Sistema Plantio Direto
Conhecendo melhor o Solo
Autores
Luis Carlos Hernani - Embrapa Solos
Walder Antonio Gomes de Albuquerque Nunes - Embrapa Agropecuária Oeste
Para o levantamento das condições do solo sugere-se percorrer toda a extensão da unidade rural (propriedade), coletando amostras e tomando dados expeditos sobre diferentes aspectos e condições da superfície e, às vezes, quando necessário, de camadas mais profundas do solo. Essa avaliação deve ser efetuada em cada um dos talhões (áreas homogêneas quanto às feições superficiais do terreno, ao histórico de correções, de adubações e de produtividade dos cultivos).
Para isso indicadores de qualidade são avaliados e os resultados e informações obtidas são organizadas e registradas em Quadro simplificado como no exemplo (Quadro 1). Os indicadores e o procedimento de avaliação em cada talhão podem ser:
Cor do solo - toma-se amostras (punhado) de solo dos primeiros 20,0 cm e, visualmente, classifica-se em solo escuro, claro ou vermelho.
Declividade – por observação visual e, a partir de padrão anteriormente estabelecido, separam-se os talhões quanto às classes de declividade: baixa (<3%), média (3-8%), alta (8-15%) e muito alta (>15%).
Erosão - as áreas dos talhões são classificadas quanto ao tipo (podendo haver mais de um) e à frequência de ocorrência da erosão. Dessa forma, tem-se: erosão laminar (severa – com raízes de árvores expostas, moderada – com solo esbranquiçado superficialmente e leve), erosão em sulcos (poucos, moderados e muitos) e, erosão em voçoroca. Quanto à frequência de ocorrência, os tipos podem ser: frequente e pouco frequente. Trilheiros deixados pelo gado podem ser considerados e classificados como sulcos, em suas classes e frequência.
Infiltração – abrir pequena trincheira de 20 cm de largura x 20 cm de comprimento por 10 cm de profundidade, limpar bem as paredes e o interior, proteger o fundo com um pedaço de plástico de 40 x 40 cm, despejar com cuidado 1,0 litro de água no fundo da trincheira sobre o plástico, retirar o plástico e cronometrar o tempo (minutos) para que todo o volume líquido infiltre, identificando a classe de infiltração (Alta: < 15 min, Boa: 15-30 min e Baixa: > 30 min). Repetir o processo em três locais por talhão, tomando-se o resultado mais frequente para cada talhão.
Compactação – a avaliação pode ser feita na mesma trincheira aberta para avaliar a infiltração, fazendo-se a retirada de terra úmida do fundo, até cerca de 50 cm de profundidade e, de duas das paredes da trincheira, até verificar que a umidade está próxima da natural. Nessas paredes, nas diferentes camadas do solo, avaliam-se a dificuldade da penetração de instrumento pontiagudo, separando-se nas classes: a) Ausência - a penetração por instrumento pontiagudo exige leve esforço e a terra se esboroa facilmente e, b) Presença - a penetração por instrumento pontiagudo exige força excessiva ou a camada não pode ser penetrada.
Agregação - na própria trincheira em que se analisou a compactação, retira-se uma porção dos primeiros 20 cm do solo e avalia-se a presença de tipos de agregados (esféricos, blocos ou dispersos), anotando-se o tipo predominante.
Quadro 1. Levantamento de dados sobre indicadores da qualidade do solo. | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Fonte: Luís Carlos Hernani |
Fertilidade do solo – a avaliação da fertilidade do solo, a ser feita antes da implantação do Sistema Plantio Direto (SPD), deve seguir o procedimento tradicionalmente recomendado para o sistema convencional de preparo do solo, tomando-se, de cada talhão, amostras compostas de 500 g de terra de peso final (uma para cada 10 ha) da camada 0-20 cm. Três amostras da camada 20-40 cm (em talhões representativos do terço superior, médio e inferior da paisagem na propriedade) também devem ser coletadas, para avaliar a presença de elementos tóxicos (Al3+ e Mn3+). As amostras obtidas devem ser identificadas (Propriedade, Talhão, Profundidade, Data de Coleta etc.) e, imediatamente, encaminhadas ao laboratório para análise química (pH, Ca, Mg, Al, K, P, CTC, MOS, Cu, Fe, Mn e Zn) e física (areia, silte e argila) de solo.
Aos resultados de laboratório devem ser associados os históricos já mencionados para então efetuar-se a classificação da fertilidade em: Boa – ausência de alumínio tóxico, média a boa concentração de macro e micronutrientes, Média - ausência de alumínio tóxico, baixa disponibilidade de fósforo e ou potássio e, Baixa – toxidez de alumínio e baixos teores de fósforo e ou potássio e de matéria orgânica. Após cerca de quatro anos da implantação do SPD, as amostras devem ser obtidas das camadas 0-10 e 10-20 cm (maiores detalhes ver: Fase Pós-Implantação).
Textura – pode ser avaliada no campo nas camadas 0-20 e 60-80 cm. Mas sugere-se analisar a granulometria em laboratório utilizando-se as mesmas amostras (0-20 cm) obtidas para a fertilidade. Amostras da profundidade de 60-80 cm devem ser obtidas, na própria trincheira descrita para a infiltração ou usando-se trado, e nos mesmos locais sugeridos para a coleta de amostras de 20-40 cm para a fertilidade. Essas amostras, após a devida identificação, serão enviadas ao laboratório para análise granulométrica. Com a textura das camadas 0-20 e 60-80 cm pode avaliar a variação do teor de argila com a profundidade, permitindo adequar as práticas conservacionistas. As classes de textura são: argilosa (>35% de argila), textura média (15 – 35% de argila) e (<15% de argila) arenosa.