Sistemas Diferenciais de Cultivo

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Israel Alexandre Pereira Filho - Embrapa Milho e Sorgo

José Carlos Cruz - In memoriam

João Carlos Garcia - Embrapa Milho e Sorgo

 

A cultura do milho ocupa posição de destaque entre as atividades agropecuárias do Brasil por ser a mais frequente nas propriedades rurais e pelo seu valor de produção, superado apenas pelo da soja. O milho é, ao mesmo tempo, importante fonte de renda para os agricultores e relevante insumo (matéria-prima) para os criadores de aves, suínos, bovinos e outros animais, compondo parcela majoritária das rações. O milho é produzido do Norte ao Sul do Brasil, com características e sistemas de produção diferentes. Por ser uma cultura que é cultivada em pequenas propriedades, uma parcela importante do milho colhido destina-se ao consumo ou transformações em produtos para consumo na própria fazenda. Porém, o aumento na eficiência dos sistemas de produção de aves e suínos, as características dos produtos demandados pelos consumidores urbanos e as quantidades necessárias para atingir escalas mínimas que compensem o transporte para os centros consumidores reduziram a capacidade de competição da pequena produção de milho. Sua importância, hoje, é muito maior na subsistência das populações rurais, em vez de ser considerada como um fator de geração de renda capaz de promover melhorias substanciais no padrão de vida dessas populações.

A produção de milho, no Brasil, tem-se caracterizado pela divisão em duas épocas de plantio. O plantio de verão, ou primeira safra, é realizado na época tradicional, durante o período chuvoso, que varia entre fins de agosto, na região Sul, até os meses de outubro/novembro, no Sudeste e Centro-Oeste (no Nordeste, esse período ocorre no início do ano). Mais recentemente, tem aumentado a produção obtida na safrinha ou segunda safra. A safrinha refere-se ao milho de sequeiro, plantado extemporaneamente, em fevereiro ou março, quase sempre depois da soja precoce, predominantemente na região Centro-Oeste e nos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Verifica-se, nas últimas safras, um decréscimo na área plantada no período da primeira safra, que tem sido compensado pelo aumento dos plantios na safrinha e pelo aumento do rendimento agrícola das lavouras de milho.

Embora realizados em uma condição desfavorável de clima, os sistemas de produção da safrinha têm sido aprimorados e adaptados a essa condição, o que tem contribuído para elevar os rendimentos das lavouras também nessa época. A cultura do milho destaca-se também no contexto da integração lavoura-pecuária (ILP) devido às inúmeras aplicações que o cereal têm dentro da propriedade agrícola na alimentação animal, na forma de grãos ou de forragem verde ou conservada (rolão, silagem) ou na geração de receita, mediante a comercialização da produção excedente. O ponto importante são as vantagens comparativas do milho em relação a outros cereais ou fibras no que diz respeito ao seu consórcio com capim nos projetos de ILP. Uma dessas vantagens é a competitividade no consórcio, visto que as plantas de milho exercem, depois de estabelecidas, grande pressão de supressão sobre as demais espécies que crescem no mesmo local.

Embora existam várias plantas forrageiras anuais e perenes que servem para a produção de silagem, o milho é uma das culturas mais utilizadas para essa finalidade no Brasil, por apresentar um bom rendimento de matéria verde, excelente qualidade de fermentação e manutenção do valor nutritivo da massa ensilada, conferindo baixo custo operacional de produção, além da boa aceitabilidade por parte dos animais. O milho é a forragem mais tradicional por apresentar condições ideais para a confecção de uma boa silagem, como o teor de matéria seca por ocasião da ensilagem entre 30% e 35%, mais de 3% de carboidratos solúveis na matéria original e baixo poder tampão.

O milho é utilizado na alimentação humana, na forma de grãos secos ou verdes. O milho verde pode ser consumido cozido, assado ou na forma de curau, de suco e também como ingrediente na fabricação de bolos, biscoitos, sorvetes, pamonhas e de outros alimentos. O cultivo do milho verde é uma atividade praticamente exclusiva de pequenos e médios agricultores. O milho verde pode ser considerado uma hortaliça, em virtude do tempo de sua permanência no campo até o momento da colheita, que é de aproximadamente 90 dias.

Além do milho verde comum, existe também o milho doce. O milho doce difere do milho comum por acumular açúcar no endosperma. O milho doce tem, além do sabor adocicado, película de grão mais fina, sendo, por isso, mais macio e de melhor qualidade para consumo "in natura" ou enlatado na forma de conserva. Enquanto o milho verde comum tem em torno de 3% de açúcar e de 60% a 70% de amido, o milho doce tem ao redor de 9% a 14% de açúcar e de 30% a 35% de amido. Por possuir maior teor de açúcares simples e menor teor de amido que o milho verde comum, o milho doce não se destina para a produção de pamonha e curau, pois o amido é fundamental para dar a consistência desejável a esses produtos. Entretanto, como o milho doce tem sabor semelhante ao do milho comum, ele pode ser utilizado na elaboração da maioria das receitas à base de milho verde.

Além das finalidades de produção já descritas, existem ainda a produção do milho pipoca e a produção do minimilho. O milho pipoca é um alimento bastante apreciado no Brasil. Entretanto, seu cultivo ainda se restringe a pequenas áreas, mas com boas perspectivas de expansão. A capacidade de estourar que possuem os seus grãos aquecidos, transformando-se na massa branca conhecida como pipoca, é o que diferencia esse tipo de milho do milho comum. A explosão da pipoca, quando os grãos são aquecidos à uma determinada temperatura, nada mais é que a expansão de uma câmara contendo vapor de água existente dentro do grão.

Já o minimilho é a espiga de milho (inflorescência feminina do milho) colhida ainda jovem, antes da formação dos grãos, para ser consumida “in natura” miniprocessada ou na forma de conserva. No Brasil, a presença desse produto nos supermercados e mais recentemente nos restaurantes, revela sua aceitação pelo consumidor, mostrando o potencial do mercado interno, com perspectiva de expansão para o mercado externo. Além de o minimilho ter aproveitamento alimentar diversificado, possui a vantagem de conter baixo teor calórico, uma vez que 90% de sua composição é água. Dentre as várias maneiras de aproveitamento, estão o processamento industrial de enlatados em conserva, a forma "minimamente processada", exposta em gôndolas refrigeradas de supermercados ou em delicatessens, além das conservas caseiras. Basicamente, os tratos culturais são semelhantes ao do milho plantado para a produção de grãos secos, diferindo principalmente quanto ao tipo da semente, à densidade de plantio e à colheita.

Mais recentemente, com a possibilidade de incremento do valor agregado ao produto, a conservação ambiental e a baixa utilização de insumos, a produção orgânica pode se constituir em alternativa viável para o aumento da rentabilidade do setor agrícola. Pequenos e médios agricultores, assentamentos agrícolas, além de outros segmentos da cadeia produtiva, constituem o público que demanda tecnologias adequadas para o desenvolvimento da agricultura orgânica, haja visto que a grande maioria desses agricultores utiliza pouco ou nada de insumos modernos na produção e, por questão até de sobrevivência, praticam a diversificação na produção. Nesse caso, se aplicam tanto a produção de alimentos consumidos diretamente pelo homem como a produção de alimentos para animais, possibilitando uma ampliação das cadeias produtivas de produtos orgânicos.

O milho, pelas razões já expostas, é essencial em sistemas orgânicos de produção pela diversidade de uso e produtos gerados, pelas inúmeras possibilidades de sua participação em sistemas de rotação, sucessão e consorciação de culturas, além de ser essencial como matéria-prima para outras cadeias de produção orgânica, como carne, leite e ovos.