Análise da disponibilidade hídrica na safra 2014/2015
Levantamentos feitos pela Conab, Embrapa, INMET e Agência Nacional de Águas indicam que haverá impacto reduzido da crise hídrica nos resultados da safra 2014/2015 dos principais grãos. Se os períodos mais críticos das safras agrícolas coincidirem com a baixa disponibilidade de água no solo (DAS), ocorrerão provavelmente reduções no rendimento e na produtividade das culturas.
Resultados de monitoramento da situação climática - até 12/02/2015
A ocorrência de chuvas abaixo da média histórica em algumas regiões do Brasil exige atenção e cuidadoso acompanhamento da produção e do abastecimento de alimentos no corrente ano. Aliada à baixa precipitação, as elevadas temperaturas intensificam a evapotranspiração, ocasionando baixa disponibilidade de água para as culturas. Fazer um acompanhamento das áreas de produção agrícola em diferentes escalas e dos indicadores que afetam as culturas em suas fases de desenvolvimento é de fundamental importância nesta conjuntura de crise hídrica.
As dimensões continentais do país e a grande diversidade de sistemas de cultivo requerem um monitoramento robusto e eficiente que integre dados e informações oriundos de diferentes fontes. Esta seção reune informações e análises realizadas em conjunto pela Embrapa, INMET e ANA com ênfase nas condições agrometeorológicas para as principais regiões produtoras do país.
A análise dos dados sobre disponibilidade de água no solo (DAS) nos municípios responsáveis por 80% da quantidade produzida de soja, milho (1a e 2a safras), algodão, trigo, feijão (1a, 2a e 3a safras), cana e café indica que:
- grande parte dos municípios produtores de feijão encontra-se com baixa DAS no segundo decêndio (período de 10 dias) de janeiro de 2015;
- os municípios com expressiva produção de milho (1a safra), cana e café também encontram-se com baixa DAS no segundo decêndio de janeiro de 2015;
- reduções no rendimento e na produtividade das culturas ocorrerão se os períodos mais críticos das safras agrícolas coincidirem com a baixa DAS.
Tabela 1 – Culturas e número de municípios com disponibilidade de água
no solo (DAS) <= 50% da média histórica (2º decêndio de janeiro, 2015)
Cultura | Nº de municípios que representam 80% da produção agrícola em 2013 | Nº de municípios com disponibilidade de água no solo (DAS) <= 50% da média histórica (2o decêndio de janeiro, 2015) | Porcentual da quantidade produzida nacional (em 2013), dos municípios com DAS <= 50% |
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Soja | 404 | 212 | 30,84% |
Milho 1a safra | 766 | 412 | 50,70% |
Milho 2a safra | 133 | 69 | 28,88% |
Algodão | 30 | 2 | 14,44% |
Trigo | 214 | 84 | 27,09% |
Feijão 1a safra | 437 | 291 | 55,84% |
Feijão 2a safra | 341 | 220 | 52,49% |
Feijão 3a safra | 49 | 38 | 66,70% |
Cana | 427 | 282 | 52,80% |
Café | 233 | 212 | 74,32% |
Fontes: Disponibilidade de água no solo – Agritempo; Municípios produtores – IBGE; Processamento e Análise – Embrapa Monitoramento por Satélite.
Mapas sobrepostos às principais regiões produtoras - safra de verão
Avaliações da situação de clima até o presente momento (fim de janeiro, início de fevereiro) foram realizadas utilizando informações socioeconômicas (Sidra - IBGE), relatórios de safra (Conab), acompanhamento climático e agrometeorológico (Agritempo, INMET, CPTEC), dados sobre agricultura irrigada (Embrapa e Ana) e sistemas integradores de informações geoespaciais voltados para agricultura (SomaBrasil - Embrapa). A extração de informações com base em geotecnologias visa apoiar os processos de tomada de decisão para a agricultura no cenário atual de crise hídrica.
Conforme dados do INMET, o ano de 2014 foi marcado pela escassez de precipitação na região Sudeste, ocasionando riscos potenciais para a agricultura em algumas regiões (Figura 1). Impactos na disponibilidade de água para a agricultura irrigada também são possíveis. A área sinalizada em vermelho apresentou desvios de precipitação com valores abaixo da média maiores que 200 mm no ano. Na área sinalizada em azul, o destaque é para locais onde os desvios de precipitação chegam a ter registros de 500 a 600 mm anuais abaixo da média.
Figura 1 - Precipitação acumulada em 2014 e anomalias de precipitação em 2014 (Referência Climatologia 1981 – 2010). Fonte: INMET.
As temperaturas acima da média também foram predominantes em 2014 (Figura 2). Áreas que sofreram com o déficit de chuvas, como no Sudeste, apresentaram desvios de temperatura de até 1,5 graus em relação às médias. Como consequência, maior taxa evaporativa e estresse térmico aumentam os riscos para a agricultura.
Figura 2 - Temperatura média em 2014 e Anomalias de Temperatura em 2014 (Referência Climatologia 1981 – 2010). Fonte: INMET.
Considerando essas condições, utilizou-se o Sistema de Observação e Monitoramento da Agricultura no Brasil (SomaBrasil) para analisar os municípios responsáveis por 80% da quantidade produzida de diversas culturas agrícolas. Esse conjunto de municípios foi sobreposto aos dados disponibilizados pelo INMET, Agritempo e IBGE. Com relação à precipitação nas áreas das principais regiões produtoras de grãos, destaca-se:
- a ocorrência de anomalias negativas ao longo do ciclo da cultura da soja e do milho de 1ª safra. Essas duas culturas encontram-se em período crítico quando a deficiência hídrica pode causar redução do rendimento.
- nas áreas produtoras de feijão de 1° safra em Minas Gerais, Goiás, Bahia, Piauí e Ceará observam-se baixos índices pluviométricos durante a fase de desenvolvimento vegetativo, floração e maturação.
- apesar da ocorrência de precipitação na estação chuvosa na região Sudeste do Brasil, a deficiência hídrica acumulada durante 2014 acarreta efeitos negativos na produção das culturas de verão, com calendário vigente de setembro/outubro de 2014 a fevereiro/março de 2015. Várias áreas estão sofrendo com a escassez hídrica, indicando riscos potenciais para a agricultura.
- na região produtora do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), a baixa disponibilidade hídrica no solo pode acarretar diminuição de rendimento e de produtividade do milho de 1°safra (Figura 3).
Figura 3 - Exemplo de análise realizada com destaque para a disponibilidade de água no solo e principais regiões produtoras de milho de 1°safra. Fonte: Agritempo, IBGE. Processamento e Análise: Embrapa Monitoramento por Satélite.
Posteriormente, foi realizada uma avaliação da disponibilidade de água no solo (DAS) para o segundo decêndio de janeiro de 2015, comparando a situação atual com a disponibilidade média histórica para o mesmo período. Constatou-se que:
- a DAS atual se encontra muito abaixo da média histórica para o período.
- para algumas regiões, a quantidade de água representa apenas 50% ou menos do esperado.
- os estados de AL, ES, GO, MG, PE, PR, RJ, RO e SE apresentam os menores percentuais de DAS atual (Figura 4).
Figura 4 - Mapas da disponibilidade de água no solo: média histórica, atual e desvio em relação à média para o 2º decêndio de janeiro. Fonte: Agritempo. Processamento e Análise: Embrapa Monitoramento por Satélite.
Mapas sobrepostos às regiões de 2ª safra
Foram analisadas informações sobre o clima e as previsões climáticas para o período de fevereiro a abril de 2015. De acordo com o INMET, as observações sobre as temperaturas das águas superficiais nos oceanos Pacífico equatorial e Atlântico tropical indicam que, na região típica do fenômeno El Niño, as anomalias diminuíram, mostrando condições de neutralidade. Porém, nota-se forte aquecimento nas águas a oeste do Pacífico, próximas à Indonésia, que podem ter forte influência negativa sobre o clima nas regiões Sul e parte do Sudeste do País. Por outro lado, no Atlântico tropical, nota-se um padrão de anomalias na temperatura das águas superficiais que tende a manter a Zona de Convergência Intertropical (ITCZ) mais ao norte, desfavorecendo as chuvas sobre a região norte do Nordeste.
Figura 5 - Mapas da disponibilidade de água no solo nas principais regiões produtoras de milho durante a 2ª safra. Fonte: Agritempo e IBGE - Processamento: Embrapa Monitoramento por Satélite
Figura 6 - Mapas da disponibilidade de água no solo nas principais regiões produtoras de feijão durante a 2ª safra. Fonte: Agritempo e IBGE - Processamento: Embrapa Monitoramento por Satélite
Figura 7 - Mapas da disponibilidade de água no solo nas principais regiões produtoras de feijão durante a 3ª safra. Fonte: Agritempo e IBGE - Processamento: Embrapa Monitoramento por Satélite