Milho
Doenças causadas por molicutes e por vírus
Autores
Rodrigo Veras da Costa - Embrapa Milho e Sorgo
Carlos Roberto Casela
Luciano Viana Cota - Embrapa Milho e Sorgo
Enfezamentos
Importância e distribuição
Os enfezamentos do milho (doenças sistêmicas associadas a infecções dos tecidos do floema das plantas) são considerados doenças importantes para essa cultura no Brasil pelas perdas elevadas na produtividade e por sua ampla ocorrência nas principais regiões produtoras de milho. Os plantios tardios e de safrinha (iniciados a partir de meados de janeiro) contribuem para o aumento da incidência e das perdas causadas pelos enfezamentos devido ao aumento da população do inseto vetor nesta época. Esse fato pode ser agravado em sistemas de plantios sucessivos de milho.
Etiologia
Os enfezamentos são causados por patógenos pertencentes à classe dos Mollicutes, cuja transmissão é realizada de forma persistente e propagativa pela cigarrinha Dalbulus maidis. O enfezamento pálido é causado por um procarionte pertencente à espécie Spiroplasma kunkelli. O enfezamento vermelho é causado por um procarionte pertencente ao gênero Phytoplasma, denominado pelo nome comum fitoplasma.
Sintomatologia
Enfezamento vermelho
Os sintomas típicos dessa doença são o avermelhamento das folhas, a proliferação de espigas, produção de espigas pequenas, perfilhamento na base da planta e nas axilas foliares, encurtamento dos entrenós, incompleto enchimento de grãos e seca precoce das plantas (Figura 1 e 2).
Enfezamento pálido
Os sintomas característicos são estrias esbranquiçadas irregulares na base das folhas, que se estendem em direção ao ápice. Em alguns casos, observa-se um amarelecimento das plantas e o surgimento de áreas avermelhadas nas folhas apicais. Normalmente, as plantas são raquíticas devido ao encurtamento dos entrenós, podendo haver uma proliferação de espigas pequenas e sem grãos (Figuras 3 e 4). Quando há produção de grãos, eles são pequenos, manchados e frouxos na espiga. As plantas podem secar precocemente. Em ambos os casos, os sintomas são mais evidentes na fase de enchimento dos grãos. A identificação precisa dos enfezamentos com base apenas nos sintomas, no campo, nem sempre é uma tarefa fácil, tornando-se necessário o uso de exames laboratoriais para a correta diagnose.
Epidemiologia
Os molicutes, Spiroplasma kunkelli e Phytoplasma, ocorrem somente em células do floema de plantas doentes de milho e são transmitidos de forma persistente e propagativa pela cigarrinha Dalbulus maidis que, ao se alimentar em plantas doentes, adquire os molicutes e os transmitem para as plantas sadias. O período latente entre a aquisição dos patógenos e a sua transmissão pela cigarrinha varia de três a quatro semanas. A incidência e a severidade dessas doenças são influenciadas pelo grau de suscetibilidade da cultivar, pela época de semeadura (semeaduras tardias favorecem a doença), pela temperatura e umidade e pela população do inseto vetor. A ocorrência de temperatura e umidade elevadas e a alta densidade populacional de cigarrinhas, coincidentes com fases iniciais de desenvolvimento da lavoura de milho, favorecem o desenvolvimento da doença em elevada severidade. O milho é o único hospedeiro conhecido da cigarrinha Dalbulus maidis.
Controle
O controle mais eficiente dos enfezamentos consiste na utilização de cultivares resistentes. Outras práticas recomendadas para o manejo dessas doenças são: evitar semeaduras sucessivas de milho; fazer o pousio por período de dois a três meses sem a presença de plantas de milho; e alterar a época de semeadura, evitando-se a semeadura tardia da cultura. O uso de inseticidas para o controle do inseto vetor não tem apresentado eficiência satisfatória na redução da incidência dos enfezamentos.
Foto: Rodrigo Véras da Costa
Figura 1. Sintomas do enfezamento vermelho em planta de milho
Foto: Rodrigo Véras da Costa
Figura 2. Campo apresentando elevada incidência de plantas com enfezamento
Foto: Rodrigo Véras da Costa
Figura 3. Sintomas do enfezamento pálido em planta de milho
Foto: Rodrigo Véras da Costa
Figura 4. Detalhe das estrias esbranquiçadas irregulares, na base das folhas,
que se estendem em direção ao ápice
Míldio (Peronosclerospora sorghi)
Etiologia
Existem vários organismos causadores de míldio que afetam a cultura do milho, mas o míldio comumente observado em milho, nas condições brasileiras, é causado pelo mesmo organismo que causa o míldio do sorgo, ou seja, Peronosclerospora sorghi.
Sintomas
Plantas de milho sistemicamente infectadas por P. sorghi, o agente causal do míldio em milho, caracterizam-se por serem cloróticas, algumas vezes enfezadas, podendo apresentar folhas com estrias esbranquiçadas e que não chegam a produzir sementes (Figura 5). A área clorótica da folha sempre inclui a base da lâmina foliar, com margens transversas bem definidas entre tecidos doentes e sadios.
Foto: Carlos Roberto Casela
aparecimento de folhas estreitas e eretas e com presença de estrias
esbranquiçadas
Epidemiologia
Na superfície das folhas infectadas, ocorre a produção de esporângios (conídios) com temperatura ótima de produção entre 24 e 26°C. Alta taxa de infecção sistêmica ocorre quando o milho é cultivado em temperaturas variando de 11 a 32°C e períodos de molhamento foliar superior a 4 horas.
Controle
As principais medidas recomendadas para o manejo do míldio na cultura do milho são: utilização de cultivares resistentes; rotação com culturas não hospedeiras; enterrio dos restos culturais para eliminação de oósporos; e tratamento de sementes com fungicidas à base de metalaxyl.
Viroses Rayado Fino Maize Rayado Fino Virus
Importância e distribuição
A virose Rayado Fino, também denominada risca, pode reduzir a produção de grãos em até 30% e ocorre nas principais regiões produtoras de milho. Essa doença é transmitida e disseminada pela cigarrinha Dalbullus maidis.
Sintomas
Os sintomas característicos são riscas formadas por numerosos pontos cloróticos coalescentes ao longo das nervuras, que são facilmente observados quando as folhas são colocadas contra a luz (Figura 6).
Epidemiologia
O vírus Rayado Fino ocorre sistemicamente na planta de milho e é transmitido de forma persistente propagativa pela cigarrinha Dalbullus maidis que, ao se alimentar de plantas doentes, adquire o vírus e o transmite para plantas sadias. O período latente entre a aquisição desse vírus e sua transmissão varia de 7 a 37 dias. A incidência e a severidade dessa doença são influenciadas por grau de suscetibilidade da cultivar, por semeaduras tardias e por população elevada de cigarrinha coincidente com fases iniciais de desenvolvimento da lavoura de milho. O milho é o principal hospedeiro tanto do vírus como da cigarrinha.
Controle
O método mais eficiente e econômico para controlar o vírus Rayado Fino é a utilização de cultivares resistentes. Práticas culturais recomendadas que reduzem a incidência dessa doença no milho são: eliminação de plantas voluntárias de milho; fazer o pousio por um período de dois a três meses sem a presença de plantas de milho; alterar a época de semeadura evitando as semeaduras tardias e sucessivas de milho. A aplicação de inseticidas para o controle dos vetores não tem sido um método muito efetivo no controle dessa virose.
Foto: Carlos Roberto Casela
Mosaico comum do milho (Sugarcane Mosaic Virus - SCMV)
Importância e distribuição
O mosaico comum do milho ocorre, praticamente, em toda região onde se cultiva o milho. Calcula-se que essa doença pode causar uma redução na produção de 50%.
Sintomas
Os sintomas caracterizam-se pela formação nas folhas de manchas verde claras com áreas verde normal, dando um aspecto de mosaico (Figura 7). As plantas doentes são, normalmente, menores em altura e em tamanho de espigas e de grãos.
Epidemiologia
A transmissão do mosaico comum do milho é feita por várias espécies de pulgões, sendo a mais eficiente a espécie Rhopalosiphum maidis. Os insetos vetores adquirem os vírus em poucos segundos ou minutos e os transmitem, também, em poucos segundos ou minutos. A transmissão desses vírus pode ser feita, também, mecanicamente. Mais de 250 espécies de gramíneas são hospedeiras dos vírus do mosaico comum do milho.
Controle
A utilização de cultivares resistentes é o método mais eficiente para o manejo dessa virose. A eliminação de plantas hospedeiras e a realização do plantio mais cedo podem contribuir para a redução da incidência dessa doença. A aplicação de inseticidas para o controle dos vetores não tem sido um método muito efetivo no controle do mosaico comum do milho.
Foto: Carlos Roberto Casela
Figura 7. Sintomas do mosaico comum do milho