Apresentação

Os impactos adversos de mudanças climáticas sobre a produção agrícola têm despertado preocupações quanto à segurança alimentar em nível global. O uso de parentes silvestres de plantas cultivadas em programas de melhoramento está entre as opções disponíveis que pode contribuir de forma significativa para enfrentar esses desafios. Parentes silvestres compreendem espécies nativas que compartilham ancestralidade relativamente recente com plantas cultivadas e representam uma fonte potencial importante de características valiosas para programas de melhoramento derivadas de adaptações a uma variedade de habitats. Essas espécies silvestres têm fornecido caracteres de resistência contra insetos e doenças, para tolerância a estresses abióticos e têm contribuído com aumento de produtividade para diversas culturas como banana, feijão, mandioca, milho, aveia, batata, arroz, cana-de-açúcar, tomate e trigo, dentre outras. Nos últimos 20 anos houve um contínuo aumento nos lançamentos de cultivares contendo genes derivados dos parentes silvestres e estas contribuições devem aumentar com o desenvolvimento crescente de técnicas moleculares.

Os programas de melhoramento têm obtido material de parentes silvestres a partir dos bancos de germoplasma. Porém, ainda há expressivas lacunas de diversidade genética de importantes culturas nas coleções de germoplasma existentes que podem ser preenchidas com atividades de coleta e conservação mais extensivas de parentes silvestres. Ao mesmo tempo há alguns fatores que são atualmente críticos: a maioria das espécies de parentes silvestres pode estar ameaçada por alterações ambientais antrópicas, como desmatamento e mudanças climáticas, com risco elevado de erosão genética e extinções; há um declínio significativo nas últimas décadas relativo aos esforços internacionais para a coleta de recursos genéticos; apenas entre 2 a 10% das coleções globais de germoplasma possuem acessos de parentes silvestres e essas amostras compreendem apenas uma ínfima proporção das espécies silvestres disponíveis. Em vista desses aspectos, a urgência de ações para a conservação de parentes silvestres tem sido reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação-FAO no Tratado Internacional de Recursos Fitogenéticos e em diversos outros tratados internacionais, como a Convenção sobre Diversidade Biológica.

O Brasil possui uma rica biodiversidade que demanda esforços contínuos de conservação e usos sustentáveis frente à intensa fragmentação de habitats e alteração de paisagens naturais observada nas últimas décadas em todos os grandes biomas, como a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e a Mata Atlântica. Um elevado número de espécies vegetais nativas têm sido importante fonte de renda e de garantia para a segurança alimentar em todos esses biomas. Para uma parte da elevada diversidade de espécies vegetais nativas distribuídas no Brasil, como amendoim (Arachis), pimenta (Capsicum), mandioca (Manihot), caju (Anacardium), seringueira (Hevea), frutíferas nativas do Cerrado e Amazônia, ornamentais e forrageiras, o pool genético silvestre tem sido coletado, acessado para usos múltiplos e conservado com o objetivo de buscar a amplitude da variedade genética para esses grupos. Ainda há, porém, lacunas para coleta e conservação de outros grupos como, por exemplo, arroz (Oryza), batata (Solanum) e batata-doce (Ipomoea), dentre outras espécies.

O Grupo de Pesquisa Parentes Silvestres e Espécies Vegetais Nativas visa: desenvolver pesquisas integradas em conservação e uso sustentável de parentes silvestres de espécies cultivadas e espécies vegetais nativas; buscar novos produtos e fontes de variabilidade genética na biodiversidade brasileira para o desenvolvimento agrícola e para a garantia da segurança alimentar; fomentar a discussão e o intercâmbio de informações sobre resultados de projetos, estado da arte e tendências de pesquisa relacionadas com a conservação e o uso sustentável de espécies vegetais nativas; e divulgar resultados de pesquisa para um público diversificado.