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22/06/16 |   Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação  Produção animal

Embrapa investe em mais qualidade para sua Arca de Noé

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Foto: Arquivo Embrapa

Arquivo Embrapa - Da esquerda para direita: Thiago Mesquita e Kleibe Silva (Embrapa Caprinos e Ovinos) e Clarissa Castro e Alexandre Floriani (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia)

Da esquerda para direita: Thiago Mesquita e Kleibe Silva (Embrapa Caprinos e Ovinos) e Clarissa Castro e Alexandre Floriani (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia)

Começa em junho de 2016 projeto que vai diagnosticar as coleções animais e adequá-las às normas internacionais de qualidade.

Começa em junho de 2016 um projeto que vai avaliar a atual condição das coleções de raças de animais domésticos de interesse zootécnico mantidas pela Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, com o objetivo de adequá-las às normas internacionais de qualidade. A Empresa investe, desde a década de 1980, em um programa de conservação de raças de animais domésticos de interesse agropecuário que fazem parte da história do Brasil, pois muitas estão aqui desde a época da colonização. O projeto, também conhecido como Arca de Noé, tem como intuito principal garantir a preservação de bovinos, caprinos, ovinos, suínos, equinos, bubalinos e asininos, que têm em comum séculos de permanência no país, o que lhes garante características de rusticidade e adaptação ao ambiente, que podem ser muito valiosas para programas de melhoramento genético, a partir do cruzamento com raças mais produtivas.

Diferente da passagem bíblica, os modernos Noés, que são os cientistas da Embrapa, não enfrentam um dilúvio, mas lutam contra o tempo para impedir o desaparecimento dessas raças seculares, cada vez mais preteridas por criadores que buscam animais mais produtivos. A extinção desses animais representaria a perda de um verdadeiro tesouro genético à disposição da ciência, pois guardam genes de adaptação ao ambiente, nos quais podem estar as respostas para resistência a doenças e tolerância a estresses climáticos e ambientais.

O projeto QUALIANI - Implementação e Monitoramento de Sistemas da Qualidade na Vertente Animal, que inicia suas atividades operacionais em junho de 2016, tem um objetivo nobre e grandioso: garantir qualidade à essa Arca de Noé, de acordo com normas e padrões internacionais. Mas, é claro que as atividades têm que ser desenvolvidas por etapas, como explica a coordenadora do projeto e pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, unidade da Embrapa em Brasília, DF. Hoje, a Empresa possui, em parceria com universidades e associações de criadores, 26 núcleos de criação em todo o Território Nacional. Diante da impossibilidade de diagnosticar todos nessa etapa do projeto, foram selecionados como pilotos os cinco núcleos de criação de caprinos e ovinos, mantidos pela Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral, CE. Lá, encontram-se exemplares de duas raças de caprinos Canindé (58 animais) e Moxotó (68); e três de ovinos: Morada Nova (72); Santa Inês (85) e Somális (81).

Primeiro passo rumo à implantação do Sistema de Qualidade nas coleções de animais

Para mapear a atual situação desses núcleos, Clarissa e o também pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Alexandre Floriani, especialista em recursos genéticos animais, estiveram em Sobral no período de 14 a 17 de junho. Além de conhecer os núcleos de criação de caprinos e ovinos, o objetivo foi também se reunir com as equipes da unidade de pesquisa cearense para começar a definir os requisitos corporativos de qualidade que vão nortear a adequação dos núcleos às normas e padrões vigentes no exterior.

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia possui ampla experiência em relação à gestão da qualidade em seus laboratórios e instalações, especialmente em relação às coleções de microrganismos. Essa experiência resultou em dois feitos inéditos para a Empresa e para o Brasil: a acreditação do primeiro laboratório para realização de ensaios biológicos, em 2014, e este ano, a acreditação do primeiro Centro de Recursos Biológicos (CRB) do Brasil.

Nesses dois casos, a acreditação foi outorgada pela CGCRE- Coordenação Geral de Acreditação / Inmetro - Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, que é o órgão brasileiro responsável por fortalecer as empresas nacionais a partir da adoção de mecanismos destinados à melhoria da qualidade de produtos e serviços. Mas, no caso de coleções animais, não existem normas pré-definidas no Instituto. Por isso, como explica Clarissa, "será necessário selecionar requisitos com base em normas internacionais (ABNT ISO/IEC 17025, ABNT ISO GUIA 34 e Versão Brasileira do Documento Diretrizes da OCDE de Boas Práticas para Centros de Recursos Biológicos) para definir um padrão único e internacional de qualidade a ser adotado".

Banco de caprinos e ovinos já está muito bem estruturado

A pesquisadora afirma que os núcleos de criação mantidos pela Embrapa Caprinos e Ovinos já estão muito bem estruturados, com uma equipe altamente comprometida com a qualidade na conservação dos animais. Segundo ela, eles utilizam um Sistema de Gerenciamento de Rebanhos (SGR) que faz parte de um programa inovador, o GENECOC (Melhoramento Genético de Caprinos e Ovinos de Corte). O processo de atuação do SGR apresenta um conjunto de características para o controle e gerenciamento da informação via internet.

Além do SGR, são utilizados também softwares livres, como o ENDOG e Pedigree View, que têm como foco a variabilidade genética, principal objetivo de um núcleo de conservação. Outra tecnologia moderna que está sendo empregada no manejo dos rebanhos é a identificação eletrônica dos animais por meio de Bolus Intra-Ruminal, que permite acesso a todas as informações sobre os caprinos e ovinos, além de facilitar a coleta de dados produtivos e reprodutivos, de forma a garantir a veracidade da informação. Além da identificação eletrônica, os animais são identificados por brinco e tatuagem.

Segundo o curador dos cinco núcleos de conservação da Embrapa Caprinos e Ovinos, Kleibe Silva, todos os animais já estão chipados. Ainda em 2016, ele espera que a coleta de informações seja totalmente eletrônica, o que diminui muito a chance de erros na identificação e documentação dos dados referentes aos núcleos.

"A visita aos núcleos foi a primeira ação operacional do projeto. Daqui para frente, vamos trabalhar, em conjunto com a equipe da Embrapa Caprinos e Ovinos, na seleção e definição dos requisitos de implantação do sistema de qualidade e em agosto próximo, voltaremos para fazer o diagnóstico, que será baseado nesses requisitos", explica Clarissa.

O projeto de adequação dos núcleos de criação às normas de qualidade se estende até 2020. Para isso, ainda este ano, provavelmente em outubro, a equipe do Núcleo de Gestão da Qualidade da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia voltará à Embrapa Caprinos e Ovinos para promover um treinamento nos requisitos corporativos de qualidade estabelecidos a toda a equipe envolvida com a sua operacionalização. "O objetivo final é que a implantação do sistema de qualidade seja feita entre os anos de 2017 e 2019 e em 2020, voltaremos para o monitoramento dessa implantação, que acontecerá por meio de auditorias internas", complementa.

No caso dos núcleos de criação de animais, os requisitos de qualidade contemplam: documentos, registros, pessoal, campos experimentais e condições ambientais de criação, animais e insumos e equipamentos e rastreabilidade de medição.

"Isso significa que a implantação do sistema tem que atender a todos esses itens. Não é um processo fácil, especialmente no caso de animais, com o qual estamos começando do zero. É claro que a experiência adquirida com as coleções microbianas ajuda, mas muitas adequações são necessárias, pois se trata de um universo completamente diferente que está relacionado ao campo", ressalta Clarissa.

Mas, toda a equipe que participa do projeto, envolvendo as duas unidades, está bastante animada com as perspectivas de resultado porque quando estiver terminado, o projeto de implantação do sistema de qualidade vai melhorar a rotina das equipes que atuam diretamente no manejo dos animais, além de melhorar a rastreabilidade.

Para Kleibe Silva, as ações do Projeto QUALIANI serão muito positivas porque permitirão a padronização da gestão da qualidade em todos os núcleos de caprinos e ovinos da Embrapa. Hoje, sete unidades da Empresa – Caprinos e Ovinos, Meio-Norte, Tabuleiros Costeiros, Roraima, Pantanal, Recursos Genéticos e Biotecnologia e Pecuária Sul – trabalham com esses animais e as informações geradas são muito heterogêneas, como explica o pesquisador. Não só no que se refere aos núcleos de conservação, como também aos bancos de DNA e tecidos geridos por essas Unidades.

"A ideia é que todos os núcleos e bancos sigam os requisitos corporativos de qualidade que serão definidos pelo Projeto, incluindo informações, instalações e equipamentos, entre outros itens, o que possibilitará a homogeneização de todos os dados referentes aos caprinos e ovinos que fazem parte do programa de conservação da Embrapa", explica Kleibe.

Segundo ele, além de facilitar a rotina e a operacionalização das ações, essa padronização vai contribuir também para a qualidade do material enviado ao Banco Genético da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia para conservação ex situ (fora do local de origem dos animais). "Hoje, cada núcleo manda a informação de um jeito, o que dificulta o processo final de conservação no Banco em Brasília", ressalta.

Kleibe lembra que vai facilitar também a documentação dos dados no Sistema Alelo Animal, que é o portal de informações de recursos genéticos animal criado pela Embrapa. O sistema permite o acesso a informações relacionadas aos recursos genéticos, essenciais para as atividades de intercâmbio e uso de germoplasma. É alimentado pelos curadores de germoplasma e suas equipes de forma descentralizada, permitindo a criação da base de dados de recursos genéticos da Embrapa.
    
Fazenda da Embrapa em Brasília e Banco de DNA também serão contemplados

O projeto QUALIANI vai contemplar também o Banco Brasileiro de Germoplasma Animal (BBGA) mantido no Campo Experimental Fazenda Sucupira, em Brasília, DF, e os bancos de DNA e tecidos da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e da Embrapa Caprinos e Ovinos.

O BBGA funciona como uma espécie de vitrine do programa de conservação desenvolvido pela Embrapa em todo o país. Lá, estão reunidos mais de 200 animais, incluindo bovinos, caprinos, suínos, ovinos, equinos e asininos que representam algumas das raças que compõem o programa. "O objetivo é mostrar ao público parte da nossa história, representada por esses animais, e chamar a atenção da sociedade para a importância de conservá-los", enfatiza o pesquisador Alexandre Floriani.

Os bancos de DNA e tecidos são importantes aliados da ciência no que se refere à conservação de animais fora de seu habitat. Por isso, também fazem parte do escopo do projeto.

Publicações e treinamentos são objetivos do Projeto

Segundo a coordenadora do Projeto QUALIANI, depois de estabelecidos, os requisitos corporativos de qualidade serão reunidos e publicados em cartilhas que ficarão à disposição das equipes dos núcleos de criação, BBGA e dos bancos de DNA e tecidos das duas Unidades. "Essas cartilhas serão elaboradas em linguagem simples e objetiva, de forma a auxiliá-los em suas atividades e serviços diários", explica.

Antes disso, serão promovidos treinamentos para a capacitação e qualificação de empregados e colaboradores que exercem atividades nesses locais. "Um dos intuitos do QUALIANI é disseminar essas informações para os outros núcleos de conservação da Embrapa e bancos de DNA e tecidos. Já estamos organizando um workshop a ser realizado durante o IV Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos (IV CBRG), que acontece entre os dias 8 e 11 de novembro, em Curitiba, PR, já que vai reunir grande parte dos responsáveis por núcleos de criação e bancos genéticos animais da Empresa", finaliza Clarissa.

 

Fernanda Diniz (DRT/DF 4685/89)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

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