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Especialistas da Embrapa falam sobre oportunidades para a produção de energia e biofertilizantes a partir do biogás
A Embrapa tem promovido discussões importantes sobre a transição para uma economia de baixo carbono. Nesse contexto, a Embrapa Agroenergia e a Embrapa Suínos e Aves promoveram na terça-feira, 29/11, o webinar “Biogás: oportunidade para produção de energia e de biofertilizantes no agronegócio”, que contou com a participação simultânea de mais de 100 pessoas.
Bruno Laviola, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agroenergia, iniciou as apresentações afirmando que “o biogás traz uma grande oportunidade de integrar cadeias produtivas, aproveitar resíduos, gerar energia e produzir outros produtos de maior valor agregado, como o hidrogênio e o nitrogênio verde, além de diversos outros bioprodutos”, disse.
Laviola explicou que o biogás é um produto simples, obtido a partir da digestão anaeróbica feita por microrganismos que transformam biomassas, resíduos e efluentes em biogás (do qual um dos componentes é o gás metano). O pesquisador falou também do enorme potencial dessa matéria-prima para a produção de energia, abastecimento veicular, aquecimento, geração de energia elétrica e outros produtos.
“Com o biogás, nós aproveitamos um passivo ambiental que poderia contaminar o meio ambiente, agregamos valor a esse resíduo para a geração de diversos outros produtos que contribuem para o agronegócio como uma fonte de renda, sendo esta uma forma de mitigar problemas ambientais causados por resíduos”, explicou.
Ele lembrou que o tema biogás está em ênfase tanto no Brasil quanto no mundo, o que demonstra uma tendência para que o biogás faça parte da matriz energética brasileira para a produção de produtos de base renovável.
O pesquisador apresentou números que mostram o potencial brasileiro de produção de biogás a partir dos resíduos de algumas cadeias produtivas. Citando dados da Abiogás (2021), ele mostrou que o potencial para os resíduos do setor sucroenergético é de 57,6 milhões de Nm³/dia; de 18,1 milhões de Nm³/dia da produção agrícola; de 35,3 milhões de Nm³/dia da produção de proteína animal e de 6,1 milhões de Nm³/dia do saneamento. “Os resíduos agroindustriais no Brasil são equiparados a um tesouro no fundo do mar, é algo de grande valor mas que utilizamos muito pouco”, disse o pesquisador.
Laviola também falou da deficiência de distribuição de energia que limita o crescimento do agronegócio brasileiro. “Damos pouca atenção ao que o agro deixa de produzir por falta de energia”, disse, citando dados de um trabalho realizado na região de Sorriso (MT) com a APROFIR que mostrou que a área não irrigada por déficit energético chegava 60% da área outorgada para o plantio de feijão.
Para finalizar, o pesquisador falou dos componentes da circularidade e sustentabilidade associados ao biogás, em grande parte relacionados ao aproveitamento dos resíduos gerados pelas cadeias produtivas, e da interação do tema com o trabalho de apoio à formulação de políticas públicas que vem sendo conduzido pela Embrapa Agroenergia para o desenvolvimento da cadeia produtiva do biogás. “É interessante que a produção de biogás se adéque às características das matérias-primas de cada região”, concluiu.
Potencial de descarbonização do biogás
Dados da Embrapa Suínos e Aves mostram que o potencial de descarbonização do biogás alcançado pela digestão anaeróbica de dejetos suínos com aproveitamento do biogás e biofertilizante geraria 50% menos impacto em comparação ao uso das chamadas esterqueiras como destinação final dos dejetos. Essa mitigação equivaleria ao plantio de 64 árvores a cada 100m³ tratados, diz o estudo.
A Embrapa é uma das pioneiras na pesquisa em biogás e biometano no País, com pesquisas que tiveram início na década de 70. O analista e coordenador do Laboratório de Estudos do Biogás da Embrapa Suínos e Aves, Ricardo Steinmetz, afirmou que o biogás é um ativo energético, mas também fonte de matéria-prima para outros processos dentro de uma dinâmica de biorrefinaria.
Steinmetz falou dos biodigestores, tecnologia que faz o processo de geração do biogás, e da circularidade que esse processo promove por meio da possibilidade de fazer a ciclagem dos nutrientes dentro da propriedade agrícola. “A produção de biogás remove carbono dos processos e possibilita a permanência de nutrientes como o nitrogênio, o potássio, o fósforo, que podem ser aproveitados tanto por indústrias de produção de fertilizantes quanto em estratégias de recomendação e manejo para fazer a ciclagem desses nutrientes dentro da propriedade rural”, afirmou Steinmetz. Olhar para os resíduos das cadeias produtivas como substratos também foi outro ponto destacado por Steinmetz durante a apresentação.
De acordo com o analista, o modelo de negócio do produtor rural muitas vezes está focado na produção de proteína, leite, ovos, e o biogás entra como algo complementar, mas que exige certa noção do que o projeto contempla e entender as limitações de ter ou não um biodigestor e utilizar o biogás para diferentes fins dentro da propriedade. “O biogás pode ser utilizado para a geração de energia elétrica mas também pode ser utilizado para fazer a ambiência dos animais, o aquecimento de um piso, dentro de um aviário, algo que pode retornar em abatimento de custo para o produtor”, explicou.
Steinmetz falou ainda dos modelos de plantas de biogás que estão sendo adotados no Brasil, um cenário característico do nosso sistema produtivo que é ter o biodigestor dentro da propriedade/unidade industrial ou o cenário em que os resíduos são coletados em diferentes locais e encaminhados para uma unidade central onde será feita a conversão da matéria orgânica em biogás. “Outro modelo que está sendo difundido no Brasil é o modelo em que a produção de biogás é descentralizada e o biogás é canalizado para um região central para ser beneficiado e utilizado. Já há projetos no oeste do Paraná caminhando nesse modelo de estruturação”, afirmou.
Para finalizar, Steinmetz lembrou das funções ambiental e social do biogás que a tecnologia do biodigestor promove em locais onde há dificuldade de acesso a alimentos e combustíveis, em geral propriedades rurais localizadas principalmente no semiárido. “São locais onde muitas vezes as pessoas não têm acesso a saneamento básico nem ao gás de cozinha ou mesmo energia elétrica, e então o biodigestor desempenha um papel social muito importante”, afirmou.
Ele também apresentou modelos de biodigestores de diferentes níveis tecnológicos e alertou que a escolha da tecnologia deve ser feita com base no substrato.
Para assistir o webinar completo, clique aqui.
Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Agroenergia
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