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24/01/18 |   Biodiversidade

Açaí: floresta contribui com presença de polinizadores e produção de frutos

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Foto: Cristiano Menezes

Cristiano Menezes - Abelha sem ferrão (Trigona pallens Fabricius) se alimenta em uma flor masculina de açaí

Abelha sem ferrão (Trigona pallens Fabricius) se alimenta em uma flor masculina de açaí

A diversidade de insetos polinizadores em áreas de açaizais pode responder por um acréscimo de até 25% na produção de frutos de açaí em cada planta. A relação entre floresta nativa, presença de polinizadores e produção do açaí é a principal conclusão de artigo publicado pelo pesquisador Alistair Campbell e seus colaboradores na revista Journal of Applied Ecology. Campbell é pesquisador visitante na Embrapa Amazônia Oriental e na Universidade Federal do Pará, em Belém (PA).

A pesquisa comparou os polinizadores e a produção de frutos de açaí em 18 áreas no delta do rio Amazonas, desde açaizais nativos nas várzeas com diferentes graus de intervenção até monocultivos em terra firme. Foi constatado que as flores do açaí são visitadas por cerca de 200 espécies de insetos, das quais mais de 100 são polinizadores potenciais, ou seja, visitam tanto as flores masculinas como as femininas. Esse grupo inclui abelhas, moscas, besouros e vespas. “Nas áreas de açaizais nativos com manejo de alto impacto, onde restou apenas as palmeiras de açaí, a quantidade e diversidade de polinizadores é menor. Em razão disso a produção de frutos também diminui, pois a polinização das flores do açaí é altamente dependente do serviço prestado pelos insetos”, afirma Campbell.

Entre os polinizadores do açaí, o artigo mostra também que as abelhas nativas são as que mais sofrem com a diminuição da diversidade florestal. De acordo com a pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental Márcia Maués, que também assina o artigo, a riqueza de abelhas está altamente relacionada à diversidade de espécies florestais, principalmente por conta da alta dependência das abelhas pelas árvores maiores para construção de seus ninhos.  Outro fator que contribuiu para isso é que a floresta disponibiliza flores ao longo do ano para manter colônias perenes. “Diferente dos outros insetos, as abelhas dependem exclusivamente do pólen e do néctar para se alimentar ao longo de todo o ciclo de vida”, explica Márcia.

Manejo de mínimo impacto

A palmeira do açaí (Euterpe oleracea Mart.) é nativa das áreas de várzea do delta do rio Amazonas, onde ocorre em abundância. O fruto roxo, rico em antioxidantes, é um alimento tradicional nas comunidades da Amazônia e apresenta uma procura crescente em função das suas propriedades funcionais. A cada ano cerca de 1 milhão de toneladas de açaí são produzidas no estado do Pará.

A demanda crescente garante bons preços ao fruto e o ribeirinho busca elevar a produção das áreas de açaizais por meio da eliminação das demais espécies, convertendo a várzea em uma “floresta de açaí”. Os autores do artigo concluem que essa conversão de florestas nativas da área de várzea em monoculturas de açaí pode trazer consequências negativas tanto para as comunidades de polinizadores quanto a produção de açaí na região amazônica.

Essa descoberta vem ao encontro do que propõe a tecnologia Manejo de mínimo impacto para produção de frutos em açaizais nativos, desenvolvida pela Embrapa para as áreas de várzea do delta do rio Amazonas. Para manter a sustentabilidade do açaizal, a tecnologia recomenda que haja uma proporção adequada entre o número de touceiras de açaí e demais espécies florestais.

 

Vinicius Soares Braga (MTb 12.416/RS)
Embrapa Amazônia Oriental

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