04/04/18 |   Manejo Integrado de Pragas

"Aqui aprendemos que não podemos falar em erradicação"

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Foto: Guilherme Viana

Guilherme Viana - Josefa Sacko, comissária da União Africana para Economia Rural e Agricultura

Josefa Sacko, comissária da União Africana para Economia Rural e Agricultura

Depois de conhecer uma propriedade rural de 40 hectares no município de Paraopeba, na região Central de Minas Gerais, onde o controle biológico da lagarta-do-cartucho com a vespinha Trichogramma tem se mostrado eficiente nas lavouras de milho, Josefa Sacko, comissária da União Africana para Economia Rural e Agricultura (na foto, ao centro), disse que a tecnologia seria a mais adaptada para o continente. Integrante da delegação de 10 países africanos que visitou o Brasil na última semana de março para conhecer técnicas de controle da praga que está devastando as lavouras de milho em 35 países, a comissária concedeu a seguinte entrevista após conhecer o processo de multiplicação da vespinha Trichogramma, um dos principais predadores naturais da lagarta-do-cartucho, na JB Biotecnologia, empresa que comercializa agentes de controle biológico. 

Embrapa – Qual a realidade vista nos países africanos em relação aos danos provocados pela lagarta-do-cartucho nas lavouras de milho?  

Josefa Sacko – A União Africana congrega todos os países da África e zela pelo desenvolvimento e pela transformação do nosso Continente. Temos registro da presença da lagarta há cerca de dois anos, sendo que as primeiras infestações ocorreram na Nigéria. Em 2017, registramos a praga em 25 países, mas ela tem uma capacidade tão invasiva que hoje temos 35 países afetados pela lagarta. Ainda não conseguimos quantificar os danos causados, mas estamos trabalhando com os parceiros como a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e a Usaid (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) para fazer o levantamento. Esse é o objetivo deste seminário realizado no Brasil, trocando experiência com os países da América Latina que já têm vivência com esse problema e tentarmos transmitir essa tecnologia em nível de continente. Não conhecemos o ciclo dessa lagarta e queremos entendê-lo, trazendo nossos técnicos até aqui para aprenderem a controlar essa praga. Aqui aprendemos que não podemos falar em erradicação. Devemos aprender a conviver com ela e fazermos uma gestão integrada. 

Quais os métodos de controle feitos em seu continente antes deste seminário no Brasil?

Há países que continuam com aplicações de inseticidas. Em contrapartida, temos uma grande preocupação com a preservação do meio ambiente. Os africanos tomaram noção da seriedade das questões ambientais. Então, o controle químico entra em contradição ao que queremos preservar e também devemos levar em consideração as questões de saúde dos camponeses, além da quantidade de pesticidas nos alimentos. Temos também o registro da retirada física das lagartas do campo, mas essas tecnologias não são sustentáveis. Queremos recomendar aos nossos países uma tecnologia sã, sustentável, a luz daquilo que vimos aqui no Brasil. 

Das tecnologias conhecidas na Embrapa, qual seria a mais potencialmente aplicável à África?

Eu diria que a mais adaptada seria o controle biológico por meio da vespinha Trichogramma. Como se trata de um método integrado, pensamos em uni-la ao controle da lagarta pelo uso do nim, que também é um inseticida biológico, que temos grande quantidade nos países africanos. 

Como será a execução do trabalho de controle da lagarta-do-cartucho na África?

Podemos trazer técnicos para conhecerem as tecnologias no Brasil, como o processo de produção dos inimigos naturais nessa biofábrica visitada. O ideal seria que os técnicos daqui fossem para lá e ensinassem in loco como são feitas essas práticas. O Trichogramma tem um ciclo de vida muito curto e seria melhor uma parceria na qual os técnicos brasileiros fossem até à África e ensinassem a montar essas biofábricas nos nossos países.  

Guilherme Viana (MG 06566 JP)
Embrapa Milho e Sorgo

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