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Solarização é alternativa para combater besouro que ataca o cupuaçu
Foto: Aparecida Claret
Inseto deixa um furo na casca do cupuaçu por onde entram organismos que estragam a poupa
Pesquisa da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) identificou que a técnica de solarização dos frutos é uma opção ecológica e eficaz para quebrar o ciclo biológico do besouro Conotrachelus sp., conhecido como broca-do-fruto do cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum Schum.)
De acordo com os especialistas, a técnica é uma alternativa acessível para reduzir a incidência dessa praga na cultura, mantida majoritariamente por agricultores familiares. A broca-do-fruto é a principal praga do cupuaçuzeiro e o problema atinge sobretudo os estados da Amazônia Ocidental, como Amazonas, Rondônia e Acre.
A solarização consiste em ensacar os frutos colhidos e deixá-los expostos ao sol no campo. No estudo, foi verificado que a partir do 30º dia de solarização ocorre a morte de todas as larvas adultas e imaturas.
Como age a brocaA broca-do-fruto do cupuaçuzeiro é um besouro marrom escuro de cerca de oito milímetros. As fêmeas fazem postura nos frutos, e o desenvolvimento das larvas ocorre no interior deles em quatro fases larvais (instares). Passado esse período, furam a casca e vão para o solo, onde continuam o desenvolvimento. Ao saírem dos frutos deixam um orifício, por onde penetram organismos patogênicos que estragam a polpa. Quando o cupuaçu cai no chão, as larvas se instalam também no solo, de onde crescem novos insetos adultos, recomeçando o ciclo. Uma das principais orientações para evitar a proliferação da praga é não deixar os frutos brocados abandonados no chão e não levar frutos de uma área infestada para outra sem a presença do inseto. |
Casca é rica em potássio
No experimento coordenado pela pesquisadora da Embrapa Ana Pamplona foram testados seis períodos de solarização com três repetições cada, e a avaliação foi feita com a análise dos frutos e contagem das larvas existentes na casca, entrecasca, polpa e sementes, nas diferentes condições de tratamento. “Após as larvas morrerem, as cascas podem ser usadas na compostagem, pois essa parte do cupuaçu é rica em potássio”, explica a cientista.
A pesquisadora ressalta que para uso na compostagem é recomendado aguardar o mínimo de 30 dias contínuos de solarização. No entanto, se nesse período a exposição ao sol for intermitente, ou seja, se houver períodos nublados ou chuvosos, o período de ensacamento e solarização deve se estender por 50 dias, por segurança.
No período do experimento, a variação de temperatura durante a solarização ficou entre 23°C e 28°C. No experimento, foram utilizados sacos de polietileno transparentes e resistentes (espessura de 0,8 mm e capacidade de 50 kg), que podem ser comprados em lojas de embalagem. Os sacos devem ser mantidos fechados, de modo que os frutos brocados com as larvas fiquem submetidos a condições anaeróbicas (sem oxigênio). Os sacos não podem ser abertos até concluir o período recomendado para o extermínio completo das larvas. O trabalho foi detalhado em um boletim de pesquisa.
Pesquisadora Ana Pamplona detalha as fases do experimento
Prejuízos
Ana Pamplona informa que a infestação da broca começa atingindo cerca de 20% da plantação no primeiro ano, 60% no segundo e, a partir do terceiro ano, pode infestar todo o plantio. Com isso, a praga tem provocado perdas na produção e desestimulado os plantios de cupuaçu.
Para o seu controle, a Embrapa recomenda boas práticas de manejo que dificultam a instalação do inseto no plantio ou, se já estiver no local, propiciam a redução da infestação na área de produção (veja quadro no fim do texto).
Entre as boas práticas, orienta-se verificar durante a safra se existem frutos brocados no plantio e retirá-los diariamente. Isso porque o inseto tem um ciclo de reprodução de difícil controle. As larvas completam seu desenvolvimento no solo, de onde emergem na forma adulta para recomeçar o ciclo, infestando novos frutos. A praga estraga a polpa e resulta em prejuízos crescentes até a perda total da produção.
O cupuaçu é um fruto com aroma e sabor apreciado dentro e fora da região amazônica, pela polpa usada principalmente na fabricação de sucos, doces, sorvetes, balas e licores. As suas sementes são utilizadas na produção de alimento parecido com o chocolate (copulate) e cosméticos. Ele é demandado pelos mercados nacional e internacional.
Plantações no Amazonas encolhem mais de 50%
No Amazonas, onde essa praga é um grave problema nos cupuaçuzais, tem ocorrido o aumento da infestação, ocasionado muitas vezes por frutos brocados abandonados no solo.
Segundo dados do órgão de extensão rural do estado, o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), nos últimos sete anos houve retração de mais de 50% nas áreas plantadas, passando de 11 mil hectares para aproximadamente 5.075 hectares em 2018. Os municípios de Itacoatiara, Autazes e Manacapuru são os maiores produtores do Amazonas, segundo dados do Idam de 2018.
Há ainda outros motivos para a queda da área plantada de cupuaçuzeiro. De acordo com o Relatório de Acompanhamento do Idam, de janeiro a setembro do ano passado, houve baixa produtividade em consequência de um conjunto de fatores, como a alta incidência da broca-do-fruto, a suscetibilidade das plantas à vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, o manejo inadequado da cultura e as exigências no processo de beneficiamento e refrigeração/congelamento da polpa.
Como combater o problema
Para a reduzir a incidência da praga no plantio, é preciso adotar boas práticas como:
• fazer aceiro em uma faixa de dois a três metros, mantendo o capim rasteiro no plantio. Essa medida dificulta a passagem do inseto adulto das plantas da floresta para o cupuaçuzeiro;
• inspecionar o plantio, coletando diariamente todos os frutos contaminados;
• nunca deixar frutos abandonados na área de plantio, mesmo os pequenos, doentes, verdes e os que ficam presos nas forquilhas das plantas;
• nunca deixar os galhos rentes ao solo, sempre realizar sua elevação por meio de podas;
• frutos brocados devem ser enterrados a, pelo menos, 70 centímetros de profundidade, nunca deixados abandonados no plantio ou jogados em rios e córregos;
• nunca levar frutos de locais de ocorrência da broca para áreas sem infestação;
• utilizar leguminosas como cobertura de solo nas áreas de produção;
• em deslocamento veicular, alojar os frutos sobre plástico na carroceria. Assim, caso haja larvas dentro do fruto, estas, ao saírem, ficarão presas no plástico, não completando, dessa forma, o ciclo no solo;
• inspecionar as plantas hospedeiras alternativas da praga no entorno do plantio (cacau, cacauí, cupuí, bananeira, cacaurana, jaqueira). Caso sejam encontrados sinais de broca, coletar e destruir os frutos;
• realizar as podas de manutenção e fitossanitária das plantas conforme o cronograma de manejo da cultura;
• proceder à análise de solo e às respectivas adubações de acordo com as necessidades do cultivo;
• descartar cascas e sementes em locais fora da área de plantio e/ou reuso em compostagem do casqueiro;
• frutos doentes ou podres devem ser destruídos, pois se estiverem infestados, as larvas completam as fases de reprodução.
Foto: Aparecida Claret
Maria José Tupinambá (MTb 114/AM)
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Síglia Souza (MTb 66/AM)
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