Acre e Mato Grosso compartilham experiências em pecuária sustentável
Acre e Mato Grosso compartilham experiências em pecuária sustentável
As alternativas tecnológicas para combate à morte do capim braquiarão e as técnicas para intensificação e recuperação de pastagens são tema do Primeiro Workshop "Intercâmbio de Experiências em Pecuária Sustentável" realizado no período de 12 a 14 de maio, em Rio Branco. Promovido pelas Unidades da Embrapa do Acre e Mato Grosso, em parceria com o Instituto Centro de Vida, organização sediada em Cuiabá e Alta Floresta (MT), que atua na promoção de boas práticas agropecuárias na Amazônia, o evento reúne pesquisadores, técnicos da extensão rural e produtores rurais dos dois estados, com o objetivo de trocar experiências, ampliar conhecimentos e identificar alternativas para aumentar a sustentabilidade da atividade pecuária.
Na terça-feira (12), as atividades aconteceram na sede da Embrapa, com apresentação de um panorama geral do problema da morte do capim braquiarão no Acre e Mato Grosso e de resultados de pesquisas envolvendo o uso de pastagens consorciadas e o plantio direto como técnica para formação de pastos, finalizando com um ciclo de debate em torno dessas temáticas. Nos dias 13 e 14 os participantes visitam propriedades rurais para conhecer experiências exitosas com o uso de tecnologias que ajudaram a resolver o problema da degradação de pastagens e tornaram a atividade pecuária mais produtiva.
As propriedades visitadas, localizadas nos municípios de Rio Branco e Bujari, são consideradas referência no uso de sistemas pecuários sustentáveis, a partir do uso de um conjunto de tecnologias simples e de baixo custo. A diversificação de pastagens, o pastejo rotacionado, a inseminação artificial e as boas práticas no manejo do solo, das pastagens e do rebanho são algumas das alternativas tecnológicas adotadas por produtores do Acre para elevar a produtividade, proporcionar maior retorno financeiro e reduzir a pressão da atividade pecuária sobre as florestas. "Um dos principais ganhos proporcionados pelo uso de tecnologias foi o aumento da taxa de lotação das pastagens de 1,5 para 3 animais/hectare, bem superior à média brasileira de um animal/hecatare, explica o médico veterinário Bruno Pena, Analista da Embrapa Acre e um dos coordenadores do evento.
Para o pesquisador da Embrapa Agrossivipastoril (Sinop/MT), Bruno Pedreira, a pecuária vem passando por um processo de mudança e o esforço conjunto de instituições e produtores na busca por sistemas mais sustentáveis mostra a necessidade de um olhar diferenciado para a atividade, com foco na gestão da propriedade. "Conhecer novas experiências ajuda a reduzir erros e a melhorar a rentabilidade do negócio pecuário. Os conhecimentos compartilhados podem auxiliar na tomada de decisões futuras, que possam contribuir para a construção de uma pecuária mais competitiva e sustentável", afirma.
Segundo Judson Valentim, pesquisador da Embrapa Acre, as iniciativas de atuação integrada visam contribuir para promover o acesso de produtores a conhecimentos e tecnologias para melhoria dos sistemas de produção pecuária. "Esperamos que iniciativas como esta possam inspirar o desenvolvimento de ações semelhantes de integração e disseminação do conhecimento por outros estados da Amazônia Legal que também convivem com o problema da morte súbita de pastagens".
Síndrome da morte do braquiarão
O Brasil é o segundo maior produtor e o maior exportador mundial de carne bovina e essa produção apoia-se basicamente no uso de sistemas a pasto que garantem alimentação para o rebanho. De acordo com o último Censo Agropecuário, existem no país 172,3 milhões de hectares de pastagens (naturais e cultivadas), espalhados pelas diversas regiões, e grande parte dessas áreas apresenta algum estágio de degradação. Na Amazônia, a principal causa desse problema é a síndrome da morte do capim braquiarão, doença também conhecida como "morte súbita", descoberta na década de 1990, no Acre, que acomete principalmente pastagens com o capim brachiaria brizantha, cultivar Marandu, na região Norte e parte do Centro Oeste, onde o regime de chuvas é mais intenso.
Para conhecer a real dimensão do problema no estado do Acre, a Embrapa realizou, em 2000, o zoneamento de risco edáfico de ocorrência da morte do capim braquiarão, identificando tanto as áreas afetadas como os diferentes estágios da doença. O estudo revelou que um terço das pastagens cultivadas com esse capim, correspondente a 500 mil hectares, estavam degradadas ou em processo de degradação. O estudo também apontou que o problema está relacionado à pouca tolerância dessa gramínea a solos de baixa permeabilidade, característicos da região.
No Mato Grosso, detentor do maior rebanho bovino do país, com 28,6 milhões de cabeças, o problema vem se agravando, em virtude dos elevados índices pluviométricos e da predominância de solos mal drenados. Seguindo a mesma metodologia adotada no Acre, a pesquisa de risco edáfico de ocorrência da morte do braquiarão, concluída em 2014, identificou mais de 32 milhões de hectares de pastagens com risco moderado a muito forte de degradação no estado.
A síndrome da morte do capim braquiarão se manifesta durante o período das chuvas e ocorre de forma mais agressiva em áreas encharcadas. Valentim explica que essa situação de encharcamento, associada às condições climáticas da região, com predomínio de altas temperaturas, favorece o desenvolvimento de fungos no solo, que atacam a raiz do capim, causando a morte da pastagem. "A doença reduz a capacidade de suporte do pasto e provoca perda na produtividade do rebanho, resultando em prejuízo para os produtores", esclarece o pesquisador.
Soluções tecnológicas
Para solucionar o problema, desde o final da década de 1990 a Embrapa atua em pesquisas para desenvolvimento de variedades de forrageiras mais adaptadas às condições de clima e solo dos estados amazônicos, para substituição do capim braquiarão, gramínea largamente utilizada na Amazônia. Esse esforço de pesquisa resultou na recomendação dos capins Brachiaria humidicola, Xaraés, Tangola (cultivar Laguna), do Panicum maximum BRS Zuri e da grama estrela-roxa (cultivar Lua), entre outras tecnologias que estão disponíveis no mercado e têm sido utilizadas por produtores rurais dos diversos estados amazônicos.
Conforme esclarece Valentim, o uso destes capins consorciados com leguminosas é outra alternativa eficiente para a recuperação de pastagens degradadas na Amazônia. Uma das espécies mais utilizada é o amendoim forrageiro, planta que apresenta alto valor nutricional (em torno de 22% de proteína), elevada capacidade de fixação de nitrogênio e boa resistência a pragas e doenças. Somente em áreas rurais do Acre foram recuperados 138 mil hectares de pastagens com as cultivares de capins recomendados pela Embrapa consorciados com amendoim forrageiro. "O consórcio com essa leguminosa melhora a qualidade e a longevidade das pastagens, contribuindo para aumentar em até 30% a produção de carne e leite", destaca.
Um dos resultados práticos do evento será a construção de uma agenda integrada de ações, visando promover a disseminação de tecnologias para desenvolvimento da pecuária e a sua adoção em larga escala por produtores do Acre e Mato Grosso.
Pastagens em números
- 172,3 milhões de hectares de pastagens no Brasil.
- Um animal/hectare é a média brasileira de lotação de pastagens.
- 3 animais/hectare é média de lotação de pastagens com adoção de tecnologias no Acre.
- 500 mil hectares de pastagens estavam degradadas no Acre, em 2000.
- 138 mil hectares de pastagens recuperadas no Acre, com o uso de tecnologias.
- 32 milhões de hectares de pastagens com risco moderado a muito forte de degradação no estado do Mato Grosso.
- Dez variedades de forrageiras para diversificar pastagens.
Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre
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