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19/05/20 |   Socioeconomic and environmental studies  Research, Development and Innovation

Artigo - O Impacto da Quarentena nos Preços da Manga no Vale do São Francisco

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Photo: Fernanda Birolo

Fernanda Birolo -

João Ricardo F. de Lima – Doutor em Economia Aplicada, Pesquisador da Embrapa Semiárido

Contato: joao.ricardo@embrapa.br

 

O Vale do São Francisco é conhecido nacional e internacionalmente pela produção irrigada de frutas, utilizando águas do Rio São Francisco. Dentre as frutas produzidas, a manga é a que apresenta maior importância econômica e social. Segundo informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), a área cultivada na região supera 45 mil hectares, sendo a maior do Brasil. As variedades mais plantadas são Palmer, Tommy, Kent e Keitt, apesar de se encontrar outras, tais como Haden, Ataulfo, Rosa e Espada Vermelha. A mangicultura é uma atividade altamente intensiva em tecnologia e desenvolvida por pequenos, médios e grandes produtores. Com o uso de irrigação e a disponibilidade de sol, o Vale do São Francisco produz manga durante todos os meses do ano, abastecendo tanto o mercado interno quanto o externo.

No último dia 22 de março, o estado de São Paulo publicou o decreto 64.881,  estabelecendo uma quarentena em razão do avanço do vírus SARS-CoV-2. Além de São Paulo, outros estados seguiram o mesmo caminho. O efeito disto, em um primeiro momento, foi o crescimento da demanda por frutas em razão das famílias buscarem se abastecer de alimentos. Por um curto período, houve um ajustamento, com alguns cancelamentos de pedidos, e depois uma estabilização com o entendimento de que o comportamento do consumidor havia mudado. As pessoas passaram a ir menos ao varejo e a comprar maiores quantidades, reduzindo a necessidade de sair diversas vezes de casa.

Neste artigo, é analisado o efeito da mudança no comportamento do mercado interno sobre os preços de manga do Vale do São Francisco, devido à quarentena. A mudança de hábito, observada no varejo, foi rapidamente sentida no atacado. Estes empresários passaram a ter dificuldades para fazer seus planejamentos, pois era incerto o comportamento na semana. Às vezes, tinha-se muita fruta e pouco comprador e era necessário fazer ofertas. Em outra semana, ocorria o inverso, pouca fruta e muitos varejistas demandando. Especificamente nos meses de março e abril, os preços de manga das variedades Palmer e Tommy Atkins (caixa de 12 frutos) praticados na CEAGESP-SP, que é a referência em termos de mercado interno, não ultrapassaram as médias históricas. Os preços de Palmer em março e abril de 2020 foram, respectivamente, R$ 3,15 e R$ 3,03, enquanto as médias históricas são R$ 4,13 R$ 5,01. Os preços de Tommy Atkins no mesmo período foram, respectivamente, R$ 3,65 e R$ 2,93 e as médias históricas R$ 3,65 e R$ 3,69.

Contudo, é importante salientar que, desde o mês de fevereiro, os preços de manga já vinham se apresentando abaixo das médias históricas. Assim, este comportamento de preços mais baixos não ocorre apenas durante a quarentena. Em 2020, ao contrário de outros anos, a safra paulista não teve forte quebra. Os produtores de São Paulo tinham manga, mas com muitos problemas de fitossanidade devido às chuvas intensas. As frutas do Vale do São Francisco enfrentaram este mesmo problema. Tais fatores também explicam os preços no atacado.

Quando o atacadista percebe a mudança no mercado ele automaticamente transmite a informação, via preços, para o produtor. Para o melhor entendimento, o observatório do mercado de manga da Embrapa Semiárido (Petrolina-PE) construiu séries históricas semanais de preços ao produtor do Vale do São Francisco com base nos dados disponibilizados pelo site HF Brasil do CEPEA/ESALQ-USP. O uso de séries semanais é importante, pois dentro de um mês, os preços podem oscilar bastante e a média mensal nem sempre consegue captar este comportamento.

No caso da manga Palmer, é observada uma redução do preço (abaixo da média histórica) principalmente entre as semanas 9 e 17, sendo que nas semanas 12 até a 15 o ano de 2020 marcou o piso histórico (Figura 1).

                

Pela sazonalidade, contudo, estas semanas deveriam apresentar preços elevados, como mostra a Figura 2.

Figura 2: Sazonalidade de Preços Semanais Manga Palmer ao Produtor no Vale do São Francisco: 2012-2020.

                    

 

Para a manga Tommy, é observada uma forte redução de preço (abaixo da média histórica) entre as semanas 12 e 15, sendo que nestas semanas o ano de 2020 marcou o piso histórico (Figura 3).

 

                   

 

Pela sazonalidade, estas semanas também deveriam apresentar preços mais elevados (Figura 4).

Figura 4: Sazonalidade de Preços Semanais Manga Tommy ao Produtor no Vale do São Francisco: 2012-2020

 

                

Assim, as informações indicam que, entre as semanas 12 e 15, a situação dos produtores foi bastante difícil. A semana 13 marca o início da quarentena no estado de São Paulo, sendo um período de muitas incertezas que afetou o comportamento do consumidor e dos compradores de frutas, como visto acima. Os preços voltam a reagir depois da semana 15 e ultrapassam a média histórica na semana 19. Nesta última, a média histórica de Palmer é R$ 1,92 e a média em 2020 foi R$ 2,38. Este valor é bem distante do mínimo histórico de R$ 1,00, mas, por outro lado, também está longe da máxima histórica de R$ 4,24. No caso da Tommy Atkins, a análise é a mesma. Os valores mínimo, médio e máximo para a semana 19 são R$ 0,81, R$ 1,67 e R$ 4,16 e a média de 2020 é R$ 2,33.

Para as próximas semanas, o cenário volta a ter maiores incertezas devido o avanço do número de casos de COVID-19 no Brasil e a possibilidade de uma quarentena mais restritiva, chamada de lockdown, o que pode, de certa forma, afetar a produção.

 

 

 

Embrapa Semiárido

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