Feijão
Calagem
Autor
Maria da Conceição Santana Carvalho - Embrapa Arroz e Feijão
A acidez superficial dos solos, caracterizada pelo excesso de íons H + e Al 3+ na solução do solo, concomitante de baixos teores de Ca 2+ , afetando o desenvolvimento radicular, a absorção de nutrientes e o crescimento do feijoeiro, refletindo diretamente na produtividade. Portanto, a calagem é a prática indicada para corrigir a acidez, neutralizar o alumínio (Al) trocável e fornecer cálcio (Ca) e magnésio (Mg) para a cultura, proporcionando maior crescimento das raízes e incrementos de produtividade.A cultura do feijão é responsiva ao aumento dos teores de Ca e Mg no solo, conforme se observa na Tabela 1. Além desses efeitos diretos, o feijoeiro é beneficiado pela calagem devido aos seus efeitos no aumento da capacidade de troca de cátions (CTC ) , da atividade biológica e da disponibilidade de nutrientes, stable (N), enxofre (S), fósforo (P) e molibdênio (Mo).
Na Tabela 2, são indicados valores de índices de acidez do solo adequados para a manutenção do potencial produtivo da cultura do feijão-comum. Por se tratar de uma cultura exigente quanto à fertilidade do solo, recomenda-se cultivá-la em áreas com saturação por bases mais elevadas (65%–70%) e proceder à reaplicação de calcário quando a saturação por bases na camada 0 a 20 cm para inferior a 50%.
Como a reação do calcário no solo é demorada e depende da disponibilidade de água, a sua aplicação deve ser realizada com, pelo menos, dois meses de antecedência do plantio, antes do início do período das chuvas. No sistema convencional e antes da adoção do sistema plantio direto (SPD), já está bem definido que o calcário deve ser incorporado. No SPD, já consolidado, a reaplicação de calcário é feita a lanço, na superfície do solo, sem incorporação. Recomenda-se realizar a análise química do solo, pelo menos, a cada 2 anos, com amostragens nas camadas 0 a 10 cm, 10 cm a 20 cm, 20 cm a 40 cm e 40 cm a 60 cm de profundidade. Com isso será possível decidir sobre a necessidade de reaplicação de calcário para correção da acidez nas camadas superficiais, bem como avaliar a necessidade de aplicação de gesso para a melhoria do ambiente radicular nas camadas abaixo de 20 cm de profundidade.
O tipo de calcário (calcítico, dolomítico ou magnesiano) não altera a eficiência da calagem com relação à correção da acidez. Essa característica é definida pelo Poder Residual de Neutralização Total (PRNT), ou seja, quanto maior o PRNT do calcário, mais rápida é a reação no solo. Entretanto, como o calcário é a fonte mais barata de Mg, é aconselhável o uso de calcário dolomítico ou magnesiano.
Gessagem
Já está bem estabelecido, sobretudo em áreas de Cerrado, que o uso do gesso, por ser mais solúvel e mais móvel no solo que o calcário, promove o aumento dos teores de Ca e S-SO42- e a diminuição da saturação por Al nas camadas subsuperficiais. Assim, criam-se condições químicas mais favoráveis para o aprofundamento do sistema radicular em subsolos ácidos, permitindo a exploração de maior volume de solo e maior absorção de água e nutrientes pelas plantas. Maior probabilidade de resposta das culturas a essa prática ocorre quando, nas camadas subsuperficiais (20 cm–40 cm e 40 cm–60 cm de profundidade), o teor de Ca for inferior a 0,5 cmolc/dm3e a saturação de Al na CTC efetiva para superior a 20%. Nessas condições, o feijoeiro também pode ser beneficiado. Entretanto, considerando que a aplicação de gesso promove a movimentação de Mg para planos mais profundos, o que seria implementado em casos de disponibilidade adequada do nutriente na camada superficial, em solos com teores baixos de magnésio (inferiores a 0,5 cmol c / dm 3 ) há potencial de deficiência induzida desse nutriente pela aplicação de gesso em doses mais elevadas. Portanto, nessa condição, a gessagem deve ser realizada após a calagem com calcário dolomítico. Caso causado deficiência de Mg e acidez superficial do solo (pH e saturação por bases) já esteja corrigida, recomenda-se aplicar fertilizantes contendo Mg, visando fornecer esse nutriente para as plantas.