Solos

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Tony Jarbas Ferreira Cunha - Consultor autônomo

Iedo Bezerra Sá - Embrapa Semiárido

Vanderlise Giongo Petrere - Consultor autônomo

Tatiana Ayako Taura - Embrapa Semiárido

 

O solo é um elemento importante para gerenciar o recurso água, expressar o potencial genético das espécies, minimizar a degradação dos recursos naturais e maximizar o potencial do fator clima. Também é componente de transformação, de reorganização e de sustentação das atividades econômicas, sociais e culturais do espaço rural. O solo não se resume apenas às suas partículas minerais, mas sim, a um conjunto composto de minerais, matéria orgânica, organismos vivos, água e ar, cujo equilíbrio se reflete no potencial produtivo e na sustentabilidade agrícola. Por isso, seu bom funcionamento é essencial para processos vitais à manutenção do planeta.

           Mapa :Tatiana Ayako Taura

               
 

         Figura 1: Mapa de solos do bioma Caatinga.

 

  O manejo dos solos do Semiárido deve levar em consideração a combinação das condições climáticas, geomorfológicas, pedológicas, de uso e cobertura vegetal que interferem no desenvolvimento e produção sustentáveis das culturas agrícolas, e nos sistemas de manejo em que estas se desenvolvem. Desta maneira, deve-se considerar que:

a) Os solos que ocorrem em ambientes de baixa fragilidade ambiental e são propícios a motomecanização agrícola (Latossolos, Argissolos p. ex.), situados em relevo plano ou suave ondulado (0 a 8% de declive), são recomendados para uso com agricultura intensiva. Estes solos apresentam apenas ligeiras limitações para utilização agrícola, exclusivamente pela moderada fertilidade natural.  Todavia, em face dos sistemas de produção normalmente adotados para a produção intensiva, a limitação de fertilidade é facilmente corrigível.

b) Solos com moderadas limitações à motomecanização e que ocorrem nas partes altas da paisagem,  em relevo ondulado (8 - 20% de declive), , são recomendados para utilização com agricultura semi-intensiva. A principal limitação destes solos é a sua moderada fragilidade ambiental, condicionada basicamente pelo maior comprimento de rampa, que torna-os  moderadamente suscetíveis à erosão. Associados à menor retenção de umidade, estes solos são mais recomendados para utilização com lavouras semi-intensivas e silvicultura, embora também sejam possíveis e sustentáveis, sua utilização com pastagens.

c) Os solos que apresentam restrições devido ao relevo declivoso ou baixa capacidade de retenção de água não são adequados para usos mais intensivos, por isso são classificados como de moderada a forte fragilidade ambiental. Quando situados nas porções mais elevadas da paisagem, com relevo forte ondulado e eventualmente ondulado (quando ocorre maior restrição de solo), são indicados para utilização com espécies forrageiras protetoras do solo. Nestes solos o uso de mecanização deve ser restrito a algumas práticas culturais e utilização de implementos de tração animal. Deve-se ressaltar que não existe nenhuma restrição técnico/ambiental de se utilizar pastagens em zonas mais intensivas, quando estas estiverem associadas à perspectiva de maior rentabilidade, como o atendimento de nichos de mercado, podendo-se citar nesse caso a criação de reprodutores e matrizes.

d) Os solos com restrições devido à condição de drenagem, não são adequados para usos mais intensivos, embora, normalmente apresentem baixa fragilidade ambiental. Estes solos, que normalmente estão localizados em baixadas, são indicados para utilização com espécies forrageiras adaptadas a restrições de drenagem interna, risco de inundação e presença de elementos tóxicos às plantas, tais como sódio ou sais. Especialmente, estas terras podem ser utilizadas com culturas adaptadas às condições de inundação, como é o caso do arroz.

e) Solos que apresentam elevada fragilidade ambiental (sem vocação para o uso agrícola) e/ou constituem áreas especiais (unidades de conservação e áreas de preservação permanente), e que se encontram ainda preservadas, são indicados para conservação dos recursos naturais. Pode-se citar como exemplo as áreas de Planossolos, Neossolos litólicos, etc. Estes solos devem ser prioritariamente destinados para conservação da flora e da fauna. Não devem ser utilizados por qualquer tipo de exploração antrópica, pois podem, facilmente ser degradados.

f) Os solos que apresentam elevada fragilidade ambiental e/ou que constituem áreas especiais (unidades de conservação e áreas de preservação permanente), que estão sendo indevidamente utilizadas com exploração agrícola e que se encontram em diferentes estágios de degradação são indicados para recuperação ambiental. Como exemplo citam-se as áreas de mata ciliar onde ocorrem os Neossolos e Cambissolos flúvicos. Normalmente, apresentam fortes limitações condicionadas pela elevada fragilidade ambiental, onde se faz necessária à recomposição da vegetação original. Estes solos são indicados para reflorestamento com espécies nativas, protetoras do solo, de preferência que contemplem espécies com possibilidade de retorno econômico direto, visando reduzir o custo de sua implantação e manutenção. São solos mais propícios para serem incorporadas à reserva legal da propriedade, por serem os que apresentam as maiores restrições de utilização.


Do ponto de vista técnico e econômico a recuperação da vegetação natural é uma das principais opções e, com base na legislação federal (Código Florestal - Lei Nº 4.771, Art.2º), um imperativo legal. Realizá-la de modo sustentável irá fornecer subsídios técnicos para recuperação de áreas degradadas, conciliando conservação de recursos naturais com a geração de renda e aumento da qualidade de vida.

De modo geral, como em todas as regiões do Brasil, a utilização de práticas conservacionistas nas atividades agropecuárias da região semiárida, além de promover a preservação da terra e a manutenção da sua capacidade produtiva, também contribuirá para a diminuição dos problemas de assoreamento evitando o carreamento das partículas de solo até os cursos d`água. Dentre as praticas de manejo e conservação do solo, podem ser recomendadas: aração mínima, rotação de culturas, cultivos em faixas, cobertura morta, cultivos em contornos e pastoreio controlado. Em casos extremos de erosão do solo, podem ser utilizadas práticas mais complexas com: terraço em nível, terraço em patamar, interceptores e controle de voçorocas.

Aqui serão apresentados os principais tipos de solos da Caatinga, descrevendo suas características gerais, potencialidades e limitações, susceptibilidade e erosão e áreas de ocorrência.