15/02/17 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Publicação identifica doenças fúngicas foliares emergentes em cana-de-açúcar

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Foto: Katia Nechet

Katia Nechet - Sintomas da podridão vermelha, causada pelo fungo Colletotrichum falcatum, na nervura central de folhas de cana-de-açúcar.

Sintomas da podridão vermelha, causada pelo fungo Colletotrichum falcatum, na nervura central de folhas de cana-de-açúcar.

Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) disponibilizaram estudo que apresenta ilustrações dos sintomas da podridão vermelha e mancha anelar em cana-de-açúcar com a identificação dos agentes causais para facilitar o diagnóstico correto. Baixe a publicação.

 

As principais doenças da cana-de-açúcar estão relacionadas a patógenos que causam manchas foliares, como as ferrugens, e patógenos sistêmicos transmitidos por toletes infectados, como o mosaico, escaldadura das folhas e o raquitismo-da-soqueira. O uso de variedades resistentes a manchas foliares e o tratamento de toletes por termoterapia são medidas de controle que vem sendo adotadas para a redução de perdas.

 

Entretanto, explica a pesquisadora Katia Nechet, uma das autoras do estudo, nos últimos três anos observou-se uma alta incidência das doenças fúngicas foliares - mancha anelar e podridão vermelha (apenas com sintoma de mancha foliar), em fazendas comerciais nos municípios de Iracemápolis, Araras e Guaíra, no estado de São Paulo; doenças consideradas secundárias, com escassez de ilustrações dos sintomas, que podem ser confundidos com os sintomas de outras manchas foliares.

 

A adoção de novas práticas agrícolas interfere na ocorrência de doenças. A incidência de doenças consideradas secundárias deve ser monitorada, visando avaliar seu impacto no manejo fitossanitário. O diagnóstico precoce e correto é a principal ferramenta para embasar esse acompanhamento ao longo do tempo.

 

De acordo com a FAO, o Brasil possui aproximadamente 9,8 milhões de hectares de área colhida com cana-de-açúcar, dos quais 54% são cultivados em terras paulistas, utilizando colheita mecanizada e crua, virtude do aproveitamento quase total da cultura como matéria-prima, voltada para a produção de açúcar, biocombustível, fertilizante e eletricidade, passando a ser referenciada como fonte de biomassa.

 

O aumento da área cultivada – 5,97 milhões de hectares na safra 2015/2016 tem sido acompanhado de crescente preocupação com os impactos ambientais e sociais. Uma das medidas adotadas foi a proibição da queimada em canaviais no Estado de São Paulo, seguindo um esquema de restrições legais progressivas até o ano de 2021, em áreas com possibilidade de mecanização total da colheita, e até 2031 para as demais áreas.

 

A manutenção da palhada em áreas sem queima prévia (cana crua) e a adoção de outras práticas conservacionistas como o cultivo mínimo, o plantio direto e a substituição de fertilizantes nitrogenados químicos por inoculantes são medidas que tendem a reduzir os riscos de degradação produtiva. Entretanto, essas mudanças, interferem, ao longo do tempo, na fitossanidade e consequentemente no manejo da cultura.

 

A mancha anelar, causada pelo fungo Leptosphaeria sacchari, é considerada uma doença comum em canaviais, mas de pouca importância econômica, uma vez que sua ocorrência sempre esteve associada às folhas velhas e senescentes da planta. Embora os sintomas ocorram, principalmente nas folhas, o fungo pode atacar a bainha e o caule das plantas. A doença tem sido considerada fator de estudo, apenas nos programas de melhoramento na eliminação de genótipos suscetíveis.

 

Os seus sintomas são caracterizados por manchas de formato fusiforme inicialmente amarronzadas com bordos escuros. Com o progresso da doença, a lesão expande e se torna cor de palha. Em seu centro é comum observar pontuações pretas e pequenas que são os corpos de frutificação do fungo. No monitoramento conduzido pelos pesquisadores, observou-se a ocorrência da doença não apenas em folhas senescentes, mas também em folhas novas e em alguns casos com uma severidade alta.

 

A podridão vermelha, causada pelo fungo Colletotrichum falcatum, ocorre em vários estádios da planta e com sintomatologia diferenciada, causando morte de gemas, ocasionando redução da germinação de toletes, manchas em folhas e apodrecimento do colmo do órgão. Quando o ataque é nos colmos, em função da suscetibilidade da cultivar, ocorre redução de produção devido à morte dos colmos e à redução do conteúdo e pureza da sacarose, que é convertida em frutose e glucose.

 

Todo sintoma associado ao fungo C. falcatum é denominado de podridão vermelha, embora a podridão só ocorra quando o ataque é nos colmos das plantas. Os sintomas em folhas não ocasionam podridão, mas teoricamente podem ser fonte de inóculo para a infecção em outras partes da planta.

 

Em nosso levantamento, observamos os sintomas da doença tipicamente distribuídos na nervura central das folhas, o que facilita a sua identificação. As lesões são inicialmente ovaladas de coloração bege e circundadas por halo vermelho. Com o seu progresso, as lesões tornam-se maiores e assumem coloração vermelho-amarronzada. Algumas se tornam escuras quando mais velhas. Em uma mesma área é possível encontrar plantas com diferentes níveis de severidade, com sintomas de pequenas lesões isoladas até o avermelhamento completo da nervura central, caracterizando o sintoma típico de estria avermelhada.

 

Na maioria das observações, as duas doenças ocorreram simultaneamente”, explica Katia. Estudos complementares serão conduzidos visando correlacionar a produtividade da cultura com diferentes níveis de severidade.

 

O estudo de Katia Nechet, Nilza Patrícia Ramos e Bernardo de Almeida Halfeld-Vieira pode ser acessado em

http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/154634/1/2016CT04.pdf

 

Cristina Tordin (MTB 28499)
Embrapa Meio Ambiente

Telefone: 19 3311 2608

Mais informações sobre o tema
Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC)
www.embrapa.br/fale-conosco/sac/