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Artigo - Coronavírus: cuidados na produção, no processamento e no consumo de hortaliças
Diante do cenário de pandemia da Covid-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, popularmente designado como novo coronavírus, é necessária atenção redobrada quanto à adoção de medidas para prevenir o contágio e a transmissão do vírus. Nesse sentido, um dos aspectos que deve ser observado é a segurança dos alimentos. Há vários questionamentos a respeito da transmissão do novo coronavírus pelos alimentos, em especial aqueles que são consumidos crus, como é o caso de muitas hortaliças. Quais são os riscos e quais são os cuidados que devemos ter ao manipular as hortaliças? Se as hortaliças forem contaminadas por portadores do vírus durante as etapas entre a colheita e o consumo, elas podem ser veículos de transmissão? O que se sabe, de fato, é que é preciso cautela em se tratando do assunto Covid-19. O fato é que há mais dúvidas do que respostas, já que ainda são poucos os dados científicos que respaldem qualquer afirmação.
Os vírus são microrganismos que diferem muito das bactérias, em tamanho, estrutura e características biológicas. O mais importante é que são estritamente dependentes do hospedeiro para sua multiplicação; logo, precisam estar dentro de células suscetíveis para sua propagação. Ao contrário das bactérias, eles não se multiplicam nos alimentos, pois necessitam de células vivas. O SARS-CoV-2 é um vírus envelopado, composto por uma camada lipídica (“camada de gordura”), que o torna, felizmente, não tão difícil de inativar em superfícies. O uso de detergentes e solventes orgânicos (como álcool) causa danos nesse componente lipídico do envelope viral, resultando na sua inativação.
A agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (em inglês, Centers for Disease Control and Prevention – CDC), aponta que o SARS-CoV-2 é transmitido, principalmente, através do contato próximo (de até dois metros) entre pessoas. A transmissão se dá quando gotículas expelidas (tosse, espirro ou fala) por alguém infectado, quer apresente ou não os sintomas, atingem as mucosas (boca e nariz) ou conjuntiva (olhos) de outras pessoas. Outra forma de transmissão acontece pelo contato, quando um indivíduo toca em uma superfície ou objeto contaminado com o vírus e, em seguida, toca sua própria boca, nariz ou olhos.
É importante salientar que, até o momento, não há relatos de que alimentos, incluindo produtos frescos, estejam associados à transmissão do SARS-CoV-2, conforme descreve o United States Department of Agriculture (USDA), órgão público que desenvolve e executa políticas relacionadas à agricultura nos Estados Unidos, e a Food and Drug Administration (FDA), agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos daquele país. No entanto, o CDC, endossado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), alerta que os vírus respiratórios, como é o caso do SARS-CoV-2, se espalham também pelo contato e, por isso, a desinfecção de objetos e superfícies e a prática da higiene frequente são medidas fundamentais de proteção contra a doença.
Por tudo isso, levanta-se a hipótese de que as hortaliças podem ser veículos de transmissão indireta, como qualquer outra superfície, caso sejam manipuladas por portadores, sintomáticos ou assintomáticos, da doença. O presente trabalho[1],[2] apresenta as principais medidas que foram tomadas em estabelecimentos agropecuários produtores de hortaliças como forma de prevenção da transmissão do SARS-CoV-2. Para obter essas informações, foram consultados diversos representantes das principais cadeias produtivas de hortaliças. Ao longo do texto são discutidas as principais questões sobre o potencial de transmissão do SARS-CoV-2 por meio da manipulação de hortaliças e é apresentada uma síntese de boas práticas já existentes para higienização de hortaliças antes do consumo.
1. Principais medidas de precaução adotadas em setores de produção e processamento de hortaliças
1.1 Estabelecimentos agropecuários
Parte importante da produção de hortaliças é produzida em estabelecimentos de grande porte econômico e com alta capacidade de gestão. Em geral, possuem certificações de qualidade e comercializam a produção com grandes redes de supermercados. De forma geral, as entrevistas realizadas junto a esses estabelecimentos apontaram a implementação de medidas rigorosas de controle sanitário em razão da Covid-19, o que indica maior capacidade de se adaptar às recomendações do Ministério da Saúde. Ressalta-se que são apresentadas as principais respostas relacionadas como medidas adotadas por esse tipo de estabelecimento, ressalvando que nem todas as medidas são adotadas por todos.
É possível afirmar que, nesses estabelecimentos, a questão educativa foi reforçada, os trabalhadores estão recebendo treinamento de higiene pessoal, bem como instruções sobre como executar as sanitizações dos setores e de instalações e equipamentos para evitar a transmissão do vírus. Os ônibus para deslocamento de trabalhadores têm sido higienizados com álcool em gel 70% várias vezes ao dia, bem como as mãos dos trabalhadores antes de entrarem nos veículos. As rodas de veículos que entram nos estabelecimentos vêm sendo pulverizadas com hipoclorito de sódio.
Sinalizações, como banners e cartazes informativos sobre os cuidados contra a Covid-19, foram espalhadas nas instalações. Foram multiplicadas as barreiras sanitárias, como lavatórios com água, sabão e álcool em gel, e toalhas de papel descartáveis, além de pedilúvios contendo hipoclorito de sódio. Em refeitórios, estão sendo adotados distanciamento entre os trabalhadores e realizados maior número de turnos de refeições para evitar aglomerações e o sistema self-service foi suspenso. A prática do uso de máscaras e do distanciamento entre os colaboradores foi adotada para todos os setores, da área administrativa até a lavoura.
Outras medidas para contenção da disseminação do vírus foram a suspensão de algumas atividades que eram realizadas em grupo, como reuniões e ginástica laboral coletiva (hoje realizada individualmente conforme necessidade do trabalhador), e a autorização para alguns funcionários de departamentos administrativos exercerem suas funções por teletrabalho. Ademais, dentro das casas de vegetação (estufas), o número de trabalhadores foi reduzido para respeitar o distanciamento recomendado entre eles. Um dos entrevistados revelou que contratou uma enfermeira e instalou um contêiner para isolamento, caso algum trabalhador apresente sintomas da doença. Na portaria dos estabelecimentos, passou a ser exigida uma triagem, baseada na medição da temperatura corporal dos trabalhadores e prestadores de serviço que não residem no alojamento.
Quanto ao transporte das hortaliças, os motoristas dos caminhões passaram a seguir as recomendações do uso de máscaras e álcool em gel 70% nas mãos e os horários de entrega foram alterados para as madrugadas para minimizar o contato entre pessoas nos pontos de comercialização. O comprometimento em intensificar as boas práticas agrícolas e a proteção de trabalhadores rurais, conforme as recomendações dos órgãos de saúde, pode refletir positivamente na segurança das hortaliças que saem de suas propriedades.
Existe também um outro grupo de estabelecimentos agropecuários de menor porte econômico, e com menor capacidade de gestão que, de uma forma geral, recebem visitas de compradores com suas caixas (comumente não higienizadas) e veículos próprios. Em alguns deles, as caixas são lavadas com água e sabão antes das hortaliças serem acondicionadas para o transporte. Da mesma forma, os produtores estão mantendo distanciamento durante os contatos com os compradores, bem como entre os trabalhadores, fazendo uso de máscaras e higienização frequente das mãos antes de manipular as caixas, os equipamentos e as hortaliças.
Outros estabelecimentos, em contraste, estão mantendo os mesmos hábitos anteriores à Covid-19, talvez por não apresentarem total conscientização do atual cenário de pandemia, em função do nível educacional, da menor disponibilidade de recursos para a compra de produtos de higienização, ou até mesmo por não possuírem, sequer, fontes de água de qualidade para a higienização, o que, com frequência, resultam em práticas inadequadas de higiene. É comum ainda o compartilhamento de ferramentas (enxadas, rastelos e pás, foices, carrinhos de mão, pulverizadores, etc.) entre os trabalhadores no campo.
Foi verificado que em cooperativas mais organizadas há disponibilização de estruturas de lavagem de caixas plásticas, com água e detergente neutro, e a adoção do uso de máscaras por todos os funcionários e distanciamento entre eles. A recomendação é que os trabalhadores estejam mais vigilantes em suas práticas de higiene, incluindo a lavagem frequente das mãos e a limpeza de rotina de todas as superfícies, incluindo as caixas plásticas.
Ressalta-se que o ideal é que cada trabalhador, especialmente os que se deslocam com frequência para as cidades, sempre que possível, seja responsável por um único tipo de função e use, individualmente, as mesmas ferramentas durante o seu turno de trabalho, e que esses materiais sejam higienizados com água e sabão impreterivelmente antes que outro trabalhador faça uso.
Locais como maçanetas, sistema de direção e painéis de veículos, tratores e colhedoras, e outras partes manipuladas por diferentes pessoas, devem ser higienizados constantemente com álcool em gel 70% ou outros produtos recomendados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em superfícies, que serão abordados posteriormente. O uso de máscaras é fundamental para impedir a transmissão do novo coronavírus por trabalhadores que podem estar infectados, mas que não apresentam sintomas. As mãos devem ser higienizadas com água e sabão de forma frequente. A adoção desses procedimentos diminui as possibilidades de transmissão do vírus, tanto entre pessoas quanto em superfícies, incluindo as hortaliças.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) lançou uma cartilha com as recomendações de prevenção contra o novo coronavírus nos estabelecimentos agropecuários com abordagens amplas, que pode ser encontrada no site da Confederação Nacional de Agricultura (CNA). E, mais recentemente, outra cartilha foi elaborada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e pela Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) com recomendações gerais durante a colheita, no transporte e no alojamento dos trabalhadores.
1.2 Agroindústrias de processamento mínimo
Os produtos minimamente processados são definidos pela United Fresh Produce Association como qualquer hortaliça ou fruta que foi fisicamente alterada em sua forma original, mas que mantenha, tanto quanto possível, a qualidade de produto fresco. Em outras palavras, referem-se às hortaliças e frutas que já vêm descascadas, raladas ou cortadas de diferentes formas e higienizadas, dentro de embalagens, como as couves fatiadas, as mini-cenouras e os vários tipos de combinação de folhosas, que encontramos no mercado.
O termo “processamento mínimo” sugere um processo simples, mas está longe disso. Para a realização desse processo, as hortaliças, no caso, são submetidas a várias etapas, as quais exigem a manutenção rígida de temperaturas baixas nos ambientes e nas águas de lavagem e de sanitização das hortaliças, o monitoramento constante da atividade de sanitizantes durante a sua higienização, e a limpeza rigorosa de equipamentos e produtos. Por mais automatizadas que sejam algumas agroindústrias, existem etapas nas quais o trabalho manual se faz essencial.
Por esses motivos, muitas agroindústrias de processamento mínimo de hortaliças têm adotado medidas exclusivas para a prevenção da Covid-19. De uma forma geral, exigem que os funcionários observem os seus estados de saúde e comuniquem sobre a ocorrência de qualquer sintoma. Uma das medidas implementadas é a aferição da temperatura corporal dos funcionários antes da sua entrada na planta de processamento. Os funcionários que apresentam temperatura corporal elevada ou algum sintoma relacionado à doença são imediatamente dispensados e orientados a procurar uma unidade de saúde. Alguns funcionários, por apresentarem sintomas da doença, têm sido afastados de suas atividades, como medida preventiva, independentemente de terem sido testados para a Covid-19, conforme preconiza o Ministério da Saúde.
Para a execução de quaisquer funções, tanto durante a realização do processamento das hortaliças quanto nas áreas externas à planta de processamento, os funcionários são mantidos na distância recomendada pelo Ministério da Saúde. O uso de máscaras tornou-se obrigatório para todos os funcionários, incluindo aqueles das áreas administrativas e de transporte, e também estão sendo disponibilizados mais dispensers com álcool em gel 70% nos locais para higienização de mãos e outras superfícies de contato com maior frequência.
Os procedimentos de lavagem e sanitização das hortaliças não foram alterados, já que os tipos de detergentes e sanitizantes usados, bem como suas concentrações, seguem protocolos legais de uso. Esses mesmos protocolos sanitários muito provavelmente devem ajudar a evitar a transmissão da Covid-19. A higiene operacional é premissa de qualquer agroindústria, independente de situação pandêmica ou não.
É importante ressaltar que o consumidor, caso opte por comprar essas hortaliças já descascadas e picadas, escolha produtos de empresas idôneas e de qualidade reconhecida. O processamento mínimo, como mencionado acima, tem etapas a serem seguidas, que devem ser realizadas com rigor e responsabilidade, desde o recebimento e a seleção das hortaliças na agroindústria; no processamento, durante as embalagens das hortaliças processadas; até o transporte refrigerado do produto para os pontos de comercialização.
Algumas vezes, é possível encontrar em mercados e feiras, hortaliças picadas, sem a marca de fornecedor. Recomenda-se que os consumidores evitem esses produtos, não apenas em função do novo coronavírus, mas em decorrência da possível presença de outros microrganismos, que podem levar a infecções ou intoxicações alimentares. E caso permaneçam dúvidas em relação à qualidade do produto adquirido, a sugestão é lavá-los e sanitizá-los com hipoclorito de sódio em casa novamente, conforme detalhado no item abaixo “Recomendações de boas práticas para higienização de hortaliças”.
2. Roteiro de procedimentos para o consumidor final
Inicialmente, por não haver estudos sobre a sobrevivência do SARS-Cov-2 em superfícies inanimadas, as primeiras informações levantadas basearam-se na análise realizada em outros coronavírus. Em uma revisão de 22 estudos publicada na Journal of Hospital Infection, em fevereiro deste ano (Kampf et al., 2020), foram descritas a persistência de coronavírus - humanos e veterinários - em superfícies inanimadas e as estratégias de inativação por desinfecção química. Foram analisados dados de três coronavírus: a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS ou SARS-CoV-1), a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e o coronavírus humano endêmico (HCoV).
Tais estudos revelaram que esses coronavírus podem persistir em superfícies, como metal, vidro ou plástico, por até 9 dias. Temperaturas entre 30 °C e 40 °C mostraram-se capazes de reduzir a persistência de coronavírus de maior patogenicidade, como o MERS-CoV. Por outro lado, a temperatura de 4 °C favoreceu a persistência de alguns coronavírus veterinários (TGEV e MHV) por 28 dias. No entanto, os autores mostraram que esses vírus podem ser inativados de forma eficiente por meio de procedimentos de desinfecção de superfícies com etanol a 62 - 71%, peróxido de hidrogênio a 0,5% ou hipoclorito de sódio a 0,1% por 1 minuto. Outros agentes biocidas, como cloreto de benzalcônio a 0,05 - 0,2% ou digluconato de clorexidina a 0,02%, mostraram-se menos eficazes.
Posteriormente, diferentes grupos de cientistas começaram a realizar trabalhos para caracterizar o comportamento do novo coronavírus, confirmando suas propriedades de sobrevivência em superfícies inanimadas e permanência em estados de aerossol. Um deles publicou, no último mês de março, na The New England Journal of Medicine (Doremalen et al., 2020), uma comparação da persistência da atividade de SARS-CoV-2, causador da Covid-19, versus SARS-CoV-1, causador da primeira síndrome respiratória.
O estudo mostrou que o SARS-CoV-2 permanece em estado de aerossol (<5 μm, suspenso no ar) por até 3 h e mantém-se mais estável em plástico e aço inoxidável do que em cobre e papelão. O vírus viável é detectado em até 72 horas após a aplicação nessas superfícies, embora a carga viral decresça acentuadamente (no plástico: de 103,7 a 100,6 TCID50/mm de meio, após 72 h; e no aço inoxidável: de 103,7 a 100,6 TCID50/mm de meio, após 48 h, respectivamente). Nas superfícies de cobre e de papelão, nenhum SARS-CoV-2 viável foi detectado após 4 h e 24 h, respectivamente. Por outro lado, esses autores observaram que nessas superfícies a sobrevida do vírus diminuiu com o tempo, com tempos de meia-vida, que é o tempo necessário para que a quantidade do vírus caia pela metade, de 1,2 h (aerossóis), 6,8 h (plástico), 5,6 h (aço inoxidável), <1 h (cobre) e <4 h (papelão).
Tudo isso indica que o risco de transmissão pela superfície dos materiais é alto e esforços para se desinfetar produtos recém-adquiridos no mercado devem ser realizados com rigor. Por outro lado, considerando a relativa baixa longevidade do vírus nessas superfícies, a manutenção dos produtos comprados por algumas horas ou dias em um depósito antes do seu uso é recomendada.
A Anvisa recomendou aos consumidores, para prevenção contra o coronavírus, a utilização somente de produtos regularizados para limpeza e desinfecção dos ambientes, utensílios e objetos, como pisos, superfícies de móveis, maçanetas, corrimão, interruptores de luz, etc. Entre eles estão o álcool em gel (produzidos à base de etanol, na forma gel e em concentração de 70%), além de hipoclorito de sódio, ácido peracético, quaternários de amônia e fenólicos. Quanto aos produtos caseiros, a referida Agência não indica o seu uso, alegando que, além da ineficácia, podem colocar a saúde do consumidor em risco. A lista completa dos produtos indicados e seus princípios ativos, bem como os nomes comerciais, pode ser encontrado no site da Anvisa.
Em virtude da importância da comercialização de hortifrútis, como atividade essencial (Portaria nº 116) na oferta de alimentos à população, o MAPA, em parceria com o Ministério da Saúde e a Anvisa, publicou algumas orientações de prevenção ao novo coronavírus durante a comercialização desses produtos em feiras livres, sacolões e empresas varejistas, que podem ser encontradas no site do MAPA. Nessa linha, a CNA/Senar lançou o projeto Feira Segura com o objetivo de orientar estados e municípios a promover feiras livres com segurança, evitando o contágio pelo novo coronavírus.
2.1 Medidas gerais durante a aquisição de hortaliças e alimentos em geral
Como as hortaliças são produzidas e processadas de várias formas e passam por inúmeras etapas, é sugerido, a seguir, um roteiro pormenorizado para o consumidor final com o objetivo de reduzir as chances de contágio pelo novo coronavírus:
1º) Quando for às compras, carregue um frasco de álcool em gel 70% e lenços de papel na bolsa ou bolso.
Abuse do uso do álcool nas mãos antes, durante as compras, até chegar em casa, sempre evitando tocar as mãos nos olhos, nariz e boca. Caso vá a supermercados que possuem cancelas, use o álcool em gel imediatamente após tocar em botões de emissão de tíquetes de estacionamento. Muitos supermercados estão higienizando os carrinhos e as cestas de compras com álcool, mas, caso isso não esteja ocorrendo, use o seu lenço de papel com álcool em gel para higienizar as partes do carrinho que ficam em contato com as mãos. Se estiver usando luvas, a regra é a mesma, pois o uso de luvas não substitui a higiene das mãos.
Especificamente em relação às hortaliças, faça a escolha dos produtos apenas com as mãos já higienizadas, uma vez que uma das formas de transmissão é o contato. Tente inicialmente fazer uma seleção visual, tocando-as o mínimo possível. Caso haja necessidade de uma seleção mais rigorosa, a sugestão é usar um saco plástico limpo nas mãos, como se fosse uma luva.
2º) Use máscara quando estiver escolhendo os seus produtos. Se não estiver usando, evite conversar próximo às hortaliças expostas a granel, já que a forma mais comum de transmissão do novo coronavírus se dá por meio de gotículas respiratórias (tosse, espirro e fala), produzidas por indivíduos infectados, inclusive pelos assintomáticos. Caso haja dificuldade em adquirir máscaras, existem algumas orientações a respeito de confecção de máscaras caseiras no site do Ministério da Saúde.
3º) No caso de hortaliças a granel, acondicione-as em sacos plásticos e feche-os para evitar o seu contato com superfícies que podem estar contaminadas.
4º) Existe outra forma de apresentação das hortaliças, que não a granel, no varejo. São as hortaliças embaladas inteiras, por exemplo, em bandejas de poliestireno expandido (isopor) cobertas com filme de PVC. Um ponto favorável à hortaliça embalada dessa maneira, em comparação às hortaliças a granel, é a menor chance de contaminação pelos próprios consumidores durante a compra (aerossóis ou contato com a mão). Ressalta-se, entretanto, que, diferentemente das hortaliças minimamente processadas, essas não são previamente sanitizadas e, com isso, não estão livres de possíveis contaminações ao longo da cadeia produtiva, sendo necessária sua higienização, conforme preconizado abaixo nesta nota técnica.
5º) Evite colocar as sacolas (plásticas ou reutilizáveis) contendo as hortaliças em superfícies que possam estar potencialmente contaminadas, como o piso do carro e outras.
6º) Ao chegar em casa, coloque as embalagens em uma bancada. Lave as mãos com água e sabão, e para hortaliças siga os procedimentos descritos a seguir.
2.2 Recomendações de boas práticas para higienização de hortaliças
Cabe ressaltar que até o presente momento, não há estudos sugerindo novos protocolos de higienização de hortaliças em virtude do novo coronavírus. Dessa forma, a recomendação é pelo uso do tradicional conjunto de boas práticas de higiene na manipulação.
De forma geral, não é recomendada a higienização de hortaliças antes de colocá-las no refrigerador, pois esse procedimento diminui a sua vida útil, isto é, o seu tempo de duração. Mas em meio à pandemia de Covid-19, pode ser uma medida de precaução.
Caso a opção seja guardar a hortaliça no refrigerador antes de sua higienização, a recomendação é, com as mãos limpas, retirar as hortaliças das sacolas e acondicioná-las em sacos plásticos limpos; em seguida, lavar novamente as mãos e levar as embalagens ao refrigerador. A higienização deverá ser realizada antes do consumo, conforme recomendações abaixo.
Caso a opção seja efetuar a higienização antes da refrigeração, siga diretamente para as etapas abaixo antes de acondicionar as hortaliças em sacos plásticos limpos e armazená-las no refrigerador até o consumo.
1. Com as mãos limpas, retire as hortaliças das sacolas e coloque-as na pia, lave as mãos novamente, e inicie a higienização.
2. Em caso de folhosas, primeiramente, faça uma seleção prévia, descartando as folhas com danos aparentes.
3. Os demais procedimentos são os mesmos para todas as hortaliças, independente do tipo, folhosa ou fruto, consumida com casca ou sem. Lave as hortaliças em água corrente e, em seguida, com detergente próprio para hortifrútis[3] na concentração indicada pelo fabricante. Enxague em água corrente.
4. O próximo passo é sanitizá-las. Mesmo as hortaliças que serão descascadas deverão ser sanitizadas, pois, caso contrário, ao descascá-las, é possível transferir microrganismos que estavam na casca para a parte interna. É possível encontrar no mercado opções de sanitizantes, indicados especificamente para desinfecção de frutas e hortaliças, como o hipoclorito de sódio e o dióxido de cloro. Deixe as hortaliças imersas em solução de água potável e sanitizante, na concentração e tempo recomendados pelo fabricante.
5. Após a sanitização, drene bem a água, eliminando o máximo possível de umidade e acondicione em sacos plásticos limpos. O excesso de água nas hortaliças embaladas pode contribuir para a diminuição da sua vida útil.
Alguns outros cuidados:
- A água sanitária comercial pode ser usada para a desinfecção de produtos hortifrutícolas, desde que em concentração e tempo recomendados pelo fabricante. O seu princípio ativo é o hipoclorito de sódio (de 2,0 a 2,5% de cloro ativo) e, como componentes complementares, pode possuir apenas o hidróxido de sódio ou de cálcio, o cloreto de sódio ou de cálcio e o carbonato de sódio ou de cálcio. Na água sanitária é proibida a adição de corantes, fragrâncias, sequestrantes, tensoativos ou quaisquer outras substâncias (Anvisa - RDC n° 110, de 6 de setembro de 2016).
- Atenção a outros saneantes à base de hipoclorito de sódio. Os alvejantes, da mesma forma que as águas sanitárias, têm como princípio ativo o hipoclorito de sódio (de 2,0 a 2,5% de cloro ativo); no entanto, podem conter em sua formulação estabilizantes, corantes, fragrâncias, sequestrantes e tensoativos. Dessa forma, alvejantes não são permitidos para a desinfecção de hortifrutícolas (Anvisa - RDC n° 109, de 6 de setembro de 2016).
- Cuidado com as contaminações cruzadas. Não coloque as hortaliças já higienizadas em superfícies sujas, isso poderá recontaminá-las.
- É interessante a lavagem, com água e sabão, das sacolas reutilizáveis que foram usadas durante as compras, elas carregaram as hortaliças e tiveram contato com várias superfícies.
- Em caso de reutilizar as sacolas plásticas, deixe-as reservadas, sem uso, por três dias, que é o tempo de persistência do SARS-CoV-2 nesse tipo de superfície, ou lave-as com água e sabão e deixe secar.
Considerações finais
Nesse momento de muitas incertezas e em se tratando de um vírus novo, ainda faltam respaldos científicos necessários para novas afirmações. Enquanto isso, devem ser usadas as boas práticas de higiene durante a manipulação e o preparo das hortaliças. As recomendações do Ministério da Saúde para o enfrentamento da Covid-19 devem fazer parte de um roteiro seguro a ser seguido em todos os elos da cadeia produtiva de hortaliças, que implicam diretamente nas atividades de campo, no transporte, nos centros de distribuição, e demais etapas até chegar na mesa do consumidor.
No entanto, a realidade dos agentes das cadeias produtivas é bastante heterogênea em função de diversos fatores, como porte econômico, nível tecnológico e capacidade de gestão, o que reflete nas práticas adotadas. Dessa forma, há situações nas quais o contato das hortaliças com o novo coronavírus pode ocorrer ao longo da cadeia produtiva de hortaliças. Por tudo isso, é fundamental que o consumidor tome os cuidados sugeridos no presente documento.
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[1] O objetivo deste estudo é, dentre outros, difundir o conhecimento acerca da segurança das hortaliças, em virtude de questões que têm sido expostas na mídia, apoiando assim a Embrapa nas reflexões e nas orientações relativas a procedimentos que devem ser adotados no que se refere à produção, ao processamento e ao consumo de hortaliças, em meio à pandemia de Covid-19.
[2] Agradecimentos à Maria Thereza Macedo Pedroso (pesquisadora da Embrapa Hortaliças); Silvia Kanadani Campos (pesquisadora da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas da Embrapa); Alice Kazuko Inoue Nagata (pesquisadora da Embrapa Hortaliças); Carlos Antônio Banci (engenheiro agrônomo e extensionista rural da Emater-DF); Regisleyne Ventura (nutricionista e consultora para agroindústrias); Paula Fernandes Rodrigues (jornalista da Embrapa Hortaliças); e Warley Marcos Nascimento (pesquisador e chefe-geral da Embrapa Hortaliças, e idealizador deste trabalho) pelo apoio na elaboração desta Nota Técnica.
[3] Esses detergentes são encontrados em empresas especializadas em produtos saneantes e devem ser permitidos pela Anvisa para uso em hortifrútis. Sugere-se que a sua venda seja difundida para supermercados e mercados menores, ampliando-se assim o acesso a esses produtos, importantes na redução de infestação por enteroparasitos.
Referências
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ANVISA. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução da diretoria colegiada - RDC nº 110, de 6 de Setembro de 2016. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33920/281614/RDC_110_2016/c32ba4f9-d05e-4d35-9c40-0f4fe94e0038. Acesso em: 23 abr. 2020.
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Lucimeire Pilon (Pesquisadora da Embrapa Hortaliças)
Engenheira Agrônoma, Mestre e Doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos
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