Coco
Solos dos Tabuleiros Costeiros
Autor
Fernando Luis Dultra Cintra - Embrapa Tabuleiros Costeiros
A interiorização da cocoicultura como resultado da especulação imobiliária nas áreas de produção tem promovido o deslocamento gradual desta cultura, principalmente coqueiro anão, para produção de água de coco, para regiões não convencionais de cultivo do coqueiro, a exemplo dos Tabuleiros Costeiros. Este deslocamento trouxe uma série de problemas tecnológicos a serem vivenciados, sendo um dos mais graves a existência de camadas coesas subsuperficiais.
Esta Unidade de Paisagem se caracteriza por apresentar topografia plana a suave ondulada e solos profundos, porém com uma camada endurecida próximo à sua superfície. Apesar da grande potencialidade para a exploração do coqueiro, as características físicas dos solos representadas, principalmente, pelas camadas endurecidas (camadas coesas) podem causar grandes danos às plantas, seja por impedir o aprofundamento das raízes ou por dificultar a penetração de água para as camadas mais profundas do solo.
Os solos que predominam nos Tabuleiros Costeiros- Latossolos Amarelos, Argissolos Amarelos e Argissolos Acizentados são, em geral, arenosos, com baixos teores de matéria orgânica e de nutrientes, baixa capacidade de retenção de água e lençol freático muito profundo. Como agravante, as precipitações pluviais são concentradas em cinco a seis meses contínuos, gerando déficit hídrico para culturas de ciclo longo, perenes ou semiperenes, cultivadas sob regime de sequeiro. A cultura do coqueiro se enquadra nessa categoria, necessitando, dessa forma, de cuidados especiais para o fornecimento regular de água e nutrientes a fim de que seja possível sua exploração econômica.
Por apresentarem elevados níveis de adensamento, as camadas coesas dos solos dos tabuleiros interferem na forma com que a água é retida, na aeração e na resistência à penetração das raízes, e contribuem para reduzir a profundidade efetiva do solo, dificultando a circulação normal de água e ar e, se muito superficiais, deixam as plantas vulneráveis ao tombamento. Em plantios de sequeiro, este conjunto de características põe em risco a cocoicultura, promovendo danos ao crescimento e desenvolvimento das plantas.
Como os riscos para o coqueiro nos Tabuleiros Costeiros estão relacionados quase sempre ao baixo suprimento de água para as plantas, o seu cultivo tem sido viável, predominantemente, em sistemas irrigados. Além de regular o suprimento de água, a irrigação reduz a expressão do adensamento da camada coesa, a qual, na presença de umidade, se torna friável, permitindo a penetração das raízes e o aprofundamento do sistema radicular. Essa condição permite a ampliação da área de solo a ser explorada pelas raízes, melhorando o suprimento de água e nutrientes e reduzindo a vulnerabilidade das plantas a estresses hídricos.
Nas regiões produtoras onde essas camadas coexistem com longos períodos de déficit hídrico (longos períodos de baixa precipitação pluvial), a zona de solo explorada pelas raízes passa da condição excessivamente úmida durante a época chuvosa, criando longos períodos de má aeração, para a condição de baixo teor de umidade durante a estação seca, quando as raízes, em geral superficializadas, passam a conviver em ambiente com teor de água abaixo das necessidades hídricas das plantas.
O bom desempenho dos coqueirais cultivados nos Tabuleiros Costeiros está condicionado, portanto, ao conhecimento das peculiaridades das áreas em que estão implantados e do ajuste das práticas de manejo do solo e da cultura às condições específicas do meio ambiente. É imprescindível a utilização de práticas que impeçam a perda rápida da água do solo após a estação chuvosa, através da manutenção de cobertura morta na zona do coroamento, por exemplo, ou da minimização das práticas mecanizadas a fim de evitar o excessivo revolvimento do solo e a aceleração das perdas de água da camada arável.
Apesar das limitações apresentadas, tanto na Baixada Litorânea como nos Tabuleiros Costeiros, é possível obter sucesso com o cultivo do coqueiro devendo-se utilizar, no entanto, sistemas tecnificados, irrigados ou não, mas que garantam a manutenção de umidade e de nutrientes no solo por toda vida útil das plantas. É necessária a utilização de práticas culturais que impeçam a perda rápida de água após a estação chuvosa, e a minimização do revolvimento do solo. Com esses cuidados, será possível a obtenção de produtividades compatíveis com os investimentos aplicados, boas relações custo/benefício e preservação ambiental.