A Região Noroeste do Rio Grande do Sul, hoje uma das maiores produtoras de leite do Brasil, apresenta um contexto agrário de colônias novas, com a predominância de agricultores familiares, que tem no leite uma forma mais estável e segura de renda. Existe, no entanto, uma preocupação grande com relação à reprodução dessas unidades e ao êxodo rural. Podem-se constatar problemas sociais, relativos à saúde da família e à sucessão rural, e também uma pressão externa em função do contexto econômico-produtivo circundante. Observa-se que muitos agricultores estão intensificando a produção de leite, introduzindo determinadas práticas agropecuárias com o único objetivo de alcançar a máxima produtividade possível, distanciando-se de um modelo mais sustentável de produção. É evidente a dificuldade dos agricultores em avaliar as repercussões dessas práticas em médio e longo prazo no sistema de produção. De uma forma geral, pode-se considerar que o objetivo das pesquisas e da geração de tecnologias tem sido a maximização dos rendimentos físicos e econômicos, contrastando em certa medida com os multiobjetivos que os agricultores, principalmente os familiares, estabelecem em suas unidades produtivas, e que não podem ser atendidos a partir de um único foco no rendimento físico e na renda. O objetivo geral deste projeto é desenvolver instrumentos para avaliação da sustentabilidade em sistemas de produção de base familiar na Região Noroeste do Rio grande do Sul. A metodologia orientadora de todo o trabalho será a “Pesquisa-Desenvolvimento”, que propõe uma nova abordagem para tratar do desenvolvimento agrícola, considerando a diversidade das condições e modalidades de exploração do meio pelas comunidades rurais, a estreita relação existente entre as mudanças sociais e econômicas e o reconhecimento de que, num processo de desenvolvimento, é essencial a adesão dos agricultores, sua participação na formulação, execução e avaliação dos projetos. O projeto será executado no âmbito do Programa Rede Leite, que já tem uma história reconhecida de atuação junto à agricultura familiar na região, e dispõe de capital social e estrutura operacional que possibilitam e favorecem o desenvolvimento das atividades propostas. Pretende-se primeiramente definir parâmetros relativos às diferentes dimensões dos sistemas de produção, social, ambiental, econômica e produtiva, e, a partir daí, construir participativamente indicadores de sustentabilidade, que possam subsidiar a modelagem dos instrumentos, os quais devem se apropriar ao uso de pesquisadores, extensionistas, e dos próprios agricultores. Todo esse processo deverá proporcionar um aprendizado individual e coletivo, gerando um “novo olhar” sobre a realidade, a partir da visão dos diferentes atores. Os resultados terão uma repercussão positiva quanto ao empoderamento e autonomia dos agricultores em planejar seu trabalho e tomar as decisões que repercutem em seus projetos de vida. Além disso, informações geradas a partir do uso dos instrumentos poderão se constituir em ferramentas nas mãos de extensionistas, pesquisadores e gestores públicos, permitindo analisar a realidade da agricultura familiar em um determinado tempo e espaço geográfico, e reorientar ações e projetos de desenvolvimento. O projeto envolve a participação das Embrapas Pecuária Sul e Clima Temperado, Emater/RS, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul e Fundação Universidade de Cruz Alta.