02/03/16 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Representante da FAO no Brasil conhece tecnologias para controlar o mosquito transmissor da dengue

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Foto: Adilson Werneck

Adilson Werneck - A pesquisadora Rose Monnerat apresenta a coleção de bactéria a Alan Bojanic e Ladislau Martin Neto

A pesquisadora Rose Monnerat apresenta a coleção de bactéria a Alan Bojanic e Ladislau Martin Neto

Alan Bojanic pretende difundir o uso de bioinseticidas para outros países da América Latina.

O representante da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Alan Bojanic, esteve hoje (02/03) na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia acompanhado do diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Ladislau Martin Neto. O objetivo foi conhecer os inseticidas biológicos desenvolvidos pela Unidade para controle do mosquito transmissor da dengue, febre amarela, zika e chicungunya, o Aedes aegypti. Ele foi recebido pelo chefe-geral, José Manuel Cabral, e pela pesquisadora Rose Monnerat, responsável pelo desenvolvimento dos produtos.

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia desenvolveu, em parceria com empresas privadas, dois bioinseticidas para controlar o Aedes aegypti: o Bt-horus, em 2005 – com a Bthek Biotecnologia, hoje União Química - e este ano o Inova-Bti com o apoio do Instituto Matogrossense do Algodão (IMA). O primeiro já está no mercado e o segundo está em fase final de testes para ser registrado junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Rose Monnerat explica que os produtos são formulados a partir da mesma bactéria, Bacillus thuringiensis israelensis, que de acordo com ela, é utilizada em programas de controle biológico há mais de 40 anos em vários países, sem nunca ter sido relatado um caso de resistência do mosquito. Por isso, a bactéria, que é entomopatogênica (específica para controlar o inseto-alvo e, portanto, inofensiva a qualquer ser vivo) é recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para aplicação na água utilizada no consumo humano.

As cepas (variedades) da bactéria utilizadas na formulação dos produtos são oriundas do banco de bactérias mantido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em Brasília, que hoje conta com mais de 2.800 estirpes. Segundo a pesquisadora, esse banco é um manancial genético à disposição da ciência, não apenas para desenvolvimento de inseticidas biológicos contra mosquitos transmissores de doenças e insetos que atuam como pragas na agricultura, como as lagartas, por exemplo, mas também como fontes de outras informações em prol do controle biológico no Brasil. "Uma das pesquisas que estamos investindo atualmente é no sequenciamento dos genomas das estirpes de bactérias que compõem o banco. Já temos 13 sequenciadas, com mais de 70 genes identificados. Nossa meta é sequenciar as 2.800", ressalta.

Vale destacar que o Laboratório de Bactérias Entomopatogênicas (LBE), no qual todos esses estudos são desenvolvidos, é o único da Embrapa acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO) para realização de ensaios biológicos.  Isso dá ao laboratório credibilidade para prestar serviço a empresas públicas e privadas do Brasil e do exterior parceiras ou não.

"Mais do que matar o mosquito, é preciso educar", enfatiza Rose Monnerat

O chefe-geral da Unidade, José Manuel Cabral, e a pesquisadora Rose Monnerat enfatizaram para o representante da FAO no Brasil que a única maneira de acabar com as doenças transmitidas pelo Aedes é erradicar o vetor. "Ele é o responsável pela disseminação das enfermidades. Hoje, são quatro, mas amanhã podem ser mais. Por isso, a única solução é exterminar o mosquito", afirmaram.

Mas, na opinião da pesquisadora, além de utilizar os larvicidas biológicos para erradicar as larvas do mosquito, é preciso educar a população. "Por isso, a melhor solução para se livrar dos efeitos nocivos do Aedes é o manejo integrado", destaca.

Estimativas apontam que mais de 90% dos criadouros do mosquito estão dentro das residências das pessoas e os bioinseticidas desenvolvidos pela Embrapa podem ser utilizados dentro de casa. "Mas, é fundamental orientar a população para usá-lo corretamente", completa.

Campanha em São Sebastião: inovação no combate à dengue

Um exemplo de sucesso nesse sentido foi a campanha conduzida pela Embrapa Recursos Genéticos, em parceria com o Governo do Distrito Federal (GDF) na cidade satélite de São Sebastião, DF, em 2007, que resultou na diminuição da infestação do mosquito, de 4% para menos de 1%, o que é considerado aceitável pela Organização Mundial de Saúde. A cidade foi escolhida porque, na época, era a que apresentava o maior índice de infestação do mosquito por casa. Naquele ano, São Sebastião tinha cerca de 70 mil habitantes, hoje já são mais de 100 mil.

A campanha foi inovadora porque utilizou, pela primeira vez no país, um produto biológico no combate ao mosquito. O Bt-horus foi distribuído gratuitamente nas cerca de 20 mil residências de São Sebastião por agentes de saúde, funcionários do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e líderes comunitários, que foram treinados pelos pesquisadores da Embrapa e da Bthek. O inseticida biológico foi aplicado diretamente nos focos de proliferação do Aedes aegypti, como vasos de plantas, poças e qualquer concentração de água parada.

Mas, Rose faz questão de ressaltar que o êxito dos resultados obtidos só aconteceu porque, paralelamente ao uso do produto, houve um trabalho forte de conscientização da população da cidade, incluindo todas as faixas etárias. "Nós íamos de casa em casa, distribuindo o produto e um folheto contendo explicações sobre a sua aplicação", lembra.    

Isso fez toda a diferença, na opinião da pesquisadora. Apenas uma gota do bioinseticida em um litro de água é suficiente para matar as larvas do mosquito. "Mas, é preciso que as pessoas saibam disso para utilizar o produto da maneira correta", enfatiza. Segundo ela, a bactéria mata 100% das larvas e mantém a persistência por até 20 dias.

Rose e os parceiros optaram pela formulação do bioinseticida na forma líquida, em frascos de 30 ml com sistema de conta-gotas. "Parece pouco, mas quando bem utilizado, é a quantidade ideal para matar as larvas, sem percer a eficácia", explica.

Campanha despertou o interesse do representante da FAO no Brasil
    
A campanha "São Sebastião inova no combate à dengue" despertou o interesse de     Bojanic, que pretende difundir a tecnologia utilizada no desenvolvimento dos larvicidas biológicos da Embrapa para outras regiões da América Latina que também têm sofrido com a proliferação do Aedes aegypti, como por exemplo, a Colômbia, e alguns países do Caribe, entre outras. "Campanhas como essa, que reúnem multidisciplinaridade, tecnologia e educação ambiental têm que que ser usadas como modelos para outras regiões do Brasil e outros países", destacou.

O representante da FAO no Brasil conheceu todas as etapas do desenvolvimento dos inseticidas biológicos, desde o banco de bactérias até a formulação final, incluindo os estudos de clonagem e caracterização das cepas.

Embrapa e Anvisa: parceria para acelerar a regulamentação de produtos biológicos

Rose Monnerat falou ainda que uma das linhas de atuação da Embrapa para agilizar a regulamentação de produtos biológicos no Brasil é estreitar a parceria com os órgãos reguladores, a exemplo do que já é feito com êxito com a Anvisa. Essa cooperação engloba capacitação e suporte técnico-científico e tem colaborado para agilizar o registro dos produtos biológicos no país. "A regulamentação do nosso primeiro bioinseticida, o Bt-horus, demorou um ano. Hoje, um registro leva, no máximo, 45 dias.

Controle biológico: prioridade para a Embrapa

O diretor de P&D da Embrapa, Ladislau Martin Neto, ressaltou que o controle biológico de pragas e mosquitos transmissores de doenças é uma das prioridades da Embrapa. Prova disso é que um dos 23 portfólios corporativos, que constituem a base de gestão da Empresa, é sobre controle biológico.

A pesquisadora Rose Monnerat é a coordenadora desse Portfólio, que engloba cerca de 140 projetos de mais de 30 unidades da Embrapa. Além de organizar e integrar todas as iniciativas da Empresa nessa área no país, o Portfólio pretende estreitar as parcerias com o setor privado para estimular a inovação. "Hoje, temos muitos princípios ativos identificados e caracterizados, mas poucos produtos desenvolvidos", constata Rose Monnerat.

Fernanda Diniz (DRT/DF 4685/89)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

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