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Consumo de mandioca e plantas alimentícias é tema de oficina com os Puyanawa
Conhecer novas formas de aproveitamento da mandioca e maneiras práticas para incluir no cardápio Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC), com foco na promoção da saúde e segurança alimentar. Com esse propósito, moradores da Terra Indígena Puyanawa participaram de oficina de incentivo à alimentação saudável, no dia 6 de junho. A capacitação faz parte das estratégias para melhoria da alimentação nas aldeias, adotadas pelo projeto “Etnoconhecimento, agrobiodiversidade e serviços ecossistêmicos entre os Puyanawa”, com apoio do Projeto Integrado da Amazônia, executados pela Embrapa.
A Terra Indígena Puyanawa está localizada no município de Mâncio Lima, na região do Juruá (AC), há cerca de 600 quilômetros de Rio Branco, capital do estado. Há dois anos a Embrapa Acre realiza ações de pesquisa, transferência de tecnologias e comunicação naquele território, com apoio da Fundação Nacional do Indio (Funai), via Coordenação Regional do Juruá, sediada em Cruzeiro do Sul (AC). Pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento atuam em diversas frentes de trabalho com o objetivo de fortalecer os sistemas de produção agrícola, especialmente o cultivo de mandioca para produção de farinha, principal fonte de renda das famílias e base da alimentação nas aldeias, em parceria com moradores da comunidade e profissionais de outras instituições.
Entre as atividades em andamento está o levantamento e identificação de PANC, realizado conjuntamente com a Universidade Federal do Acre (Ufac). Na primeira etapa desse trabalho foram identificadas mais de 80 espécies de PANC somente nos roçados e áreas próximas das casas, algumas já utilizadas como plantas medicinais. Entre as plantas presentes nessa diversidade está a beldroega, suculenta mais conhecida como onze-horas, considerada por estudiosos do campo da saúde alimentar como uma das principais fontes de ômega 3 (encontrado nas sementes), substância que, entre outros benefícios, ajuda a prevenir doenças cardiovasculares. Além disso, segundos pesquisas bromatológicas, é rica em fibras, vitaminas A e do complexo B e C, e minerais como potássio, magnésio, cálcio, ferro, zinco e selênio, antioxidantes e melatonina, hormônio regulador do sono.
De acordo com o pesquisador Moacir Haverroth, líder do projeto executado na Terra Indígena, os estudos com PANC visam contribuir para a conservação da agrobiodiversidade local, com estratégias de fácil implementação como o cultivo em hortas caseiras, valorizar produtos tradicionais e melhorar a oferta e qualidade nutricional dos alimentos consumidos nas aldeias, preservando hábitos alimentares do povo Puyanawa. É possível elaborar pratos típicos da culinária indígena, e incorporar novas receitas agregando ingredientes mais naturais”, ressalta.
Cardápio diversificado
A oficina atendeu a demanda de lideranças da comunidade que buscam alternativas para ampliar a oferta e a qualidade dos alimentos consumidos pelas famílias, assim como para incrementar o cardápio oferecido durante as festividades realizadas na Terra Indígena Puyanawa. “Tenho certeza que os conhecimentos adquiridos vão melhorar a nossa saúde e fortalecer nossos eventos. Além de uma alimentação mais diversificada e saudável, as receitas também proporcionam economia para as famílias porque parte dos ingredientes podem ser encontrados na natureza”, destaca a professora Maria Alice Martins, gestora escolar da Terra Indígena.
Segundo a nutricionista Eline Messias, professora da Ufac e ministrante da oficina, a mandioca é um alimento rico em fibras e importante fonte de energia, com muitas possibilidades de consumo. Os pratos elaborados buscaram associar a mandioca e plantas alimentícias com potencial nutricional abundantes na Terra Indígena, mas ainda pouco utilizadas como alimento.
“Muitas PANC disponíveis nas aldeias são fonte de vitaminas e outros nutrientes importantes para a saúde humana e podem ser incorporadas à alimentação diária ingredientes naturais à alimentação ajuda a proporcionar um cardápio diversificado e nutritivo e favorece a prevenção de doenças. Além de mostrar alternativas para elevar a qualidade da dieta alimentar da comunidade, esse tipo de atividade busca incentivar o consumo de alimentos mais saudáveis em substituição a produtos industrializados”, enfatiza a especialista.
Mão na “massa”
A oficina contemplou 20 indígenas envolvidos com o preparo de alimentos comercializados durante o Festival da Mandioca (Festival Atsá), principal festa do povo Puyanawa, realizado sempre no mês de julho. Os grupos de participantes ocuparam as bancadas da Arena de Eventos da Terra Indígena, colocaram literalmente a mão na “massa” e prepararam 16 pratos salgados e doces, à base de mandioca. Plantas alimentícias como o espinafre da Amazônia (também conhecido como orelha-de-macaco), importante fonte de proteína, folhas de laranjeira e limão cravo ajudaram a conferir mais sabor, cor e valor nutricional a saladas, refogados, pães, brigadeiros, lasanhas e outras receitas degustadas ao final da atividade.
Além de orientar o passo a passo para preparo dos pratos, a oficina destacou outros aspectos indispensáveis na cozinha, incluindo a importância nutricional dos ingredientes utilizados e cuidados higiênicos necessários na manipulação dos alimentos, aspecto importante para resguardar a saúde. “As receitas elaboradas são simples, fáceis de preparar e podem ser consumidas no cotidiano das famílias e também comercializadas em festas tradicionais nas aldeias. Por isso, também enfatizamos formas de apresentação e a necessidade de repassar para o consumidor informações sobre as receitas”, explica Eline Messias.
Para Gedê Bastos, um dos participantes, é importante conhecer a diversidade de alimentos que podem ser elaborados com a mandioca, para aproveitar melhor esse produto. Ele acredita que os conhecimentos proporcionados pela oficina vão beneficiar tanto quem vive na comunidade como o público visitante, com a inclusão de novos pratos no cardápio. “Durante o Festival, além do artesanato comercializo vários pratos da nossa culinária, todos preparados por mim. Gosto de cozinhar e sempre que posso busco novidades. Aprendi a preparar o empanado de mandioca e, com certeza, vou fazer essa e outras receitas em casa, para a família, e também na minha barraca”, afirma o artesão.
Proprietária de uma pequena padaria na comunidade, a dona de casa Maria Rosa Gomes destaca a experiência como um momento de socialização e aprendizagem coletiva. “É a primeira vez que participo desse tipo de uma oficina de culinária e poder trabalhar e aprender junto com outras pessoas da comunidade é gratificante. Já conhecia o pão de mandioca, porque costumo fazer, mas foi muito bom saber que posso fazer outras receitas com essa raiz”, diz.
Projeto Integrado da Amazônia
Prevista no projeto executado na Terra Indígena como ação de popularização da Ciência, no âmbito do Programa Embrapa & Escola, a oficina de alimentação também contempla objetivos do projeto Integrado da Amazônia, iniciativa que atua para o fortalecimento da produção sustentável em comunidades tradicionais da região, entre outras finalidades, por meio de 19 projetos componentes, aprovados no âmbito do Fundo Amazônia, iniciativa gerida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente.
Desenvolvido nos diferentes estados amazônicos, por meio das Unidades da Embrapa, o Projeto Integrado da Amazônia investe em ações de pesquisa e desenvolvimento, transferência de tecnologias e atividades de intercâmbio de conhecimentos, com foco na redução do desmatamento, recuperação de áreas degradadas e uso sustentável dos recursos naturais do bioma Amazônia. Além disso, são executadas atividades de comunicação para divulgação das diferentes frentes de trabalho e dos resultados alcançados no âmbito dos diferentes projetos.
Diva Gonçalves (Mtb-0148/AC)
Embrapa Acre
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