06/03/18 |   Produção vegetal

Mapeamento de nematoides do algodoeiro auxilia no manejo do parasita na Bahia

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Foto: Fabiano Perina

Fabiano Perina -

Embrapa, em parceria com a Fundação Bahia e a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), com financiamento do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), estão realizando um levantamento da ocorrência de nematoides no oeste baiano, que concentra 94% da produção de algodão do estado. O objetivo é quantificar e mapear a ocorrência de espécies desses parasitas associados ao algodoeiro e avaliar as melhores técnicas de manejo para contornar o problema. Nesse trabalho inédito, também serão avaliadas a interação entre as espécies e a densidade populacional com as perdas de produtividade e características do sistema de cultivo, além das características físicas e químicas do solo da região.

Segundo maior produtor nacional de algodão, com 200 mil hectares de área plantada na última safra, a Bahia tem sofrido perdas de produtividade associadas à presença de nematoides. Esses parasitas atacam as raízes das plantas e prejudicam a absorção de água e nutrientes. Com frequência os produtores não sabem que esses parasitas estão presentes em suas lavouras porque os sintomas da planta afetada se confundem com deficiências nutricionais, compactação ou encharcamento do solo. Estima-se que esses vermes microscópicos do solo causem perdas de 12% da produção à agricultura mundial. O agronegócio nacional contabiliza anualmente prejuízos de cerca de R$ 35 bilhões com o parasita, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN).

As espécies com maior importância econômica no algodoeiro são: o nematoide de galhas (Meloidogyne incognita), o nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis) e o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus). Elas possuem uma ampla gama de hospedeiros, podendo infectar tanto plantas daninhas quanto as culturas utilizadas nos sistemas de sucessão ou rotação de culturas, a exemplo da soja, do milho e do feijão.

Real dimensão do problema

O fitopatologista da Embrapa Algodão Fabiano Perina, que coordena a pesquisa, acredita que o conhecimento e a quantificação das espécies de nematoides predominantes é primordial para o planejamento de medidas de manejo. “Apesar da sua importância econômica, pouco se sabia sobre a real dimensão do problema dos nematoides na região oeste da Bahia e, menos ainda, sobre a sua distribuição em áreas produtoras de algodão. A carência dessas informações dificulta o manejo e possibilita a ocorrência de surtos repentinos, uma vez que os sintomas do ataque de nematoides só aparecem quando há altas densidades populacionais, momento em que a produtividade da cultura já foi drasticamente reduzida”, explica.

Na safra 2016-2017, foram realizadas amostragens em 120 mil hectares de áreas com cultivo de algodoeiro comercial no oeste da Bahia, distribuídas em 52 fazendas de oito municípios. A pesquisa segue na safra 2017-2018, com a meta de realizar amostragens em 200 mil hectares até a colheita da safra. Além de amostras nematológicas, em cada talhão estão sendo coletadas amostras para análise de fertilidade, física do solo, fitopatológicas, variabilidade genética e agressividade de certas espécies de nematoides, além de dados sobre o sistema de cultivo (sistema convencional ou plantio direto, irrigado ou sequeiro) e o histórico da área. Esses dados estão sendo analisados por pesquisadores de três Unidades de pesquisa da Embrapa: Embrapa AlgodãoEmbrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e Embrapa Instrumentação, além da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB).

Espécies mais encontradas

De acordo com os resultados obtidos até o momento, o nematoide das lesões radiculares foi encontrado com maior incidência e distribuição espacial, diagnosticado em 70% das amostras, seguido do nematoide de galhas, presente em 47% das amostras e do nematoide reniforme, que apresentou incidência de 15%.

Perina relata que os resultados obtidos no diagnóstico de nematoides nesta primeira etapa do estudo indicam que entre as espécies diagnosticadas, o nematoide de galhas é a espécie que apresenta maior risco de perdas para o cultivo do algodoeiro no Oeste da Bahia, seguido pelo nematoide reniforme. “Apesar de estar presente na maioria das áreas de cultivo, o nematoide das lesões radiculares não aparenta ter relação direta com perdas na produtividade do algodoeiro. Entretanto, deve se ter cautela com o aumento populacional dessa espécie, tendo em vista a sua predominância nas áreas de produção e sua relevância quando associado a outras espécies de nematoides e patógenos de solo”, adverte.

Em apenas 17% das áreas amostradas não foi detectada a presença de nematoides de importância econômica associados à cultura do algodoeiro. Em 58% das áreas, foi diagnosticada a presença de mais de uma espécie de nematoides, com predominância de infeções causadas por nematoide de galhas associado ao nematoide das lesões radiculares (35%), seguida por nematoide das lesões radiculares com nematoide reniforme (11%), nematoide de galhas com nematoide reniforme (7%) e a associação das três espécies, que ocorreu em 5% das áreas amostradas.

Avaliação de práticas de manejo

Em paralelo ao levantamento, foram instaladas três unidades demonstrativas em municípios baianos, duas em Barreiras e uma em São Desidério, com técnicas de manejo de nematoides. Foram avaliadas técnicas culturais, químicas e biológicas de controle de nematoides, aplicadas de forma isolada ou integradas. Entre as técnicas testadas estão: tratamentos de sementes; rotação de culturas visando o plantio de algodoeiro, utilizando-se duas cultivares de soja resistentes; e aplicação de matéria orgânica.

“Os resultados obtidos nas três unidades demonstrativas mostraram que a rotação de culturas com utilização de soja resistente a nematoide-das-galhas, associada à prática cultural de aplicação de matéria orgânica (de cinco a 11 toneladas por hectare), são técnicas promissoras para o manejo do nematoide de galhas”, conta Perina.

Nematoides em Mato Grosso

Iniciativa semelhante foi feita em Mato Grosso, maior produtor nacional de algodão com 627 mil hectares de área plantada. O levantamento foi realizado pelo Instituto Matogrossense de Algodão (IMAmt), em parceria com a Embrapa e a Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat). A espécie de maior incidência na cultura do algodoeiro no estado foi o nematoide de galhas, presente em 25% da área cultivada, seguida pelo nematoide reniforme, detectado em 15% da área. “Somando essas duas espécies, nós temos mais de 35% da área com nematoide, o que é preocupante”, observou o fitopatologista do IMAmt Rafael Galbieri.

Galbieri alerta que os danos causados pelo nematoide dependem do crescimento da sua população. “Quando uma área é infectada por nematoides, pode levar cerca de cinco anos para que os danos sejam visíveis. Não é como um patógeno aéreo, ele tem limitação de locomoção e multiplicação, mas depois que ele está numa população alta é muito difícil o manejo”, explica. “É impossível erradicar os nematoides, mas é possível amenizar os problemas nas lavouras”, completa.

Saiba como controlar os nematoides

Identificar e quantificar o problema - A identificação correta da espécie é fundamental para o manejo do parasita. Existem várias espécies e cada uma requer um manejo específico. Como se tratam de vermes microscópicos esse diagnóstico precisa ser realizado em laboratórios especializados. Áreas da lavoura com reboleiras (manchas) de desenvolvimento insatisfatório são indício da presença de nematoides.

Fazer rotação de culturas – Algodão, soja, milho e feijão são, muitas vezes, hospedeiras das mesmas espécies de nematoides. Quando cultivadas em sucessão, essas culturas favorecem o aumento da incidência dos parasitas. Para quebrar o ciclo, é preciso escolher culturas resistentes ou que não favoreçam a sua multiplicação. Exemplos: soja resistente, Crotalária spectabilis, mamona, amendoim e braquiária.

Limpar o maquinário – Uma das principais formas de contaminação por nematoides são as máquinas e implementos agrícolas. É preciso retirar a terra que fica aderida aos pneus e partes ativas dos implementos. Outra dica é começar os trabalhos primeiro nas áreas que não estão contaminadas. Para isso, é importante um diagnóstico detalhado da sua ocorrência.

Monitorar continuamente – Fazer a amostragem da lavoura periodicamente. A cada safra, colher amostras de solo e das raízes e enviar para análise em laboratório para acompanhar a evolução do problema e tomar as medidas necessárias. Isso permitirá não só o acompanhamento, mas também inferir se as medidas de controle tomadas surtiram ou não efeito na população do parasita no solo.

Edna Santos (MTb 01700/CE)
Embrapa Algodão

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