15/05/18 |   Produção vegetal  Gestão ambiental e territorial

Pesquisa desenvolve abacaxi ornamental de olho no mercado europeu

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O lançamento das duas primeiras cultivares de abacaxi ornamental pela Embrapa insere pequenos e grandes fruticultores no ramo de floricultura abrindo um forte mercado de exportação. Comercializado na Europa há mais de uma década, o abacaxi ornamental ainda tem mercado inexpressivo no Brasil, mas apresenta potencial de expansão.

O BRS Anauê e o BRS Boyrá foram desenvolvidos a partir de outras variedades conservadas no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de abacaxi da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), que possui mais de 700 acessos. As novas cultivares vão incrementar um segmento dinâmico e em franco crescimento. O Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor) calculou que, em 2017, houve incremento de 9% no setor em todo o País, com faturamento de R$ 7,2 bilhões.

“Dentre as variedades silvestres, que não são comestíveis, muitas possuem frutos pequenos, hastes retorcidas e cores intensas e variadas, características interessantes para a exploração como variedades ornamentais. A partir de um criterioso trabalho realizado com essa coleção, foi possível identificar e melhorar materiais com potencial para usos diversos no segmento de flores.

“O melhoramento genético e a construção dos produtos pretendidos foram ações paralelas”, explica a pesquisadora Fernanda Vidigal, curadora do BAG de abacaxi, que conta com a parceria da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Banco do Nordeste do Brasil (BNB).

Novos produtos para ornamentação

As novas cultivares permitiram a geração de produtos diversificados, como plantas envasadas, flor de corte (uso da haste com a infrutescência), plantas para paisagismo (jardins e parques) e folhagens de corte (composição de vasos e arranjos). Para serem usados como flores de corte, os abacaxis precisam ter hastes longas, frutos pequenos e uma relação coroa/fruto bem equilibrada.

“Para o mercado externo, o ideal é que essas hastes tenham, no mínimo 40 centímetros, e não apresentem ondulações. No entanto, em testes realizados com consumidores e floristas brasileiros, observou-se que nossos floristas apreciam hastes sinuosas, que conferem movimentos aos arranjos florais”, relata Fernanda Vidigal.

Já a comercialização em vaso necessita de plantas compactas, com folhas e hastes curtas e frutos pequenos. “O uso no paisagismo é livre, mas algumas plantas de porte grande se prestam bem para grandes espaços. As folhas são excelentes na composição de arranjos e chegam a durar mais de 30 dias em esponjas florais”, salienta a pesquisadora.

Setor emprega até 20 trabalhadores por hectare

A cadeia produtiva de flores e plantas ornamentais é uma atividade econômica importante, em função do número de produtores envolvidos e do valor da produção. Uma fazenda emprega diretamente cerca de 15 a 20 trabalhadores por hectare, o que ajuda a fixação de pessoas no campo e a redução do êxodo rural. Por outro lado, o consumo médio anual de flores per capita no País ainda é baixo, R$ 26,50, enquanto na Europa o valor equivale a R$150.

O cultivo de fruteiras ornamentais traz vantagens para os pequenos produtores. “Trata-se de uma atividade que permite a utilização de mão-de-obra familiar. Além disso, proporciona um aumento da renda da família com a diversificação de produtos”, destaca a pesquisadora Janay dos Santos-Serejo, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, que também participou dos trabalhos.

O manejo exige cuidados básicos como os de qualquer cultura, como a utilização de mudas de qualidade e o combate de pragas e doenças. A aparência das plantas não pode ser deixada de lado, lembra Fernanda. Esses cuidados podem garantir aos produtores bons preços para comercialização.

No Ceará, estado com tradição na produção de flores tropicais, o abacaxi ornamental representa atualmente o segundo produto mais exportado da floricultura e sua comercialização está pautada em apenas duas cultivares — uma delas (Ananas comosus var. erectifolius) corresponde a 75 % do total exportado.

Bananeiras ornamentais

A Embrapa também está desenvolvendo novas cultivares de bananeiras ornamentais tanto para plantio em vasos como para canteiros em jardins. Com 400 acessos, o BAG de bananeira da Embrapa Mandioca e Fruticultura guarda várias espécies ornamentais.

Por meio de cruzamentos controlados, a variabilidade existente no BAG já permite a geração de, pelo menos, duas novas variedades. As características mais desejadas são porte baixo, frutos reduzidos, coloração atrativa das folhas, frutos e inflorescência masculina. Nas folhas, a presença de variegação de cor púrpura, amarelada ou esbranquiçada é bastante apreciada.

A maioria dos acessos apresenta folhas de coloração verde, em diferentes intensidades. “Os minifrutos de banana para arranjos florais são novidade que encanta os consumidores, mas ainda não são explorados comercialmente, e podem representar uma inovação para o mercado de ornamentais. Na verdade, até os engaços e os corações podem ser utilizados com criatividade nos arranjos”, diz pesquisadora Janay dos Santos-Serejo, que coordena os trabalhos.

As novas cultivares ornamentais serão resistentes às principais doenças da cultura, a fim de não causar prejuízos econômicos aos bananicultores. “Um levantamento da ocorrência e da interação dos agentes causais da sigatoka-negra com bananeiras ornamentais foi realizado, visando fornecer subsídio para o desenvolvimento de ações que procuram evitar a disseminação da doença para regiões produtoras ainda não contaminadas”, ressalta Janay.

As novas cultivares devem ser lançadas em 2019. Cumprindo todas as etapas de registro e proteção, uma deve ter frutos verdes e coração rosado e a outra, frutos de cor púrpura e folhas variegadas. Já existem mais dois em andamento, com frutos verdes e cacho ereto, sendo um com coração rosado e o outro com uma coloração inédita — totalmente branco.

Validação e parcerias

Para validar o trabalho, a Embrapa estabeleceu parcerias com a ABX Tropical Flowers for Export, produtora e exportadora de flores tropicais, especializada em abacaxis ornamentais e sediada no Ceará e Rio Grande do Norte. “O mercado externo é grande consumidor de flores de corte, e o abacaxi ornamental tem uma posição já consolidada. Mesmo com as crises, a quantidade consumida não sofreu grandes alterações. Novas espécies são muito bem aceitas pelos europeus, e o mercado de flores é movimentado exatamente pelo lançamento frequente de novidades, como, por exemplo, novas variedades de rosas, cravos etc. Estava faltando o lançamento de novidades também na área de abacaxis ornamentais”, relata o diretor da ABX, Antonio Carlos Prado. O acompanhamento dos experimentos na ABX foi realizado pela equipe da Embrapa Agroindústria Tropical (CE).

Também foi firmada parceria com a Escola Rural Tina Carvalho (ERTC), em Entre Rios, no litoral norte baiano, que atua em conjunto com a Unidade em ações de transferência de tecnologia. A ideia era que alunos da instituição se interessassem em plantar os abacaxis ornamentais nas propriedades de suas famílias para fornecer a produção ao parque hoteleiro de Sauípe, potencial comprador para paisagismo de jardins e decoração de ambientes.

Para a diretora Cristiane Almeida da Costa, a parceria dá à escola a condição de intermediária entre pessoas do campo, alunos e a nova tecnologia. “Os alunos seriam o veículo, o instrumento entre a tecnologia que a escola, com ajuda da Embrapa, planta, e essas comunidades”, afirma. Adenildo dos Santos, técnico agrícola e coordenador de validação na ERTC, é um entusiasta do trabalho: “A inovação é o princípio do desenvolvimento de qualquer comunidade. Nós percebemos e entendemos que, através das tecnologias, podemos oferecer ao homem do campo um conhecimento voltado para a educação da tecnologia capaz de transformar a realidade campesina”, declara a diretora.

 

Aspectos técnicos

Em comparação aos abacaxizeiros tradicionais, o BRS Anauê tem porte médio (altura de 54 a 67 cm), hábito de crescimento semiereto, folhas curtas (comprimento de 46 a 63 cm) e sem variegação, com coloração verde-amarela sem espinhos. O pedúnculo (haste que sustenta o fruto) tem entre 37 a 45 cm e o sincarpo (fruto composto) tem coloração vermelha e coroa com duas cores (verde nas margens e vermelha na parte mais interna). Após a colheita, a haste apresenta boa durabilidade (em torno de 15 dias). Outra vantagem é a resistência à fusariose do abacaxizeiro, a mais importante doença da cultura.

Já a planta do BRS Boyrá tem porte alto (acima de 72 cm), com variegação de coloração roxa-acinzentada a verde, sem espinhos. O pedúnculo tem acima de 36 cm e o sincarpo tem coloração vermelha-acinzentada e coroa com duas cores (verde nas margens e vermelha na parte mais interna). Seu hábito de crescimento é ereto e as folhas são longas (acima de 71 cm) e a vida útil pós-colheita é de cerca de 20 dias. A variedade é moderadamente suscetível à fusariose.

Cada planta produz uma haste floral em cada ciclo de cultivo. O BRS Anauê pode ser plantado em adensamento de até 80 mil plantas por hectare enquanto o BRS Boyrá, em adensamento de 70 mil plantas por hectare.

O manejo pós-colheita é um dos principais problemas enfrentados pela floricultura brasileira, causando perdas de 20% a 50% entre a produção e a chegada ao consumidor final. Por isso, foi uma etapa fundamental na manutenção da qualidade do produto, no aumento da durabilidade e na redução das perdas de inflorescências após o corte.

Foram realizados estudos para avaliar a longevidade pós-colheita das hastes, cujo desenvolvimento é altamente influenciado pelo controle artificial do florescimento (indução floral) na etapa adequada — o florescimento natural do abacaxizeiro dificulta o controle de pragas e doenças e provoca o amadurecimento desuniforme dos frutos.

A indução floral com produtos químicos autorizados para a cultura é uma prática comum que diminui o ciclo da planta e o tempo para a colheita, uniformiza a frutificação e pode ser usada para escalonar ou ampliar o período de colheita.

“Quando são colhidas no campo, as hastes vêm com restos florais aderidos ao fruto que devem ser removidos. Elas são lavadas, colocadas à sombra para secar e enviadas ao lojista em espuma floral ou caixa de papelão. Quando vem do campo, a haste precisa passar por um processo de padronização, sendo cortada no tamanho de 30 ou 40 centímetros. Na exportação eles exigem a haste de 40 centímetros, mas no mercado nacional não é necessário”, informa Everton Hilo de Souza, professor do mestrado em Recursos Genéticos Vegetais da Embrapa e Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Léa Cunha (MTb 1633/BA)
Embrapa Mandioca e Fruticultura

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