Unidade
Embrapa Solos
16/06/16
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Mudanças climáticas
Emissão de metano e balanço de carbono pela pecuária pantaneira são apresentados em evento
A equipe de pesquisadores da Embrapa Pantanal (Corumbá_MS) integrante da Rede Pecus apresentou, na semana passada, em Campo Grande, os resultados de pesquisas desenvolvidas no bioma Pantanal. Os trabalhos foram mostrados no II SIGEE – Simpósio Internacional sobre Gases de Efeito Estufa na Agropecuária, organizado pela Embrapa e pelo Sistema Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul).
A Rede Pecus é composta por 354 pesquisadores do Brasil e do exterior que avaliam a dinâmica de gases de efeito estufa (GEE) e o balanço de Carbono (C) em sistemas de produção agropecuários de seis Biomas do Brasil (Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal, Pampa, Amazônico e Cerrado). A primeira etapa do projeto está chegando ao fim em 2016, mas existe a expectativa de que a rede seja renovada.
O simpósio reuniu especialistas em emissão de gases de efeito estufa e balanço de carbono de várias partes do mundo. A líder da Rede Pecus, Patrícia Anchão Oliveira, da Embrapa Pecuária Sudeste, disse ter ficado surpresa com a presença de produtores rurais e estudantes durante todo o evento.
Ana Helena Marozzi Fernandes, líder da rede Pecus no bioma Pantanal, avaliou o simpósio como muito bom para divulgar os resultados das pesquisas da Unidade. De acordo com a pesquisadora, alguns resultados foram preliminares e outros consolidados. "Ao contrário do que se esperava, as pesquisas indicam que o Pantanal apresenta emissões muito semelhantes aos biomas onde a produção é mais intensificada, apesar de a nossa pecuária ser extensiva e receber poucos insumos externos", afirmou.
Os índices, segundo Ana, não foram diferentes de áreas exploradas pela pecuária na Mata Atlântica e no Cerrado, por exemplo. Esse resultado chamou a atenção porque a qualidade nutricional dos outros sistemas é superior à do Pantanal. A explicação para esse fenômeno ainda não é conhecida, porém, pode estar relacionada à dieta dos animais. Uma pesquisa em fase final, desenvolvida pela Embrapa Pantanal, pode ajudar a compreender esse resultado (ver trecho abaixo sobre forrageiras).
Assim como a maioria dos biomas brasileiros e até outras regiões produtoras do mundo que se manifestaram no simpósio, a emissão no Pantanal ficou muito abaixo do que anuncia o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). As métricas utilizadas são diferentes, mas todas validadas cientificamente.
PALESTRA
Além de 11 trabalhos apresentados em forma de pôster, a Embrapa Pantanal esteve representada pelo pesquisador Fernando Fernandes, que fez uma palestra sobre "modelagem de carbono em sistemas de produção da agropecuária" e participou de uma mesa redonda com dois pesquisadores estrangeiros e um brasileiro sobre fluxos de gases de efeito estufa: sequestro, balanço e modelagem de carbono em sistemas de produção.
Fernando falou sobre o modelo Century, que utiliza para estudar o balanço de carbono no solo. Apresentou as vantagens desse sistema e as principais dificuldades de se trabalhar com ele. Uma das restrições é que o Century contabiliza apenas a concentração de carbono na camada mais superficial do solo, entre zero e 20 cm. Mas vários estudos apresentados no simpósio indicaram que há concentrações importantes em camadas mais profundas, entre 30cm e 1 metro.
Como o Century foi desenvolvido no Colorado (USA), o pesquisador avalia que existem algumas limitações para sua aplicação no Brasil e levanta necessidades de adaptação. Uma dessas limitações são as taxas de decomposição, pois os solos tropicais são diferentes dos temperados, típicos de onde o modelo foi concebido. "Os tipos de argila encontrados em solos tropicais são diferentes dos solos temperados. Isso confere um comportamento diferenciado em relação ao sequestro de carbono", explicou.
Outras restrições apontadas por Fernando foram os diferentes mecanismos de proteção da matéria orgânica do solo e a saturação de carbono. "O solo não sequestra carbono indefinidamente. Ele faz isso até determinado nível, depois é preciso alterar o solo. E não existe uma representação matemática para a saturação do carbono. As equações dos Estados Unidos e da Europa não funcionam para o nosso solo", afirmou.
Outra preocupação é que não é possível trabalhar no Century com sistemas integrados, onde duas culturas crescem ao mesmo tempo, como no sistema de ILP (integração lavoura-pecuária). "Eis o desafio: o Brasil precisa desenvolver uma ferramenta melhor, mais eficiente e mais próxima do mundo real", concluiu o pesquisador.
EMISSÃO DE METANO
Foram vários os pesquisadores da Embrapa Pantanal que apresentaram seus trabalhos no simpósio. Um deles, Luiz Orcírio Fialho de Oliveira, mostrou resultados preliminares sobre a emissão de metano entérico de novilhas e de vacas paridas em pastagens mistas (nativas em áreas úmidas + cultivadas em áreas secas) e em pastagens nativas. A coleta de dados foi feita em dois momentos: setembro de 2014, final do período da seca, e em abril de 2015, final do período de chuvas.
"Observamos que a emissão de metano foi semelhante entre as pastagens, porém, o consumo de forrageira foi maior nas pastagens mistas", disse Orcírio. Segundo ele, esse resultado era esperado por dois motivos: onde estão as pastagens cultivadas, ainda há presença de forrageiras nativas, que ficam nas bordas das baías. "Nessa área, as novilhas e vacas aproveitaram o melhor dos dois tipos de pastagens", explicou Orcírio. De acordo com ele, quando aumenta muito a oferta de forragem, o animal pode selecionar o melhor das pastagens.
Na área de pastagens nativas, segundo o pesquisador, o consumo foi menor porque as pastagens já estavam sofrendo um desgaste maior, em função da seletividade natural dos animais pelas partes mais nutritivas das forragens. "Esse estudo demonstra o lado positivo da integração de pastagens nativas e cultivadas, quando se leva em consideração a produção de bezerros e o custo carbono do bezerro produzido."
A pesquisa indica que em abril as vacas paridas emitiram 295,85 gramas por animal/dia de metano nas pastagens mistas; nas áreas de nativas, a emissão foi de 322,55 gramas por animal/dia. Em setembro, as novilhas em pastagens mistas emitiram 171,85 gramas por animal/dia, enquanto aquelas alimentadas exclusivamente em pastagens nativas emitiram 140,57 gramas por animal/dia.
"Precisamos acompanhar mais e ampliar a frequência das medidas. Seriam necessárias pelo menos quatro coletas ao ano, uma em cada estação", afirma. O aumento das coletas permitirá aferir o consumo de pastagens e a emissão de metano com mais exatidão, pois as mudanças na oferta e na qualidade das pastagens são fortemente influenciadas pelas condições de manejo e de clima, principalmente no Pantanal. Ele defende ainda que o projeto Pecus, em uma etapa futura, contemple avaliações dos sistemas tradicionais e comparações destes com possíveis estratégias de mitigação do balanço de carbono da pecuária no Pantanal.
FORRAGEIRAS
A pesquisadora Sandra Santos apresentou dois trabalhos sobre pastagens, um envolvendo a produtividade e a taxa de acúmulo de massa forrageira dessas pastagens e o outro sobre identificação de espécies forrageiras nativas adaptadas às mudanças climáticas. Os resultados da taxa de acúmulo referem-se a dois tratamentos avaliados na fazenda Nhumirim, da Embrapa Pantanal: pastagens mistas (cultivadas + nativas) e nativas perturbadas (descaracterizadas).
"No Pantanal é muito difícil quantificar dados médios da emissão de metano dos bovinos mantidos em pastagens por causa da diversidade e dinâmica das paisagens e pastagens. A dinâmica varia no espaço e no tempo, aliada às estratégias de manejo que também diferem", afirmou a pesquisadora.
Segundo ela, é possível correlacionar a produtividade e qualidade das pastagens e emissão de metano, mas não usar os dados como média para o Pantanal. "Temos que fazer vários estudos de sistemas de manejo, capacidade de suporte, emissão de espécies nativas-chave, espécies cultivadas, entre outros fatores para se ter uma ideia das emissões na região do Pantanal", explicou Sandra.
No simpósio, a pesquisadora apresentou um trabalho que define uma estratégia de manejo que pode ser utilizado nas pastagens para melhorar o fluxo de carbono no sistema. "Levantamos o período de maior taxa de acúmulo de massa forrageira das pastagens e definimos como o mais adequado para melhorar o fluxo de carbono, ou seja, propusemos a vedação da área nesse período para otimizar esse fluxo. O período pode variar de 15 a 30 dias, quando o gado não entra nesse espaço", explicou.
Outro trabalho apresentado no II SIGEE foi relacionado à identificação de forrageiras nativas para áreas úmidas que têm plasticidade fenotípica que suporte a seca e a inundação e que, justamente por essa característica, se adapta ao Pantanal. "A planície pantaneira ora está cheia, ora está seca. Essas forrageiras são de grande valor para o Pantanal. Com a identificação, esforços serão feitos para ampliar o banco de germoplasma visando conservação e seleção para posterior cultivo."
Essa pesquisa está relacionada às mudanças climáticas, pois a rede Pecus procura resultados não apenas de mitigação de gases de efeito estufa pela agropecuária como também a busca de espécies vegetais e animais adaptadas às mudanças no clima – é o caso dessas plantas.
Outro resultado que a pesquisadora está finalizando – mas que não foi apresentado no simpósio – está ligado à dieta dos animais. Sandra e sua equipe estão identificando as espécies de forrageiras selecionadas pelos bovinos para correlacionar com emissão de metano. Adicionalmente, pretende-se também identificar espécies com efeito antimetanogênico, principalmente as que apresentam alto teor de tanino, um composto que atua no rúmen do animal eliminando bactérias que produzem o metano.
"Estamos identificando essas espécies e vamos correlacionar com cada indivíduo para ver se a dieta está relacionada à emissão de metano", afirmou. Esses dados estão em fase de conclusão, assim como outros que a pesquisadora tem para apresentar.
VISÃO GERAL
O II SIGEE trouxe respostas que a comunidade científica brasileira buscava sobre a emissão de gases de efeito estufa pela agropecuária. A principal delas é que, com a intensificação sustentável dos sistemas de produção, é possível reduzir as emissões desses gases. Pesquisadores e autoridades presentes defenderam a adoção de uma política pública que incentive o produtor a adotar tecnologias mitigadoras.
Um dos caminhos apontados pelos cientistas para o equilíbrio do sistema é a recuperação de áreas degradadas. Trata-se de uma abordagem que permite intensificar a produção e sequestrar carbono da atmosfera, contribuindo para reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Mesmo em sistemas extensivos, se o manejo for adequado, as pesquisas indicam que haverá sequestro de carbono no sistema ao longos dos anos.
As métricas utilizadas pelo IPCC para mensurar as emissões de gases de efeito estufa foram questionadas por pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Eles indicam que os números são bem inferiores aos anunciados nos inventários do Painel. Os setores da agropecuária e da energia são apontados pelo IPCC como os que mais emitem os gases.
Ana Maio (Mtb 21.928)
Embrapa Pantanal
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