Doenças bacterianas

Conteúdo migrado na íntegra em: 07/10/2021

Autor

Adriane Wendland Ferreira - Embrapa Arroz e Feijão

 

Crestamento-bacteriano-comum

O crestamento-bacteriano-comum (CBC) é incitado por Xanthomonas phaseoli pv. phaseoli, Xanthomonas citri pv. fuscans e Xanthomonas cannabis pv. phaseoli. Apresenta ampla distribuição e ocasiona graves perdas na produção, especialmente em regiões com temperaturas e umidade de moderadas a altas.

Afeta principalmente as partes aéreas das plantas (Figura 1A). Nas folhas, inicia-se por pequenas manchas úmidas na face inferior, as quais aumentam de tamanho e coalescem, formando extensas áreas pardas, necrosadas. Geralmente, na confluência das áreas necrosadas com os tecidos sadios apresentam um estreito halo amarelado.

Fotos: Adriane Wendland
Figura 1. Sintomas de crestamento-bacteriano-comum nas folhas (1A), vagens (1B) e sementes (1C).

 

As manchas, que são avermelhadas e compridas, estendem-se ao longo das hastes. Sob condições de alta umidade, o patógeno pode produzir, nas lesões, um exsudato de cor amarelada. Nas vagens (Figura 1B), formam-se manchas encharcadas, posteriormente avermelhadas, que frequentemente se estendem ao longo do sistema vascular, indicando a progressão da bactéria para as sementes. As sementes infectadas (1C) podem apresentar-se descoloridas, enrugadas ou simplesmente não apresentar sintomas visíveis.

A disseminação do agente causal, à longa distância, é realizada por meio de sementes contaminadas e, a curtas distâncias, de planta a planta ou de cultura a cultura, por sementes, vento, chuva, animais e movimentação humana.

As condições que favorecem o desenvolvimento da doença são temperaturas altas, com um ótimo de 28 °C, alta umidade e chuvas frequentes.

As sementes constituem a principal fonte de inóculo primário da doença, e o uso de semente sadia e certificada é tido como o principal e mais eficiente método de controle, principalmente se aliado ao uso de cultivares resistentes, que é o mais econômico e tecnicamente prático. Porém, a herança da resistência a esse patógeno é geneticamente complexa, descrita como oligogênica ou poligênica, que resulta em baixa porcentagem de genótipos resistentes.

Portanto, o controle da doença inclui o emprego de semente de boa qualidade, o uso de cultivares resistentes e adequadas práticas culturais, tais como a rotação de culturas, a eliminação de restos culturais e o trânsito na lavoura enquanto as folhagens estiverem úmidas.

De acordo com o catálogo de cultivares da Embrapa, apenas a cultivar de grão carioca BRS Notável e a cultivar de grão preto BRS Esplendor são resistentes ao CBC. A linhagem CNFC 10120 é até o momento a de maior resistência e é usada como fonte R. Os catálogos do Instituto Agronômico de Campinas e do Instituto Agronômico do Paraná possuem informações sobre cultivares moderadamente resistentes ao CBC.

Tem sido indicado o tratamento foliar preventivo com produtos à base de sulfato de cobre, hidróxido de cobre e potássio ditiocarbamato de metila, com o objetivo de retardar o aparecimento de sintomas na lavoura, mas os resultados nem sempre são satisfatórios. No Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários (Agrofit) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), estão registrados seis produtos para controle de CBC, quatro à base de cobre e dois contendo acibenzolar-S-metil. Há no mercado alguns adubos foliares com razoável concentração de cobre que também têm auxiliado na sanidade da lavoura. A aplicação de proteção é iniciada tão logo se tenha condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da doença e repetida logo após as chuvas que lavam o produto cúprico em contato externo nas plantas. As perdas ocasionadas pela doença podem chegar a 100% da produção.

 

Murcha de Curtobacterium

Esta doença foi inicialmente identificada no estado de São Paulo e, hoje, encontra-se distribuída em várias áreas produtoras de feijão, principalmente nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Seu agente causal é a bactéria Curtobacterium flaccumfaciens pv. flaccumfaciens, que também incide na cultura da soja e do caupi. Em condições de elevada temperatura, ocorrência de veranicos seguidos de chuvas e uso de cultivares suscetíveis, as perdas podem ser de até 50%-70% da lavoura.

A bactéria infecta o xilema das plantas através da semente contaminada ou de ferimentos/aberturas naturais no caule, nas folhas e nas raízes. Os sintomas iniciais (Figura 2A) correspondem à presença nas plantas de folhas murchas (flácidas) que ocorrem durante a hora mais quente do dia. As folhas podem voltar à turgescência normal durante os períodos de alta umidade e baixa temperatura, mas, normalmente, se tornarão castanhas com a consequente murcha e morte da planta (Figura 2B). A murcha é o resultado da obstrução dos feixes vasculares, os quais ficam repletos de células da bactéria.

Fotos: Adriane Wendland
Figura 2. Sintomas de murcha de Curtobacterium nas folhas (2A), plantas (2B) e sementes (2C).

 

A doença é disseminada a curta distância pela água de irrigação e pela chuva e, à longa distância, pelas sementes contaminadas (Figura 2C). O inóculo primário é constituído pelas sementes infectadas e restos de cultura contaminados. Como a soja também é hospedeira dessa bactéria, deve-se evitar plantios de feijão e soja em sucessão nas áreas com histórico de ocorrência dessa doença.

Entre os fatores de ambiente que favorecem a murcha de Curtobacterium, encontram-se as temperaturas altas (32 °C) combinadas com o estresse hídrico ou excesso de chuva.

O controle pode ser realizado por meio do plantio de sementes de boa qualidade e de cultivares resistentes. Não há ainda a recomendação de produtos para o controle químico da murcha de Curtobacterium.