilvipastoril e contou com parceria com a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), que financiou parte das despesas de custeio e de mão de obra, e com a Associação dos Criadores do Norte de Mato Grosso (Acrinorte), que viabilizou os animais. Os dados coletados fizeram parte da dissertação de mestrado da médica-veterinária Kássila Fernanda Bertogna, da Universidade Federal de Mato Grosso, campus Sinop (UFMT).
Para a pesquisa, foram usadas 48 novilhas nelores, de 14 a 16 meses de idade, cedidas por quatro produtores associados à Acrinorte. Elas foram divididas em quatro tratamentos. Um com pecuária convencional, outro em sistema ILP com dois anos de lavoura e dois anos de pastagem, e dois sistemas silvipastoris, sendo um com linhas simples de eucaliptos (clone H13) distantes 37m entre si e outro com linhas triplas de eucaliptos com renque de 30 metros. Em todas as áreas foi usada a forrageira Brachiaria brizantha cv. Marandu e o manejo e adubação do pasto foi o mesmo.
De acordo com o pesquisador, ao mostrar que as novilhas da raça nelore apresentam melhores indicadores de precocidade sexual quando criadas em um sistema integrado, a pesquisa traz uma nova perspectiva de manejo nas propriedades de cria, sobretudo aquelas localizadas em regiões mais quentes do Brasil.
“É interessante que o produtor tenha em sua fazenda configurações diferentes de sistemas e que possa manejar categorias diferentes, ou subcategorias. Após a desmama, ILP é mais indicada para ganho de peso. Para o animal que se inicia na fase de reprodução, o sistema silvipastoril parece ser mais interessante, estimulando melhor a parte hormonal”, recomenda o pesquisador.
Bezerros são maiores em sistemas integrados
Outro levantamento feito na pesquisa foi o peso dos bezerros no nascimento. De acordo com os dados coletados, os bezerros nascidos das novilhas dos sistemas silvipastoris e da integração lavoura-pecuária tiveram peso médio sem diferença estatística, entre 34,5 e 35,8kg. Já os bezerros das vacas que ficaram na pastagem em sistema exclusivo nasceram menores, com peso médio de 25,4kg.
Lopes explica que não é possível atribuir o resultado a apenas um fator, como o menor peso das vacas na pastagem exclusiva. Para ele, a soma dos fatores climáticos, fisiológicos e corporais foi responsável pela diferença. O menor peso dos bezerros ao nascerem vai se refletir no peso ao desmame e no tempo de engorda.
Entendendo os resultados
A precocidade sexual de uma novilha depende de fatores genéticos, da raça e da nutrição. O peso do animal é um dos principais indicadores para dar início à ciclagem e ovulação. A concentração hormonal também é outro ponto relevante. Dessa forma, nessa pesquisa foram avaliados o ganho de peso diário, a taxa de gordura na garupa (P8), a concentração sérica de IGF-I e o diâmetro folicular.
Na avaliação do diâmetro folicular não houve diferença entre os quatro tratamentos. No ganho de peso e taxa de gordura na garupa, o sistema de integração lavoura-pecuária se sobressaiu. O ganho de peso diário na ILP foi de 482g, contra 340g da ILPF com renques simples, 303g da ILPF com renques triplos e 288g da pecuária exclusiva. Já a taxa de gordura na garupa ficou em 6,53mm na ILPF, contra 5,79mm na ILPFt, 5,51mm na ILPFs e 4,8mm na pecuária exclusiva.
Devido aos altos custos das análises hormonais, a pesquisa avaliou apenas o fator de crescimento IGF-I. Nesse caso, a ILPF com linhas tripas e maior disponibilidade de sombra para as novilhas obteve maior índice, com 555 ng/ml. O sistema silvipastoril com linhas simples, ainda com presença de sombra, teve índice médio de 498 ng/ml. Os dois sistemas sem árvores ficaram estatisticamente abaixo, com 484ng/ml na ILP e 464ng/ml na pecuária exclusiva.
De acordo com os pesquisadores, a diferença na concentração de IGF-I pode ser explicada pelas condições térmicas em cada tratamento. Mensurações de temperatura e umidade feitas em globo negro mostraram que, de maneira geral, nenhum dos sistemas apresentou condições ideais para o desenvolvimento dos animais, devido ao calor na região no período de avaliação (abril a novembro). Porém, nos tratamentos com árvore as condições eram menos severas. Da mesma forma, a carga térmica radiante, outro indicador de conforto térmico, também mostrou melhores condições para as novilhas nos sistemas com presença de árvores.
“Com base na literatura, sabemos que o conforto térmico traz melhor resposta hormonal. Os resultados que tivemos sobre a concentração de IGF-I corroboram isso. Sendo assim, ter um sistema com árvores pode beneficiar as novilhas antes da inseminação e nos primeiros dias após a inseminação”, afirma Luciano Lopes.
Outros resultados Instalada há dez anos, essa base experimental tem sido objeto de diferentes estudos de pesquisadores da Embrapa e de instituições parceiras. Na parte animal, primeiramente foram desenvolvidas pesquisas sobre ganho de peso em machos da raça nelore, mostrando que os sistemas integrados aumentam a produtividade, porém, a diferença de ganho fica menor na medida em que se aumentam a entrada de nutrientes na pastagem e a suplementação da alimentação. Também já foram desenvolvidas pesquisas sobre a sanidade animal e forragicultura. Novos resultados sairão nos próximos meses com indicadores sobre resposta imune de novilhas nelore em diferentes sistemas e sobre a ocorrência de verminoses. Além dos estudos com animais, pesquisadores de diferentes especialidades avaliam desempenho da lavoura, a integração entre os componentes, a dinâmica de água e solo, ocorrência de pragas, emissões de gases de efeito estufa, microbiologia do solo, entre outros. Saiba mais: ILPF resulta em maior ganho de peso na pecuária de corte Sombra na ILPF não aumenta incidência de verminoses em gado de corte Sistemas ILPF têm menores perdas de solo, água e nutrientes Lavoura pode manter produtividade mesmo com árvores crescidas em sistemas ILPF Pesquisa mostra interferência das árvores na lavoura em sistemas ILPF Sistemas ILPF alteram a dinâmica de ocorrência de pragas Eucalipto cresce mais em sistemas ILPF comparado ao plantio em monocultura Biodiversidade de microrganismos benéficos é maior em sistemas integrados de produção |
Gabriel Faria (MTb 15.624/MG)
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