Cana
Cana como forragem
Autor
Rodolpho de Almeida Torres - Embrapa Gado de Leite
A cana-de-açúcar é utilizada como suplementação volumosa (alimento rico em fibra) para o gado nos períodos em que há menor produção das pastagens, principalmente em períodos de seca. A produção de cana para a alimentação animal é mais viável para o produtor por ser uma planta de fácil cultivo, exigir poucos tratos culturais, não exigir nenhuma prática de conservação de forragem, a época de colheita coincidir com o período de seca e ser bem consumida pelo gado - consumo acima de 45 quilos por animal por dia.
A formação de um canavial é uma medida econômica para garantir a oferta de forragem para o gado durante a seca. Canaviais bem formados proporcionam rendimentos médios de massa verde superiores a 120 toneladas por hectare. Quando manejados corretamente, pode-se obter oito ou mais colheitas, mantendo disponibilidade e qualidade constante durante o período de seca.
A produtividade da cana-de-açúcar é afetada por diversos fatores, dentre os quais se destacam: variedade, fertilidade do solo, adubação química e orgânica, clima, práticas culturais, controle de pragas e doenças, colheita etc. A adequação destes fatores de produção é importante para a maximização da produção e a longevidade do canavial.
Deve-se plantar variedades de alta produtividade, com elevado teor de açúcar, baixo teor de fibras e adaptadas ao solo da propriedade, ou seja, as mesmas variedades utilizadas na indústria para produção de açúcar e álcool. Outras características desejáveis nas variedades de cana-de-açúcar escolhidas são: boa capacidade de rebrota, capaz de assegurar maiores produções e persistência do canavial; ausência de florescimento, que provoca o chochamento, levando à redução na quantidade de caldo e aumento da quantidade de fibras; fácil despalha; ausência de joçal e de bordas serrilhadas nas folhas e porte ereto, para facilitar o corte e conforto do cortador de cana, pois o canavial não deve ser queimado antes do corte, além de resistência a doenças e pragas.
Em função da época da colheita, com o objetivo de fornecer aos animais cana com alto teor de açúcar durante o período da seca, o produtor tem de plantar pelo menos duas variedades de cana-de-açúcar. Plantar uma variedade de cana-de-açúcar com maturação precoce, para alimentar os animais nos primeiros meses do período seco, e outra variedade de maturação média a tardia, para alimentar os animais do meio até o final do período seco.
Com altos teores de açúcar (energia) que conferem digestibilidade acima de 60%, a cana-de-açúcar apresenta teores baixos de proteína bruta e de alguns minerais como enxofre, fósforo, zinco e manganês. Para suprir a deficiência desses minerais, basta o produtor fornecer aos animais um sal mineral de boa qualidade e, para corrigir os baixos teores de proteína, utiliza-se a uréia, que é uma fonte de nitrogênio não-protéico (NNP) para suprir com nitrogênio os microrganismos que convertem NNP em proteína microbiana. Os resultados das pesquisas recomendam a adição à uréia de uma fonte de enxofre (sulfato de amônia) na proporção de nove partes de uréia e uma parte de sulfato de amônia (50 quilos de uréia + 5,5 quilos de sulfato de amônia) para melhor resposta animal.
Utilizando um quilo da mistura de uréia com enxofre para cada 100 quilos de cana-de-açúcar picada, o teor de proteína bruta na forragem é aumentado de 2 a 3% para 10 a 12% na matéria seca. Porém, o uso de uréia para ruminantes deve ser feito de forma adequada, caso contrário poderá levar à intoxicação por amônia e até perda do animal.