Eucalipto
Solo e relevo
Autor
Itamar Antonio Bognola - Embrapa Florestas
As grandes plantações comerciais de eucaliptos, já estabelecidas por várias décadas, estão localizadas em dois biomas principais: a) Cerrado (a maior delas) e b) Mata Atlântica, principalmente sob os Domínios Morfoclimáticos do Mar de Morros e dos Tabuleiros Costeiros, os quais são descritos abaixo, de forma resumida.
a) Cerrado (Savana Brasileira)
A área de vegetação de cerrado natural, onde a maioria dos talhões de eucaliptos é estabelecida (Figura 1), ocupa 1,8 milhão de km2 ou cerca de 20 % do território brasileiro. Estende-se principalmente pela região Centro-Oeste, com áreas menores no norte, nordeste e sudeste, regiões entre as latitudes de 5 °S a 21 °S e longitudes 43 °W a 63 °W. As altitudes variam, em sua maior parte (73 %), de 300 m a 1.000 m. O clima, segundo classificação de Köppen, é predominantemente do tipo Aw (clima tropical úmido, seco no inverno). A temperatura média anual varia entre 20 °C e 26 °C. Há grande variação na precipitação anual média e distribuição das chuvas em todo o ano. A maior parte da área tem uma estação de chuvas (novembro a abril, quando 80 % da chuva é precipitada) e uma estação seca (maio-outubro). No entanto, os plantios de eucaliptos (considerando as espécies atualmente plantadas no País) não são viáveis economicamente em regiões com precipitações médias anuais inferiores a 1.000 mm.
Cerca de 65 % das áreas do cerrado brasileiro recebem entre 1.200 mm e 1.800 mm de precipitação anual. O período de déficit de água varia entre quatro e sete meses em 88 % da área. Ainda, 46 % da área do Cerrado brasileiro é coberta com Latossolos, 15 % com Argissolos, 15 % com Neossolos Quartzarênicos e 6 % com Plintossolo. A grande maioria destes solos é originada de rochas sedimentares e estão num estágio avançado de intemperismo. Os principais e mais comuns minerais de argila são a caulinita, os óxidos de ferro e alumínio (Fe-Al) e os materiais amorfos. Em geral, o conteúdo de minerais primários facilmente intemperizáveis é baixo, bem como também é baixa para média a capacidade de troca catiônica (CTC) destes solos. A capacidade de fixação do fósforo (P) é baixa para os solos arenosos e varia de média a alta para os solos mais argilosos; a drenagem é elevada, o que dá aos solos alto potencial de infiltração de água, caso sejam manejados adequadamente. No entanto, os solos são propensos à degradação e perda de nutrientes disponíveis se práticas de manejo forem inadequadas.
Em geral, os solos do Cerrado não têm impedimentos físicos naturais para o enraizamento e a paisagem do relevo varia de plano a suavemente ondulado, o que favorece a mecanização com maquinários. Devido a essas condições favoráveis, há uma redução no custo de operações florestais (preparo do solo, plantio etc.), e maiores investimentos podem ser feitos com a intenção de corrigir as limitações químicas dos solos através da aplicação de fertilizantes.
b) Mata Atlântica
b.1) Tabuleiros Costeiros
Nessa região, os projetos de reflorestamentos com eucaliptos começaram no início de 1980. As plantações de eucaliptos espalham-se para uma extensa área entre as latitudes 11 °S e 22 °S no Nordeste do Brasil, em uma faixa de 100 a 150 km da costa litorânea. Há uma distribuição uniforme das temperaturas mínimas, médias e máximas anuais, variando de 25,5 °C, 30 °C e 20,9 °C, respectivamente, caracterizando esta região com o clima tropical. A chuva diminui a partir de 1.600 mm por ano nas zonas costeiras para menos do que 800 mm por ano a apenas 120 km para o interior do País. Dois terços da chuva precipitam no outono e inverno, com um período seco no verão.
Os solos deste ambiente são desenvolvidos a partir de sedimentos retrabalhados de depósitos terciários (Formação Barreiras), que consistem de uma matriz de areia intercalados com folhelhos e conglomerados. As altitudes variam, em sua maior parte, de 300 m a 600 m. O relevo passa de uma estreita paisagem dissecada próxima ao oceano para um terreno suavemente ondulado no interior. Há o predomínio de áreas planas, chamadas de Tabuleiros (Figura 2), que são formadas entre as drenagens dos vales, as quais são mais resistentes à erosão, e são preferencialmente utilizados para plantações de eucaliptos.
As principais classes de solos deste ambiente são os Argissolos Amarelos, Latossolos Amarelos e Neossolos Quartzarênicos . Em geral, os solos são ácidos (pH em água: 3,5 a 5,6), altamente intemperizados (capacidade de troca de cátion: 20 a 60 mmolc kg-1), profundos (> 1,8 m), com densidade do solo alta (> 1,4 Mg m-3), e baixa a moderada quantidade de carbono orgânico (C: 2 a 6 kg m-2 em profundidade de 0 a 60 cm) e nitrogênio (N: 100 a 500 g m-2). Entre os Argissolos, cerca de um terço apresenta drenagem moderada a imperfeita. Esta situação é mais crítica na maior parte dos solos com caráter abrúptico, ou seja, são solos arenosos superficialmente e argilosos em subsuperfície, em que a macroporosidade é menor. Além da densidade alta, as camadas do solo podem ser cimentadas, formando as chamadas fragipã, duripã ou plintita. Estas formações acontecem em diferentes profundidades e graus de continuidade. No entanto, existem extensas áreas neste ambiente costeiro propícias a boas produtividades com a cultura de eucaliptos.
b.2) Domínio Morfoclimático do Mar de Morros
Como o próprio nome já diz, é uma região de muitos morros de formas residuais e curtos em sua convexidade, com aspecto de “meia laranja” (Fig. 3). Atualmente, a região está quase que extensivamente devastada por uma combinação infeliz de processos antrópicos cumulativos correspondentes principalmente às regiões serranas da bacia do Paraíba do Sul e do Vale do Rio Doce, e regiões adjacentes. Envolve o leste de São Paulo, o sul e o sudeste de Minas Gerais, o estado do Rio de Janeiro, a maior parte do Espírito Santo e o sul da Bahia até a borda do Planalto de Maracás, assim como todo o corredor de terras baixas sublitorâneas da chamada zona da mata nordestina. Para o sul do País possui terminações bruscas nos maciços costeiros e baixos vales dos rios orientais de Santa Catarina. Como a sua extensão territorial alarga-se entre Norte-Sul, seu clima dependerá da sua situação geográfica, diferenciando-se em: tropical, tropical de altitude e subtropical. Quanto à precipitação, este domínio é bem suprido de água o ano todo.
Por outro lado, no final da década passada, a eucaliptocultura brasileira entrou numa nova fase, com o início dos plantios nos estados do Piauí, Maranhão e Tocantins. Essa talvez seja a última fronteira de um ciclo que teve início nas décadas de 1960 e 1970, com a concentração das florestas plantadas no Sul e no Sudeste, feitas em plantios seminais. Nas décadas de 1980 e 1990, já com plantios clonais, foi a vez do norte do Espírito Santo e do sul da Bahia e, mais recentemente, por volta de 2000, do extremo sul do País e do Mato Grosso do Sul. Essa última etapa coincide com um momento de consolidação do tema sustentabilidade nos empreendimentos florestais.
As principais classes de solos são compostas em sua maioria por Latossolos e Argissolos, sendo muito variável a espessura do saprolito (horizonte Cr, este variando de muito profundo a raso), o que muitas vezes denota a presença de Cambissolos. Também ocorrem Afloramentos Rochosos de rochas graníticas, principalmente, e Neossolos Litólicos ou Regolíticos. A textura predominante é a argilosa, muitas vezes apresenta-se com a presença de cascalhos.
O teor de nutrientes tanto nos Latossolos, Cambissolos e, em parte dos Argissolos, tende a ser baixo. Apenas nos Argissolos Vermelhos e parte dos Neossolos Litólicos ou Regolíticos, com horizonte Cr pouco profundo e acinzentado é que a saturação por bases é alta. Há que se registrar, sob este Domínio, os Gleissolos e os Neossolos Flúvicos ao longo das várzeas encaixadas dos rios.
Apesar das peculiaridades referentes às disponibilidades de água e de nutrientes é na conformação da superfície, no relevo, que, como o próprio nome indica, esse Domínio mais se notabiliza. As influências das classes de relevos nas perdas de nutrientes pela erosão e na disponibilidade de água variam muito, pois as classes de declividades vão desde 0 até > 100% de declive. O relevo influencia ainda, em um caso, pela remoção acelerada pela erosão; em outro, pela abundância de pequenas minas e olhos de água que alimentam pequenos cursos de água. Desta forma, existem muitas diferenças de solo e relevo no ambiente dos Mares de Morros, influenciando por demasia o melhor uso da terra. Ainda assim, é, na sua maioria, apta para a cultura do eucalipto.
Foto: Itamar Antonio Bognola | Foto: José L. Stape |
Figura 1. Aspectos de paisagem de Cerrado com plantio de eucaliptos no Mato Grosso do Sul. | Figura 2. Aspectos de paisagem dos Tabuleiros Costeiros com plantios de eucaliptos. |
Figura 3. Aspectos da paisagem do Domínio Morfoclimático do Mar de Morros. Fonte: http://espacosgeograficos.wordpress.com/2010/08/15/mares-de-morros/ |