Gerenciamento da Produção e Qualidade do Leite

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autor

Cláudio Nápolis Costa - Embrapa Gado de Leite

 

 

Os aumentos de produção e de produtividade bovinas pelo incremento da eficiência nos processos de melhoramento genético e dos controles sanitário, reprodutivo e nutricional dos animais tornam-se possíveis e facilitados pelo uso de tecnologias de informação que viabilizem maior rapidez na geração, envio e/ou tratamento dos dados zootécnicos. A transparência e rapidez do fluxo de informação contribuem para maior eficiência de todos os segmentos componentes das cadeias de produção animal, podendo resultar não só na melhoria do gerenciamento, mas também na maior segurança de qualidade do alimento.

No caso da cadeia produtiva do leite no Brasil, apesar dos avanços observados durante a década de 1990, aspectos associados à melhoria da qualidade do produto ainda representam desafios a serem superados. A indústria leiteira nacional caracteriza-se por rebanhos que diferem em tamanho, condições de manejo, condições climáticas regionais, estrutura comercial e atitude gerencial. A busca pela qualidade tem mudado o nível de tecnologia nas unidades de produção, promovendo o uso de ordenhadeira mecânica e tanques de resfriamento. A indústria mudou o perfil da coleta de leite, adotando a granelização, e, ainda que de uma forma tímida, tem estimulado a adoção do pagamento pela qualidade, com critérios baseados na qualidade (resfriamento, análise bacteriana e dos componentes) e volume da produção.

A matéria-prima ou produto comercializado origina-se da mistura (ainda na fazenda) da produção de vários animais, o que significa realizar o monitoramento do rebanho, para se garantir que o leite é seguramente produzido desde a ordenha. Isso implica o estabelecimento de um programa de qualidade a nível dos rebanhos, envolvendo a garantia de que os animais recebem alimentos adequados e seguros, a prevenção no uso de aditivos e agentes potencialmente contaminantes para o leite, e a certeza de que todas as vacas estejam saudáveis. Deve-se ainda orientar o manuseio do leite desde a ordenha até o seu processamento final de forma que os seus parâmetros de qualidade permaneçam inalterados. Nesse contexto, a implementação do sistema APPCC - Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle  em propriedades leiteiras e na indústria de laticínios significaria um avanço na garantia de qualidade dos produtos lácteos, mas a introdução dessa ferramenta de gestão em fazendas leiteiras ainda enfrenta dificuldades, no curto prazo, quanto à organização das informações e monitoramento do processo.

A melhoria da qualidade do leite cru tem sido um tema da maior relevância, refletindo a mudança de paradigma que experimenta o agronegócio do leite no Brasil. As perspectivas de avanço tecnológico são permeadas pelo envolvimento de todos os setores da cadeia, de forma colaborativa e associativa, com legítimas representações técnica, política e institucional. A própria indústria de laticínios tem manifestado interesse nas medidas de avaliação da matéria-prima, para implementar o pagamento por qualidade de leite aos produtores e expandir a área de controle sanitário dos rebanhos. A mudança de enfoque iniciada com as medidas de estímulo ao resfriamento e granelização se complementa com a adoção de controle baseado em análise laboratorial de amostras de leite, para se obterem resultados de composição físico-química e contagem de células somáticas, além das técnicas convencionais de plataforma.