Embrapa Solos
Caso de sucesso em Integração Lavoura-Pecuária em solos arenosos é retratado em publicação
A adoção dos sistemas de integração, em especial a Integração Lavoura-Pecuária (ILP), é uma alternativa de manejo sustentável de solos arenosos (com baixos teores de argila) no ambiente tropical e traz inúmeros benefícios, constituindo um modelo de intensificação sustentável do uso da terra. Quando associada ao Sistema Plantio Direto, a ILP é uma das formas mais eficientes de manejo sustentável de solos arenosos. Para comprovar esse conhecimento na prática, a Embrapa Cerrados (DF) elaborou o documento “Integração Lavoura-Pecuária (ILP) em Solos Arenosos: Estudo de Caso da Fazenda Campina no Oeste Paulista”, disponível para download.
A publicação é fruto da parceria do centro de pesquisa com a Fazenda Campina, em Caiuá (SP), do produtor Carlos Viacava, e com instituições como a Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP), a cooperativa Cocamar e a Universidade do Oeste Paulista (Unoeste). Pecuarista há décadas, Viacava é uma referência nacional no melhoramento genético de bovinos da raça Nelore Mocho.
O pesquisador Luiz Adriano Cordeiro, um dos autores documento, afirma que a publicação é emblemática. “A Fazenda Campina era uma típica propriedade de pecuária, que até meados de 2012 se dedicava exclusivamente à produção de bovinos. Em 2013, passou a adotar com sucesso a ILP com diversificação de culturas agrícolas, atingindo resultados excepcionais na pecuária”, explica, destacando que o solo da propriedade tem baixo teor de argila – apenas 11% em média.
Apesar de ter uma produtividade animal adequada, a Fazenda Campina era onerada pelo elevado custo de produção, com grande investimento em adubação de pastagens e o uso de um volume significativo de ração animal, suplementação mineral e silagem. “Há oito anos, recebemos a visita do João K (João Kluthcouski, pesquisador aposentado da Embrapa Cerrados), que nos convenceu a ingressar no projeto de adoção da Integração Lavoura-Pecuária. Não precisou de mais que uma manhã para ele nos motivar a buscar um novo caminho para nosso trabalho com a pecuária seletiva”, lembra Carlos Viacava.
A Fazenda Campina adota atualmente um arranjo de ILP com dois anos de agricultura e dois anos de pecuária. No primeiro ano, a soja é cultivada na safra e o milho para silagem na safrinha, consorciado com forrageiras (principalmente a braquiária da espécie Brachiaria ruziziensis), que são pastejadas no período de outono-inverno. No segundo ano, repete-se o cultivo da soja na safra e do milho para silagem consorciado com B. brizantha, com a pastagem permanecendo nos dois anos subsequentes.
Gerente da propriedade, o zootecnista Juliano Roberto da Silva, também um dos autores da obra, conta que o maior desafio inicial era a questão operacional – realizar agricultura em uma fazenda de pecuária. “O manejo de dessecação das pastagens, a correção de solo, o ajuste e a regulagem de plantadeiras para proceder o plantio direto de soja em áreas de pastagens estabelecidas há mais de 10 anos e, ainda por cima, em solos arenosos, eram muito preocupantes... Mas com o passar das safras e, com os investimentos adequados e o treinamento das equipes de campo, esses desafios foram vencidos e hoje a agricultura é uma rotina na Fazenda Campina”, afirma.
Produtividades crescentes
A publicação detalha como a adoção da ILP na Fazenda Campina proporcionou uma evolução positiva e significativa tanto da produtividade vegetal como da produtividade animal, com a melhoria da qualidade do solo, a diversificação do negócio e a viabilidade da atividade agropecuária na propriedade.
A produtividade de milho para a produção de silagem de planta inteira, que na safra 2013/2014 havia sido de 37,2 t/ha, aumentou nas safras seguintes, chegando à produtividade média de silagem de 47,5 t/ha na safra 2016/2017. Também foi observada uma evolução crescente nas produtividades de soja em sistemas de ILP, partindo de 28,4 sc/ha na safra 2013/2014 para 59,14 sc/ha na safra 2017/2018.
O pesquisador Sebastião Pedro da Silva Neto explica que para a viabilização da adoção da ILP é necessária a utilização da cultura da soja em rotação com as pastagens e outras culturas. “O Oeste Paulista tem duas peculiaridades: solos arenosos e períodos de longos veranicos, que aumentam o risco agrícola. Por isso, é necessária a adoção de diferentes estratégias, como a utilização de cultivares de soja com sistema radicular profundo e alto potencial de recuperação de estresse hídrico”, diz, citando como alternativa para esta condição a cultivar BRS 5980IPRO, da Embrapa.
Outra estratégia apontada por Sebastião Pedro é o uso da soja convencional ou não-transgênica. “Ela é mais valorizada no mercado e pode aumentar a receita e reduzir a despesa da lavoura de soja, elevando a margem operacional e minimizando o risco, proporcionando mais sustentabilidade econômica à ILP na região do Oeste Paulista” explica o pesquisador.
Uso da terra mais eficiente
Após a adoção da ILP, a Fazenda Campina também aumentou a eficiência do uso da terra. Quando se compara o ano-base de 2012/2013 com a safra 2016/2017, a área de pastagem destinada à produção animal foi reduzida em 52,2% e a taxa de lotação animal cresceu 54,6%, passando de 1,3 para 2,0 UA*/ha. Na safra seguinte, taxa de lotação chegou a 2,3 UA/ha, com redução da área de pastagem para 1.273 ha em 2018.
Os índices zootécnicos levantados na propriedade também mostram evolução significativa. Na safra 2017/2018, observou-se ganho de peso vivo diário (média anual) de 469 g/animal/dia, produtividade animal de 16 @/ha e taxa de desfrute de 43,5%. “Com melhor nutrição nos pastos formados após a lavoura na ILP, foi possível atingir maior peso à desmama, tanto de machos como de fêmeas. E as novilhas, que antes eram expostas à estação de monta com idade próxima de 24 meses, passaram a ser submetidas à reprodução aos 12 meses de idade”, diz Luiz Adriano Cordeiro.
O gerente Juliano Roberto da Silva também comemora os resultados. “Juntando os anos de seleção genética e um moderno sistema nutricional, com produção de volumoso de alta qualidade, nossos índices zootécnicos foram extraordinários, com altos desempenhos no ganho de peso, precocidade e fertilidade do rebanho a pasto. Mas isso só foi possível graças a nossa parceria com a Embrapa”.
Um dos efeitos mais evidentes da adoção da ILP na Fazenda Campina é o prolongamento da produtividade de pastos, mesmo durante a estação seca. Com pastagens viáveis em plena seca, é possível aumentar a produtividade animal e ainda reduzir custos. “Hoje, como o João K prometia, duplicamos o faturamento, diversificamos culturas e as fontes de receita, e aumentamos o rebanho com menor área de pasto”, aponta Viacava.
Para Juliano Roberto da Silva, a ILP é uma ferramenta sem volta no sistema de produção da fazenda. “A lavoura praticamente subsidia a pecuária nos quesitos de grande disponibilidade de forragens de excelente qualidade, permitindo um ótimo desempenho animal de bovinos criados e recriados a pasto”. Ele complementa: “Este é o boi de capim formado com agricultura”.
Transferência de tecnologia
A Fazenda Campina se tornou uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) de ILP, passando a sediar diversas ações de transferência de tecnologia promovidas pela parceria com a Associação Rede ILPF para ampliar a adoção da ILP em solos arenosos.
Desde 2014, são realizados anualmente dias de campo que abordam diversos aspectos da ILP na propriedade. Em paralelo aos dias de campo, é realizada uma reunião técnica de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) na Unoeste, em Presidente Prudente (SP), sob a coordenação do professor Edemar Moro.
Acesse também a página temática sobre ILPF da Embrapa.
*Unidade Animal (UA) é uma unidade de referência usada para estimar a carga animal ou a lotação de uma pastagem. Corresponde a um animal com 450 kg de peso vivo.
Colaboração: Luiz Adriano Cordeiro
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