Secos

Conteúdo migrado na íntegra em: 20/12/2021

Autores

Francisco Rodrigues Freire Filho - Embrapa Amazônia Oriental

Maurisrael de Moura Rocha - Embrapa Meio-Norte

 

Grãos secos
 

O grande comércio do feijão-caupi no Brasil é feito na forma de grão seco. O Ministério da Agricultura, da Pecuária e do Abastecimento - MAPA, por meio da Portaria nº 85, de 06 de março de 2002 – 7ª Parte, Anexo XII, apresenta o regulamento técnico de identidade e de qualidade para a classificação do feijão. Essa Portaria refere-se ao feijão-comum da espécie Phaseolus vulgaris L. e ao feijão-caupi, também conhecido como feijão-macassa, macassar, ou feijão-de-corda da espécie Vigna unguiculata (L.) Walp., os quais são classificados em grupos, classes e tipos. A classificação do feijão-caupi é a seguinte:

Grupo II – Feijão-caupi (corresponde ao feijão-de-corda, feijão-macassa ou macassar, espécie Vigna unguiculata (L.) Walp.).

Será feita referência somente à parte da Portaria que trata do Grupo II, espécie V. unguiculata (L.) Walp.

 

Classes  de acordo com a coloração dos grãos:
 

Classe Branco: produto com, no mínimo, 97 % de grãos de coloração branca.

Classe Preto:  produto com, no mínimo, 97 % de grãos de coloração preta.

Classe Cores: produto constituído de grãos coloridos, de cor e tamanho uniformes, admitindo-se, no máximo, 5 % de mistura de grãos das classes Branco e/ou Preto e até 10 % de mistura de cultivares da classe Cores que apresentem cores contrastantes ou tamanhos diferentes.

Classe Misturado: produto que não atende às especificações de nenhuma das classes anteriores, deve constar, obrigatoriamente, no certificado de classificação as porcentagens de cada uma das classes e o porcentual da classe dominante.

Com base na Portaria nº 85, particularmente no que se refere às classes de grãos, procurou-se detalhar mais a classificação dos diferentes grãos comerciais de feijão-caupi. Para isso, foi feita a seguinte adaptação, incluindo-se subclasses nas classes Branco e Cores:

Classe Branco - cultivares com grãos de cor branca.

Subclasse Branca: cultivares com grãos de cor branca, liso, sem halo ou com halo pequeno, com ampla variação de tamanhos e formas.

Subclasse Brancão: cultivares com grãos de cor branca, rugoso, geralmente reniformes, sem halo e relativamente grandes.

Subclasse Fradinho: cultivares com grãos de cor branca e com um grande halo preto.

Essa subclasse é cultivada principalmente nos estados da Bahia e do Rio de Janeiro e, atualmente, está se expandindo na Região Sudeste. Esse grupo é idêntico ao tipo “Blackeye”, o mais cultivado e comercializado nos Estados Unidos, tanto como grãos secos quanto enlatados. É considerado o padrão de grão mais adequado para o comércio internacional. Geralmente, é o tipo importado pelas companhias cerealistas brasileiras quando  há  frustração  de  safra na Região Nordeste, como aconteceu em 1998, ano em que o Brasil importou feijão-caupi dos Estados Unidos da América e do Peru. Atualmente, há várias linhagens dessa  subclasse em fase de teste.
 

Classe Preto: cultivares com grãos de cor preta, cultivadas nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina para adubação verde e como forrageiras e, na Tailândia e no Miamar, para  alimentação humana.

Classe Cores: cultivares com grãos de cores diferentes das classes Brancão e Preto. Serão incluídos somente os grãos comerciais: mulato, canapu, sempre-verde, vinagre, corujinha, azulão, manteiga, verde e rajado.

Subclasse Mulato: cultivares com grãos de cor marrom, com a tonalidade variando de clara a escura e com uma ampla variação de tamanhos e formas. Cultivadas em larga escala nas regiões Norte e Nordeste.

Subclasse Canapu: cultivares com grãos de cor marrom-clara, relativamente grandes, bem cheios, levemente comprimidos nas extremidades, com largura, comprimento e altura aproximadamente iguais. Esse grupo, muito semelhante ao tipo “crowder” cultivado nos Estados Unidos da América, é amplamente cultivado na Região Nordeste do Brasil nas áreas semiáridas dos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia.

Subclasse Sempre-Verde: cultivares com grãos de cor esverdeada, amplamente cultivadas na Região Nordeste.

Subclasse Vinagre: cultivares com grãos de cor vermelha, cultivadas em pequena escala no Estado do Maranhão para produção de grãos secos e, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina para adubação verde e como forrageira.

Subclasse Corujinha: cultivares com grãos de cor mosqueada cinza ou azulada, muito cultivadas para produção de grãos secos no sul do Maranhão e em Tocantins e, em menor escala, para produção de feijão-verde no Rio de Janeiro e em outros Estados.

Subclasse Azulão: cultivares com grãos de cor azulada, cultivadas em pequena escala para produção de grãos secos e de feijão-verde no Rio Grande do Norte e em São Paulo.

Subclasse Manteiga: cultivares com grãos de cor creme-amarelada, muito uniforme, e que, praticamente, não se altera com o envelhecimento do grão. Muito cultivada na Região Norte, principalmente no Estado do Pará. Devido ao comércio inter-regional, foi introduzida na Região Meio-Norte. Atualmente, tem pouca expressão em relação às demais subclasses, mas tem boas perspectivas de mercado.

Subclasse Verde: cultivares com grãos de cor verde. Cultivadas nos Estados Unidos, utilizadas no comércio de feijão-verde, bem como para enlatamento e congelamento. Essas cultivares ainda não são cultivadas no Brasil.

Subclasse Rajado:  materiais que têm grãos de cor marrom com rajas longitudinais de tonalidade mais escura, semelhantes às do grupo carioca do feijão-comum (Phaseolus vulgaris L.). Ainda não há cultivares comerciais dessa subclasse em nenhum país, contudo, há linhagens em fase de teste.

A classe comercial mais numerosa é a classe Cores porque reúne um grande número de subclasses. As subclasses mais numerosas e com maior variação de tipos de grãos são as subclasses Mulato e Branco. Em valor comercial, as mais importantes são as subclasses Sempre-Verde e Brancão. Com exceção da subclasse Manteiga, muito cultivada na Região Norte. As outras subclasses têm menor expressão e, embora ainda sejam cultivadas por pequenos produtores, raramente são encontradas no comércio. Para produção de feijão-verde, as subclasses Branca, Sempre-Verde, Azulão e Corujinha são as mais cultivadas e os produtores preferem as de vagem roxa.

 

Consumo de grãos secos

 

O grão seco é colhido com umidade em torno de 12 % (Figura 1).

  Foto: Maurisrael de Moura Rocha.  
 

Grão seco

 
 

Figura 1. Grão Seco.

 

 

O grão seco é consumido cozido individualmente ou juntamente com outros cereais, principalmente o arroz, podendo ser associado também a saladas.

O grão seco triturado também fornece uma farinha que pode ser comercializada na forma de sopa pré-cozida, representando uma alternativa de baixo custo para inclusão na merenda escolar. A farinha pode ser utilizada integralmente ou parcialmente na confecção de mingaus, sopas, biscoitos, bolos, feijoadas (Figura 2) e, parcialmente, em pizzas (Figura 3).  

  Foto: Maurisrael de Moura Rocha.  

 

Feijoada

 
 

Figura 2. Feijoada.

 

 

  Foto: Maurisrael de Moura Rocha.  

 

Pizza

 
 

Figura 3. Pizza.

 

 

O acarajé (Figura 4) e o abará, pratos típicos da culinária baiana, são confeccionados a partir da farinha integral de feijão-caupi de grão branco, tipo comercial fradinho.

  Foto: Maurisrael de Moura Rocha.  
 

Acarajé

 

 

 

 

 

 

 

Figura 4. Acarajé.