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Tecnologias de manejo e processamento da mandioca de mesa são apresentadas em Dia de Campo no DF
Pesquisadores da Embrapa Cerrados (DF) e extensionistas rurais e técnicos em agroindústria da Emater-DF apresentaram a cerca de 300 produtores, técnicos e estudantes do Distrito Federal, de Goiás e de Minas Gerais informações sobre técnicas de manejo e processamento da mandioca de mesa em Dia de Campo realizado no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, no PAD-DF, no último dia 10. Além de acompanharem estações técnicas sobre manejo de solo e plantio; manejo do cultivo irrigado sob cobertura plástica do solo; manejo de plantas daninhas e processamento de raízes, os participantes receberam amostras de manivas-sementes da cultivar BRS 429, desenvolvida pela Embrapa.
Para a diretora de Pessoas, Serviços e Finanças da Embrapa, Selma Beltrão, a cultura da mandioca é “a cara da brasilidade”, sendo de fundamental importância no Distrito Federal. “Temos aqui cerca de 1,6 mil mandiocultores e queremos ampliar esse quantitativo com qualidade e com garantia de genética. Há uma potencialidade cada vez maior não só para o consumo e a indústria, mas também como fonte de energia”, afirmou, acrescentando que a Empresa tem buscado se aproximar de instituições como a Emater-DF e a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do DF para estimular e participar das políticas públicas.
O secretário de agricultura do Distrito Federal, Fernando Antonio Rodriguez, salientou a importância de levar aos produtores tecnologias que aumentem cada vez mais a produtividade com sustentabilidade. Também apontou a relevância da articulação de acordos de cooperação entre as instituições para implantar as políticas prioritárias para o meio rural. O presidente da Emater-DF, Cleison Duval, lembrou que a junção de esforços das instituições permitiu a realização do Dia de Campo. Ele ressaltou as qualidades da cultivar de mandioca de mesa BRS 429. “Vamos mostrar o que essa variedade é capaz de fazer quando todos os tratos culturais são feitos da forma correta. O DF tem em torno de 1,6 mil produtores (de mandioca) em 905 ha e o valor bruto da produção chega a R$ 28 milhões. Com esse material, temos a chance de ampliar esse resultado e levar mais riqueza para o campo”, afirmou.
“Vocês (produtores) são nossos agentes multiplicadores, que vão levar as novidades daqui para os vizinhos”, disse o chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia (TT) da Embrapa Cerrados, Fábio Faleiro, destacando a união dos agentes de política pública, extensão rural, pesquisa e TT e dos produtores no processo de inovação na agricultura. “Para nós é muito importante termos aqui no Parque esse projeto de pesquisa da Embrapa e da Emater-DF sobre a mandioca para mudar a realidade da produção em nosso país”, afirmou Lydia Costa, coordenadora das ações institucionais da AgroBrasília.
Manejo do solo e plantio
Segundo o pesquisador Josefino Fialho e o extensionista Kleiton Aquiles, os três fatores determinantes para sucesso da cultura da mandioca de mesa no DF são a produtividade (acima de 20 t/ha de raízes uniformes e comerciais), a qualidade culinária (polpa de raiz amarela ou creme, com pouca fibra e tempo de cozimento em torno de 30 minutos) e a regularidade de oferta das raízes (escalonar o plantio para ter raízes o ano todo). Esses fatores exigem cuidados básicos no sistema produtivo.
Ao escolher a área de plantio, o produtor deve evitar solos com teor de argila superior a 60% e com mais de 10% de declividade, além de sempre utilizar práticas de conservação de solo como o plantio em nível e o terraceamento. “É essencial escolher áreas com solos com alta drenagem, que sejam friáveis e de textura média. Solos muito argilosos favorecem algumas doenças radiculares, principalmente causadas por fungos que depreciam as raízes, além de dificultarem o arranquio e a lavagem das raízes”, explicou Aquiles.
A calagem é a principal prática inicial de manejo do solo. O extensionista lembrou que a mandioca é uma planta que tolera a acidez do solo, e que a adubação ser feita com base na análise do solo, sempre buscando a reposição dos nutrientes. Já a adubação orgânica é fundamental e atua como condicionadora de solo, fornecendo nutrientes para as plantas e melhorando a aeração do solo e a disponibilização os macro e micronutrientes.
Ao falar sobre a escolha da cultivar, Fialho destacou a elevada produtividade de raízes da BRS 429 (média de 51,1 t/ha) em relação à da variedade mais cultivada na região (média de 36,1 t/ha). A seleção e o preparo das ramas devem ser feitos em áreas livres de pragas e doenças. As ramas devem ser extraídas do terço médio do caule de plantas com 10 a 12 meses de idade, evitando-se os ramos laterais. “Recomendamos que o produtor reserve 20% da área, a melhor que ele tiver, para produzir a maniva-semente”, acrescentou, explicando que o percentual se deve ao fato de que se considera tecnicamente que cada planta de mandioca origina cinco manivas.
O pesquisador salientou que o espaçamento de plantas deve permitir a colheita com 10 a 12 meses de plantio. Ele apresentou um gráfico com diferentes densidades de plantio e produtividades, demonstrando que para a produção comercial de mandioca de mesa no DF a densidade recomendada é de 1 m2 por planta. “Com isso, no menor espaço de tempo, o produtor terá uma raiz padrão comercial com oito meses de idade”, afirmou.
Fialho também lembrou que como a maior parte das raízes emerge do pé da maniva numa única direção, é importante que o produtor, ao realizar o plantio, direcione as gemas também para uma única direção, de modo que as raízes cresçam, em maior quantidade, na mesma direção. Segundo o pesquisador, a medida facilita o arranquio no momento da colheita. “O produtor não ficará pisando nas raízes porque sabe em que direção estão as principais raízes. Com isso, ele ganha de 15 a 20% no tempo de colheita”.
O mandiocal deve ficar livre da competição com o mato nos primeiros 90 a 120 dias após o plantio – período de crescimento e diferenciação das raízes tuberosas. O mato também deve ser controlado no final do ciclo da cultura para facilitar a colheita. “Se vocês fizerem o mínimo que a cultura precisa, a resposta será uma produtividade excelente”, finalizou Fialho.
Cobertura plástica e irrigação
Os aspectos práticos da tecnologia de cobertura plástica e da irrigação na produção de mandioca foram abordados pelo pesquisador Jorge Antonini e pelo extensionista rural Antônio Cota Junior. Os dois tipos de cobertura morta que podem ser usados nos canteiros são os resíduos vegetais (milho, milheto, braquiária e outros) e o plástico ou mulching (preto, preto e branco ou preto e prata). “O plástico preto mantém o solo um pouco mais aquecido, o que é interessante para a cultura da mandioca, além de ser mais barato”, observou Cota Junior.
O uso da cobertura plástica tem como vantagens a redução da perda de água, a diminuição da temperatura do solo, as raízes conseguem explorar até a superfície do solo, o mato não nasce e, com isso, a capina é eliminada. “Com o rolo de plástico de 1000 m a R$ 830 e a diária de mão de obra a R$ 90 como média da região, isso se paga com (o valor de) quatro capinas. O resto é lucro”, calculou o extensionista.
A recomendação é fazer dois cultivos sequenciados na cobertura plástica, como tomate e feijão vagem, e só então plantar a mandioca. Segundo estudo da Embrapa, o uso da cobertura plástica associado à irrigação por gotejamento permite aumentar a produção de mandioca em até 89%.
Jorge Antonini destacou o conceito da irrigação, que é a aplicação artificial de água no solo no momento adequado e na quantidade suficiente para suprir a necessidade hídrica da cultura, provocada pela falta ou má distribuição de chuvas, visando à máxima produtividade. Entre as vantagens da irrigação para a cultura da mandioca estão a antecipação da época de plantio, a possibilidade de plantio escalonado, melhor qualidade do produto, controle de pragas e aumento da produtividade.
Ele mostrou dados comparativos de um experimento que avaliou a produtividade da mandioca com e sem irrigação e com o uso ou não do mulching numa mesma área, mostrando que o sistema irrigado com o uso da cobertura plástica apresentou a maior produtividade entre os sistemas, sendo quase o dobro da produtividade do sistema de sequeiro sem cobertura plástica. “E só com o uso do plástico, sem irrigação, houve aumento de 20% da produtividade. Isso já paga a tecnologia do plástico e não é preciso do capinador”, comentou, acrescentando que após o uso, o plástico deve ser encaminhado à reciclagem.
O pesquisador detalhou os conhecimentos técnicos necessários para o manejo da irrigação, envolvendo características do solo (determinadas em análises laboratoriais de amostras de solo), da cultura, do clima e do equipamento de irrigação. Antonini salientou que o momento correto de irrigar é determinado em função do consumo de água do solo, e ocorre quando o nível crítico de umidade é alcançado. “A partir daí, a planta terá dificuldade para retirar água do solo e começará a diminuir o potencial produtivo. Muitas vezes se deixa de irrigar no momento certo e começa a ter prejuízo na produtividade”, explicou.
Também apresentou informações sobre as características da mandioca para o manejo da irrigação e a quantidade de água necessária conforme as fases de desenvolvimento da cultura, além de dados gerados pela pesquisa sobre a capacidade de água disponível no solo e os turnos de rega durante a estação seca no DF (maio a outubro), disponíveis nesta publicação.
Manejo de plantas daninhas
Ao falar sobre o manejo de plantas daninhas, a pesquisadora Núbia Correia destacou que elas interferem na cultura da mandioca por competirem por água, nutrientes, luz e espaço, além da alelopatia (liberam substâncias químicas que prejudicam o crescimento da mandioca) e de dificultarem os tratos culturais pelo “efeito guarda-chuva” no momento das pulverizações de inseticidas e acaricidas, fazendo com que os produtos não alcancem o alvo desejado – as plantas da mandioca.
As plantas daninhas podem causar danos diretos no mandiocal, como redução do tamanho, do peso e do número de raízes, queda da qualidade das raízes e dificuldade na colheita; além de danos indiretos, pois elas podem ser hospedeiras alternativas de pragas, doenças e nematoides.
A pesquisadora salientou que não existe uma estratégia pontual de manejo das plantas daninhas. “Temos sempre que procurar manejá-las utilizando duas ou mais estratégias associadas”, afirmou, explicando os métodos de controle existentes – manejo cultural, que favorece o desenvolvimento da cultura com o uso de manivas de boa qualidade, preparo adequado do solo, adubações de plantio e cobertura balanceadas, espaçamento e arranjos de plantas adequados e rotação de culturas; manejo preventivo, que busca evitar a introdução da planta daninha na área com o uso de manivas isentas de dissemínulos, escolha do local de plantio, limpeza de canais de irrigação, máquinas e implementos; manejo físico, que evita a germinação e emergência da planta daninha utilizando-se cobertura do solo com mulching ou resíduos culturais; manejo mecânico (preparo do solo, capina mecânica ou manual, uso de cultivador); manejo químico, com o uso de herbicidas.
Correia chamou a atenção para o uso adequado dos herbicidas: “O herbicida é um produto que mata plantas. Se você usá-lo de forma errada, ele pode inclusive matar a sua cultura. Então, é um produto que não deve ser usado por quem não tem experiência ou conhecimento. Procure sempre um técnico ou responsável para que você comece a trabalhar com a tecnologia”.
Ela apresentou as possíveis interações do herbicida com o ambiente: a volatilização para a atmosfera devido a elevadas temperaturas do ar; a deriva do produto, que pode contaminar culturas vizinhas e sensíveis; e a lixiviação para o lençol freático. “Uma única pulverização pode contaminar ar, água e solo de uma microbacia”, resumiu. Nesse sentido, ela detalhou as condições ideais para a aplicação dos herbicidas – umidade relativa do ar acima de 55%, temperatura do ar de 20 a 30°C, velocidade do vento de 3 a 10 km/h e presença de umidade no solo.
Os herbicidas registrados no Ministério da Agricultura e Pecuária para uso na cultura da mandioca se diferenciam quanto à época de aplicação (pré ou pós-emergência da planta daninha) e aos grupos de controle (plantas de folhas largas e gramíneas, sendo que ainda não há produtos registrados para controle de ciperáceas como a tiririca). “Eles devem ser usados na dose recomendada e na época certa para não afetar a cultura da mandioca”, observou a pesquisadora.
Correia apontou os cuidados específicos na aplicação dos herbicidas, como conhecer o histórico da infestação, uso da dosagem recomendada e preparo adequado do solo, no caso dos aplicados em pré-emergência. Na aplicação em pós-emergência, deve-se usar a dosagem indicada em função da espécie e a adição de adjuvante (óleo mineral) à calda. Além disso, para os herbicidas carfentrazone-ethyl e flumioxazin, deve-se aplicar em jato dirigido à entrelinha da cultura para não atingir as plantas de mandioca.
A pesquisadora também destacou as recomendações de tecnologia de aplicação – pressão constante, calibração do equipamento, uso do volume de calda recomendado, largura da barra de aplicação, pressão de trabalho e ponta de pulverização, fazer a tríplice lavagem do tanque do pulverizador para eliminar resíduos, o uso de equipamentos de produção individual e o descarte correto das embalagens vazias.
Processamento das raízes
Os técnicos em agroindústria da Emater-DF Fábio Costa e Paulo Henrique Álvares falaram sobre o processamento das raízes de mandioca, um dos elos da cadeia produtiva da cultura que agregam valor ao produto e proporcionam incremento à renda dos produtores. “A ideia é abrir a mente de vocês. É preciso produzir bem, mas também colocar o produto no mercado para ganhar mais”, destacou Álvares.
Eles apresentaram uma planta modelo de uma agroindústria para mandioca descascada e congelada, detalhando as funções de cada parte. Também comentaram sobre as boas práticas de fabricação, as informações obrigatórias na rotulagem do produto, armazenamento e temperaturas ideias de resfriamento e congelamento, transporte, bem como os métodos construtivos de uma agroindústria possíveis e os detalhes do processo de formalização do empreendimento junto à vigilância sanitária.
Produtores elogiam evento
Em busca de conhecimento, o Jefferson Isoton, do Núcleo Rural Taquara (DF), foi um dos muitos produtores que acompanharam o Dia de Campo. “Fiquei satisfeito porque as estações foram bem explicadas e os temas bem escolhidos, desde questões básicas que são importantes, como preparo de solo, escolha das manivas e controle de plantas daninhas”, disse o produtor, que cultiva mandioca há oito anos.
“São as inovações que me fazem participar de Dias de Campo como este”, comentou Raimundo Wellington da Silva, que produz mandioca em Tocantins há quatro anos e agora pretende iniciar o plantio na propriedade na Ponte Alta, no Gama (DF) com as ramas da cultivar BRS 429 que retirou no evento. “Vamos produzir e agregar valor, usando as tecnologias disponíveis”, completou.
Breno Lobato (MTb 9417-MG)
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