Cana
Meio ambiente
Autores
Ariovaldo Luchiari Junior - Embrapa Agricultura Digital
Nilza Patrícia Ramos - Embrapa Meio Ambiente
Meio ambiente e o mundo
Os efeitos visíveis das alterações ambientais, que incluem o aquecimento global, a destruição da camada de ozônio e as perdas de espécies, têm estimulado sobremaneira questionamentos sobre a sustentabilidade das atividades humanas. Isto, por sua vez, tem pressionado os governantes a se posicionarem frente a essas discussões. Os Acordos Multilaterais Ambientais (AMAs) são um exemplo de que a atenção de líderes de diversos países está voltada para questões ambientais.
AMAs
Os AMAs, acordos internacionais resultantes de encontros realizados entre governantes de diversos países em busca de soluções dos problemas ambientais, viabilizam a melhoria do ambiente considerando os aspectos da eficiência econômica. Mais de 200 AMAs tratam de diversos assuntos relacionados à questões ambientais. A ECO 92, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, foi o grande marco na discussão dos temas ambientais em âmbito internacional. A partir dessa conferência foram criados diversos AMAs.
A agenda 21 global, elaborada durante a ECO 92 por representantes de mais de 170 países, é um instrumento de orientação para que as nações desenvolvam meios de satisfazer suas necessidades imediatas, sem, entretanto, comprometer os recursos naturais necessários às gerações futuras, ou seja, caminhem para um desenvolvimento sustentável. O Brasil está desenvolvendo o seu programa por meio de parcerias entre o governo e a sociedade.
A Agenda 21 brasileira, que busca alternativas para a utilização sustentável dos recursos naturais, sem comprometer o desenvolvimento do País, é dividida em seis temas centrais: agricultura sustentável, cidades sustentáveis, energia e comunicações, gestão dos recursos naturais, redução das desigualdades sociais e ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável.
Agricultura e meio ambiente
A agricultura é incluída entre as atividades que mais dependem dos recursos naturais, sobretudo, solo e água, e que, se mal conduzida e explorada, pode impactar negativamente o ambiente. Entre os efeitos da exploração desordenada da atividade agrícola podem ser citados o assoreamento e a contaminação dos mananciais, as mudanças de fauna e flora nativas com redução da biodiversidade, a compactação e a contaminação do solo, entre outros temas que estão sendo cada vez mais pesquisados.
A possibilidade de desenvolver a agricultura de modo mais responsável e menos imediatista vem se apresentando como uma alternativa eficaz na diminuição dos impactos negativos inerentes a qualquer atividade humana sobre o ambiente. Atualmente, a busca por boas práticas, na produção de cana-de-açúcar, tem contribuído, significativamente, para amenizar possíveis efeitos negativos. Entre essas, incluem-se: rotação de culturas, controle biológico de pragas, uso de variedades tolerantes/resistentes à doenças, plantio direto e fixação biológica de nitrogênio, que podem equilibrar o uso dos recursos naturais, propiciando menores prejuízos ao ambiente e à saúde da sociedade.
Sustentabilidade
O conceito de desenvolvimento sustentável vem sendo construído desde 1971, com o Painel de Founex, quando surgiu o conceito de ecodesenvolvimento, passando, em 1981, pela Estratégia Mundial de Conservação e pela Comissão Mundial Independente sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987, que o definiu como: “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem as suas”. Vários outros conceitos foram propostos, mas todos em sua essência contemplam a idéia de atender as próprias necessidades sem prejuízos às gerações futuras. Percebe-se, assim, que a definição de desenvolvimento sustentável envolve mudanças fundamentais na forma de pensar, viver, produzir e consumir. A sustentabilidade envolve em si aspectos econômicos, sociais e ambientais, formando um triângulo que deve ser equilibrado em seus ângulos.
Atualmente, tem sido observada a tendência de mudança de paradigmas associados aos recursos limitados, indicando uma transição clara para o desenvolvimento sustentável. Nestes termos, a sustentabilidade envolve os seguintes aspectos:
- harmonia com a natureza;
- reconhecimento do valor intrínseco dos serviços prestados pelo ecossistema;
- objetivos materiais a serviço de metas maiores de auto-realização;
- princípio da precaução;
- reconhecimento dos recursos limitados do planeta (redução e reciclagem de recursos);
- respeito ao bem-estar social.
No agronegócio verifica-se uma preocupação crescente com a sustentabilidade das cadeias produtivas, que passou, inclusive, a ser considerada parte do desenvolvimento estratégico nacional. Para uma maior adesão do setor produtivo, faz-se necessário, além da conscientização dos benefícios a longo prazo, também o diálogo aberto entre o governo e a sociedade, de forma a transmitir e solidificar a credibilidade da imagem brasileira.
Cana-de-açúcar e meio ambiente
A cultura da cana-de-açúcar é considerada uma das atividades responsáveis por desequilíbrios ecológicos no ambiente agrícola. A situação de monocultura, aliada à ocupação de extensas áreas, gerou preocupações quanto à sustentabilidade, sob o aspecto ambiental. A confirmação da veracidade desta preocupação exige, entretanto, que se identifiquem os reais impactos ambientais provocados por essa atividade agrícola. Para isso, têm sido desenvolvidas metodologias e ferramentas de avaliação de impactos, diagnóstico e monitoramento ambiental.
A certificação, mesmo não sendo um instrumento de avaliação de impactos ambientais, tem contribuído com a sustentabilidade em cadeias produtivas, pois exige a execução de um conjunto de boas práticas de produção. Sua utilização sistemática pode promover o progresso técnico e induzir o advento de mudanças positivas no impacto ecológico e nas condições de trabalho.