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22/05/20 |   Estudos socioeconômicos e ambientais

Nota técnica: Impactos da Covid-19 na bananicultura brasileira

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Foto: Alessandra Vale

Alessandra Vale - A comercialização de banana foi afetada pela pandemia

A comercialização de banana foi afetada pela pandemia

Áurea Fabiana Apolinário de Albuquerque Gerum1
Marcelo do Amaral Santana2
Sandro Lamarca Rocha3

 


Alimento de qualidade significa saúde e também é paz social”4
Ministra Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias

 


Introdução

A COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, foi identificada inicialmente em Wuhan, China, no último bimestre de 2019, e poucos meses depois declarada como pandemia em 11 de março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O primeiro caso registrado no Brasil ocorreu na primeira quinzena de fevereiro.

A orientação das autoridades sanitárias e de saúde é a do isolamento social, adotado no momento em vários países do mundo, bem como no Brasil. Concomitantemente, houve o fechamento temporário de várias instituições (a exemplo de escolas, academias de ginástica, shopping centers) e abertura parcial ou controlada de outros (restaurantes e supermercados, por exemplo), além do regime de teletrabalho (home office) instituído por várias empresas.

Ademais, alguns municípios já decretaram lockdown (ou seja, um endurecimento das ações anteriores de combate à pandemia), cuja tendência é de ampliação em outras partes do Brasil. Com isso, os impactos na mobilidade urbana serão mais intensos com mudanças consideráveis no consumo (tanto no volume quanto na forma de consumir).

O fechamento parcial ou total de hotéis, restaurantes, lanchonetes, buffets e recepções para eventos em geral provocou queda na procura por frutas e hortaliças.

Esta “nova” situação impactou tanto nos processos de produção quanto nas transações comerciais rotineiras. Não seria diferente com o agronegócio nem com o setor bananicultor.

 

Importância e características da produção de banana

A banana é a fruta mais produzida e consumida no mundo. Em 2018, a produção global totalizou 115,7 milhões de toneladas, sendo a Índia (26,6%), a China (9,7%), a Indonésia (6,3%), o Brasil (5,8%) e o Equador (5,6%) os maiores produtores (FAO, 2018). No Brasil, a banana se destaca como a segunda fruta mais importante em termos de área colhida, quantidade produzida e valor da produção. Em 2018, ocupou uma área de 449 mil hectares, sendo cultivada desde a faixa litorânea até os planaltos interioranos. A produtividade média nacional naquele ano foi de 15,03 t/ha — com variações de 7,62 t/ha (TO) a 27,78 t/ha (RN). Os principais estados produtores foram: São Paulo (1.061.410 t), Bahia (825.422 t), Minas Gerais (766.966 t), Santa Catarina (709.127 t), Pernambuco (429.338 t) e Pará (423.383 t).

A banana e os plátanos (banana-da-terra) são frutas de grande importância para o Brasil. Em 2018, destacaram-se como a segunda fruta mais relevante em termos de área colhida, quantidade produzida e valor da produção, após a laranja. Seu consumo aparente5 no País é de aproximadamente 26 kg/habitante/ano.

O mercado interno brasileiro absorve quase a totalidade da produção nacional de banana (por volta de 98%, em média). Entretanto, há polos de produção com potencial e ações já iniciadas para ampliar as exportações, como os do Baixo Jaguaribe (CE), Vale do Açu (RN), Bom Jesus da Lapa (BA), Norte de Minas Gerais, Vale do Ribeira (SP) e Norte de Santa Catarina, inclusive com a fruta processada na forma de doces, purês, banana-passa e geleias.

A bananicultura brasileira é desenvolvida principalmente por pequenos produtores, que, além da COVID-19, vêm enfrentando também outros desafios, a exemplo de manejo inadequado, restrição hídrica e falta de cuidados na pós-colheita. Some-se a isso o baixo índice de organização dos produtores que, no momento atual, seria um divisor de águas no enfrentamento e diminuição das restrições causadas pela pandemia, que reduziu mais ainda a competitividade desse grupo.

 

Efeitos da pandemia de COVID-19 no consumo de banana

Em algumas regiões produtoras, o acesso ao conjunto dos agentes de comercialização denominados sacolões, supermercados, redes de supermercados e grandes varejistas é restrito aos grandes produtores e a algumas cooperativas e associações. A venda do produto em feiras livres e pequenos varejistas (como quitandas) é praticada, principalmente, por pequenos e médios produtores. Os supermercados, principais canais de distribuição no varejo, cresceram em importância frente às feiras livres. Dessa forma, é importante que os governantes municipais se movimentem para a manutenção — com os cuidados necessários — das feiras livres em suas respectivas cidades. Devido à importância do comércio de hortifrutis, considerado essencial na oferta de alimentos à população em geral (Portaria nº 116), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), publicou algumas orientações de cuidados na prevenção à COVID-19 durante a comercialização desses produtos, tanto nas feiras livres quanto nos comércios atacadistas e varejistas6

Em alguns municípios onde houve esforços de distribuição de cestas básicas às famílias dos alunos de baixa renda, os itens alimentícios não podiam conter perecíveis, alijando muitos produtores de escoar a produção, não só de banana, mas de frutas em geral e hortaliças. Nesse caso, mais esforços de logística e coordenação das ações de distribuição, seguindo os princípios do Just In Time, poderiam sanar esta barreira.

Ademais, em muitas localidades as feiras livres foram proibidas, prejudicando ainda mais seus principais abastecedores: os produtores de pequeno porte. É importante salientar os esforços de várias autoridades municipais no sentido de viabilizar este comércio em suas cidades ao estabelecer normas — muitas das quais rígidas, mas necessárias — aos feirantes e clientes, dentre as quais manter a distância de dois metros entre barracas, uso de luvas e máscaras pelos vendedores, atendimento de número limitado de clientes por vez, disposição de álcool em gel para a clientela, desmembramento das feiras livres em diversos bairros, dentre outras. Nesse contexto, foi elaborado o Projeto Feira Segura, lançado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), cujo objetivo é orientar estados e municípios a promover feiras livres com segurança, visando evitar o contágio pelo novo coronavírus SARS-CoV-27

 

Efeitos nos custos de produção e na demanda de mão de obra

O aumento, logo no início da pandemia, da depreciação do real frente ao dólar encareceu os insumos com componentes importados, majorando os custos de produção, que, acompanhados da queda na demanda interna, acarretaram na redução da margem de receita líquida esperada pelos produtores (à exceção dos produtores exportadores).

Infelizmente muitos produtores tiveram que reduzir a quantidade de mão de obra empregada (tanto fixa quanto provisória), e, caso a flexibilização do isolamento social — ou medidas de mitigação das perdas do setor — ainda demore a ocorrer, essa redução poderá atingir um quarto dos postos de trabalho (diretos e indiretos) no agronegócio bananicultor.

Diversos produtores já estão comercializando abaixo do custo de produção, o que certamente acarretará uma inadimplência nos financiamentos aos bananicultores, sendo necessário apoio futuro do MAPA para a renegociação dos empréstimos bancários já contratados.

 

Efeitos na distribuição e comercialização

Com relação à logística distribuição/comercialização, os produtores mais organizados — em geral de médio a grande porte ou os de pequeno porte cooperados ou associados — e tendo contratos com redes atacadistas e varejistas sofreram menor impacto que os de menor porte. Já os produtores de menor porte, ofertantes do fruto para as compras públicas destinadas à merenda escolar, dentre outras, enfrentaram um “baque” frente à interrupção desse serviço.

Ante as expectativas negativas futuras causadas pelas medidas de combate à COVID-19, e como forma de melhor interagirem com os demais elos da cadeia produtiva, em abril, os produtores dos principais polos de produção se organizaram na ABRABAN - Associação Brasileira de Produtores de Banana, antiga CONABAN.

 

Preços no mercado interno

O objetivo deste tópico é averiguar a ocorrência de impactos da COVID-19 nos preços recebidos pelos produtores de banana, desde a declaração da pandemia até o fim do mês de abril de 2020. Para tanto, a comparação terá como base o histórico de preços pagos ao produtor no mercado interno da banana entre 2018 e 2020, considerando as variações sazonais típicas dos períodos de maior ou menor oferta do produto.

As figuras 1, 2 e 3 mostram o comportamento dos preços médios nominais mensais pagos aos produtores das duas principais variedades de banana (Nanica e Prata, ambas de primeira) nos polos produtivos mais importantes do Brasil (em termos de quantidade produzida, área colhida, produtividade e tecnologia empregada), como também dos preços nominais praticados no mercado atacadista do maior centro consumidor do País, a capital paulista.

Ao observar os primeiros quadrimestres dos anos 2018, 2019 e 2020 (figura 1), percebe-se que normalmente a partir de março inicia-se o período de queda dos preços pagos aos produtores de banana Nanica em todos os polos.
 

Figura 1. Preços médios mensais nominais pagos aos produtores de banana Nanica (de primeira) nos principais polos produtores (2018-2020).

Fonte: Hortifruti/Cepea. Disponível em: https://www.hfbrasil.org.br/br/banco-de-dados-precos-medios-dos-hortifruticolas.aspx. Acesso em: 12 mai.2020.

 

Com relação à banana Prata (figura 2), percebe-se que a partir de abril dá-se também início à tendência de queda dos preços pagos aos produtores, estendendo-se até o mês de julho. Esse movimento ocorre em praticamente todos os polos, à exceção do Norte de Santa Catarina, cuja queda tende a ser mais suave, mas se prolongando até o mês de novembro ou dezembro.

 

Figura 2. Preços médios mensais nominais pagos aos produtores de banana Prata (de primeira) nos principais polos produtores (2018-2020).

Fonte: Hortifruti/Cepea. Disponível em: https://www.hfbrasil.org.br/br/banco-de-dados-precos-medios-dos-hortifruticolas.aspx. Acesso em: 12 mai.2020.

 

No âmbito do comércio atacadista da capital do estado de São Paulo — principal centro consumidor do País —, os primeiros quadrimestres de 2018, 2019 e 2020 apresentam, além das trajetórias semelhantes dos preços pagos aos produtores para as duas variedades, o natural diferencial de preços entre as duas variedades.


Figura 3. Preços médios mensais nominais das bananas Nanica e Prata (ambas de primeira), comercializadas no mercado atacadista em São Paulo – SP (2018-2020).

Fonte: Hortifruti/Cepea. Disponível em: https://www.hfbrasil.org.br/br/banco-de-dados-precos-medios-dos-hortifruticolas.aspx. Acesso em: 12 mai.2020. Elaboração: Núcleo de Ações Estratégicas – NAE, Embrapa Mandioca e Fruticultura.

 

Portanto, focando exclusivamente no comportamento geral dos preços nominais praticados no mercado interno entre janeiro de 2018 e abril de 2020 (figuras 1, 2 e 3), ainda não se podem captar, com clareza, evidências dos efeitos da pandemia declarada em 11 de março de 2020 nos preços pagos aos produtores e no mercado atacadista da banana, pois, nesse período tradicionalmente observa-se um movimento de queda nos preços pagos aos produtores.

No entanto, em complemento à análise realizada com base nos dados apresentados acima, em abril de 2020 foram levantadas mais informações junto a informantes-chave com atuação nos respectivos polos produtores. A partir dos relatos, foi possível listar os seguintes reflexos da pandemia no setor bananicultor:

• De janeiro a março de 2020, os preços pagos aos produtores para as duas variedades foram favoráveis (conforme também observado nas figuras 1, 2 e 3). Na primeira quinzena de abril, houve ligeiro decréscimo, e os produtores obtiveram receita pouco menor do que a média desse período, mas não consideraram os preços ruins. 
• De 1º de abril a 1º de maio, houve redução nos preços médios pagos ao produtor equivalente a 35% e 25%, respectivamente, para Nanica e Prata.
• Algumas fazendas de médio e grande portes reportaram queda nas vendas de até 30%, com forte sinalização do mercado de que poderia haver ainda mais quedas nos meses seguintes, gerando consequentemente decréscimo nos preços pagos ao produtor — mas não necessariamente sendo repassados ao consumidor final.
• As redes varejistas estão dando preferência à banana classificada como de “primeira” e a preços menores do que costumeiramente é pago nesse período. 
• Em linhas gerais, os preços nas gôndolas dos supermercados e demais redes varejistas são praticamente os mesmos, enquanto os preços pagos aos produtores vêm caindo semanalmente.
• Os pequenos produtores, geralmente de base familiar e proprietários de áreas abaixo de dez hectares, estão sendo mais afetados pelos reflexos da pandemia na redução da demanda, pois normalmente comercializam sua produção por meio de agentes atravessadores, com preços abaixo da cotação sinalizada por entidades privadas representativas da cadeia, a exemplo da ABANORTE. As feiras livres e os programas de aquisições para merenda escolar, que figuram entre os principias destinos dessa produção, foram suspensos em muitos municípios como parte das medidas de achatamento da curva de transmissão do vírus.
• Quanto ao preço do frete para transporte da produção, que tem influência direta na composição do preço final do produto, salvo pequenas intercorrências devido às medidas de restrição à mobilidade da população e acesso aos municípios, manteve-se praticamente estável. Não houve diminuição no número de viagens nem aumento dos custos para os produtores, haja vista os reflexos da queda no preço do diesel entre janeiro e março devido à crise internacional nos preços do petróleo. 
• Os agentes do mercado bananicultor já esperam que, a partir da segunda quinzena de maio/primeira quinzena de junho, haja um fator a mais para pressionar a redução dos preços: os principais polos produtores do Sul e Sudeste irão iniciar a colheita e passarão a ofertar uma quantidade maior das variedades Nanica e Prata, simultaneamente. Ou seja, de maio a julho haverá coincidência de safras de Prata e Nanica, situação que pressionará ainda mais a queda nos preços pagos aos produtores, período que também marca a chegada do inverno, estação na qual é registrada diminuição natural da demanda e, consequentemente, queda nos preços. 

Ainda não está claro quando o mercado voltará à normalidade, dadas as incertezas quanto à duração e evolução das medidas — mais ou menos rigorosas, a depender de cada jurisdição — para o enfrentamento da pandemia da COVID-19. Contudo, com base no apresentado, pode-se esperar para o quadrimestre de maio até agosto de 2020 que:

• Haverá aumento da oferta da fruta, pressionando dessa forma os preços para baixo, num contexto de chegada do inverno, cuja demanda é, historicamente, menor. 
• Com o aguardado retorno do funcionamento das escolas públicas e privadas, é provável que haja aumento na demanda pela fruta (por meio das compras para a merenda escolar), o que coincidirá com o final das safras de Nanica e Prata, estimulando a recuperação dos preços pagos ao produtor. 
• É possível que a recuperação dos preços pagos ao produtor ocorrerá de forma lenta, como o esperado para o conjunto da economia, demorando a atingir os níveis de preços médios anteriores à pandemia.

 

Comércio exterior: o que esperar das exportações?

Embora não esteja entre os países que lideram as exportações, posição ocupada por Equador, Costa Rica, Filipinas e Colômbia, o Brasil vem, nos últimos cinco anos (2015 a 2019), exportando, em média, 66 mil toneladas da fruta, o que corresponde a uma média anual de US$ 20 milhões. Cerca de 70% dessas exportações são para países do Mercosul, principalmente Uruguai e Argentina, enquanto os outros 30% seguem majoritariamente para países do continente europeu, destacando-se o Reino Unido, Países Baixos, Espanha e Polônia.

Em 2019, as exportações brasileiras de frutas superaram pela primeira vez a marca de US$ 1 bilhão e, dentre as frutas que apresentaram o maior crescimento, a banana se destacou. Foram 79,4 mil toneladas exportadas, aumento de 24,8% em relação a 2018. Em termos de valor, foram registrados US$ 24,4 milhões, o que representa um crescimento de 19,1% em relação ao ano anterior.

Quanto aos polos exportadores, a expectativa é a de que não haja alterações significativas nas exportações provenientes da região Norte de Santa Catarina para o Mercosul, a não ser que o fechamento das fronteiras pelos países circunvizinhos ao Brasil impeça a entrada de cargas de produtos alimentícios. Observou-se que, de abril até a primeira quinzena de maio, o polo exportador do Nordeste ofertou uma quantidade bem maior no mercado interno que o costumeiro, o que pode indicar uma diminuição das exportações.

Comparando-se as exportações brasileiras de banana do primeiro trimestre de 2020 com o de 2019, não houve alteração considerável — apenas um discreto crescimento em quantidades e valores, conforme tabelas 1 e 2. Entretanto, a depreciação do real (R$) frente ao dólar (US$) tende a aumentar a receita líquida, na moeda local, dos exportadores.

 



Embora sem os números oficiais das exportações brasileiras de banana para o mês de abril (a serem disponibilizados) e com base na consulta aos agentes-chave (informantes qualificados), identificaram-se os seguintes sinais que oferecem algumas pistas do que poderá ocorrer no quadrimestre de maio a agosto:

• Vários países europeus iniciaram a flexibilização das medidas de distanciamento social. Caso essa estratégia se mostre equivocada, poderá haver queda nas exportações para esse continente. Caso isso ocorra, boa parte da produção brasileira de banana para exportação à União Europeia será redirecionada para o mercado interno, aumentando um pouco mais a oferta interna.
• Menor demanda da Argentina e Uruguai — também pela perda de renda dos consumidores desses países —, afetando as exportações dos produtores exportadores de Santa Catarina.
• Ressurgimento de oportunidades pontuais, a exemplo da primeira exportação de grandes produtores do Vale do Ribeira (SP) para a Argentina, registrada em abril deste ano. Esse fato estimulou outros produtores dessa mesma região quanto às possibilidades de novas remessas.

 

Características nutricionais e potenciais da banana

A banana é uma das frutas mais produzidas e consumidas em todo o mundo devido ao seu valor nutricional, sabor e aceitação em todas as classes sociais, pois apresenta disponibilidade no mercado, facilidade de consumo e preço acessível.

A associação americana de nutrição elaborou um guia, disponível em seu website8, com os nutrientes, elementos e vitaminas que devem constar em uma alimentação saudável, uma ”estratégia nutricional" como forma de fortalecer o sistema imunológico em tempos de COVID-19. A banana foi citada como uma das principais fontes de potássio (240 a 300 mg por kg). Ademais, é rica em Vitamina C (59 a 216 mg por kg), e uma fruta de porte médio oferece cerca de 3% de selênio diário necessário. Na mesma linha, a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) descreve, em seu website9, os efeitos benéficos de micronutrientes e probióticos, citando, dentre estes, a vitamina C e o selênio.

Cientistas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos da América, vêm desenvolvendo trabalhos de pesquisa promissores, em biologia molecular, com a lectina proveniente de bananas, na elaboração de medicamentos contra vírus, com foco nos mais letais e de maior mutação (a exemplo do novo coronavírus, causador da COVID-19)10.

Com base no exposto — e aproveitando a crescente demanda por produtos atrelados a uma alimentação mais saudável —, pode-se estimular, por meio de campanhas de marketing e comunicação, o consumo de banana como fortalecimento do sistema imunológico em ação complementar ao enfrentamento da pandemia da COVID-19.

 

Alternativas de curto e médio prazos

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) tem envidado esforços para amenizar os impactos da atual pandemia aos produtores rurais, a exemplo da desburocratização do acesso ao crédito rural, antecipação de benefício e garantias, fortalecimento das relações com os principais países importadores — sobretudo focando na sanidade vegetal —, dentre outras medidas11

Visando mitigar as perdas causadas pela COVID-19 — e as que ainda virão —, sugerem-se, adicionalmente, algumas ações integradas nesse sentido, listadas abaixo:

• Reorganização das atividades manuais de colheita, sanitização, separação, distribuição e comercialização de banana, de forma a evitar contaminação e ampliação de infectados por COVID-19. Oportunidade para a Embrapa e outras instituições de PD&I em: orientações técnico-científicas com manutenção ou mitigação de perdas (de produtos, econômicas e sociais — sobretudo no que diz respeito a postos de trabalho) e manutenção ou melhoria da eficiência em cada etapa. Em concordância com Cavalcanti (2020), faz-se mister adotar medidas de proteção visando preservar a capacidade produtiva agrícola, bem como de abastecimento.
Local e-commerce: oferta do produto para os consumidores locais, com entrega em domicílio (onde possível). Essa alternativa remete aos primeiros movimentos nesse sentido, na França, em priorizar produtos e alimentos produzidos localmente. Este momento é uma grande oportunidade para se aproximar mais do consumidor local e ampliar a rede de relacionamentos, além de apoiar os empreendimentos ditos de “Economia Solidária” — para estes, o momento atual é oportuno para aumentar a visibilidade e agregar valor aos seus produtos. Nesse sentido, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) – Universidade de São Paulo (USP), apresenta em sua revista Hortifruti Brasil, edição de maio, alguns novos modelos de negócios como alternativas de venda em tempos de pandemia da COVID-1912.
• Com base nas características nutricionais e potenciais apresentadas, estimular o aumento do consumo por meio de campanhas de marketing, bem como ampliar a inserção da banana e produtos derivados no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e em outros mercados institucionais.
• Fortalecer o elo entre as instituições (públicas e privadas) que participam, em algum momento, da cadeia produtiva da banana. O MAPA poderia atuar como catalisador de ações conjuntas entre aquelas, definindo e estabelecendo a 
contribuição de cada uma em ações de mitigação dos danos causados pela pandemia da COVID-19 no setor bananicultor.
• Consolidação dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) visando aproveitar as vantagens inerentes à concentração, complementariedade e sinergias derivadas das redes de atores estratégicos que se estabelecem em determinados territórios. O esforço de constituir regiões especializadas na produção e processamento da banana pode contribuir significativamente nas condições de competitividade dos pequenos produtores. A implementação dessa ação viria ao encontro da meta de diminuição de custos de produção e queda nas vendas, infelizmente ampliados durante a pandemia da COVID-19, conforme exposto neste documento. O Sebrae é o mais relevante agente de disseminação e efetivação dos APLs, por meio de apoio financeiro e estrutural/administrativo.
• Mais de um milhão dos estabelecimentos agropecuários são dirigidos por indivíduos com mais de 65 anos (IBGE, 2017), pondo-os no grupo de maior risco à COVID-19. A sugestão, como um dos cuidados para se evitar complicações com possível contágio, é ampliar a participação dos jovens agricultores nos processos produtivos, sobretudo nas relações de compra e venda. Estudo realizado pela Embrapa Caprinos e Ovinos indicou que as famílias que estimulam seus jovens a participarem mais em suas propriedades apresentaram redução no êxodo rural e a consequente fixação daqueles nas propriedades (LUCENA et al., 2020).
• Fortalecimento dos acordos comerciais em bloco ou bilaterais, concomitantemente aos ajustes das condições de comercialização perante os novos cenários pós-COVID-19. Deve-se incluir na discussão a redução das tarifas às nossas exportações de banana, especialmente as praticadas na União Europeia. Internamente, estimular nossa competitividade, ótima produtividade dos produtores mais qualificados, qualidade, logística, sustentabilidade ambiental e menos uso de defensivos em relação aos nossos concorrentes da América Central, Equador, Colômbia e Peru.
• Com base nas características nutricionais e potenciais da banana apresentadas, e aproveitando a crescente demanda por produtos atrelados a uma alimentação mais saudável, pode-se estimular, por meiode campanhas de marketing e comunicação, o consumo de banana também como fortalecimento do sistema imunológico em ação complementar ao enfrentamento da pandemia da COVID-19.

 

Considerações finais

O produtor de banana de pequeno porte é o que vem sofrendo mais com os impactos da COVID-19 na cadeia produtiva de banana (desde as compras de insumos — alguns importados e com majoração dos preços — até a comercialização do produto), pois a queda nas vendas foi maior para esse grupo, sobretudo os que dependem do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Como enfatizado no item “Características nutricionais e potenciais da banana”, e nas alternativas que podem ser implementadas frente às restrições vividas pelo setor, os impactos da COVID-19 poderão ser minimizados e, para o longo prazo, ter-se-á pavimentado um caminho de fortalecimento de toda a cadeia da banana.

O setor precisa urgentemente fortalecer as organizações existentes, visando conviver e se adequar ao “novo normal” pós-pandemia.


1 Pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura
2 Analista da Embrapa Mandioca e Fruticultura
3 Consultor em agronegócios, ex-pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
4 https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/sanidade-de-alimentos-sera-grande-preocupacao-do-mundo-apos-coronavirus-diz-ministra
5 O consumo aparente resulta da quantidade produzida, mais as importações, menos as exportações. Dados correspondentes a 2018, considerando-se perdas de 20%.
6 Para mais informações, consultar o site https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/feirantes-e-produtores-devem-seguir-orientacoes-de-prevencao-contra-o-coronavirus-para-comercializacao-de-hortifrutis
7 Para mais informações, consultar o site https://cnabrasil.org.br/feira-segura
8 https://theana.org/COVID-19
9 https://abran.org.br/2020/05/01/posicionamento-da-associacao-brasileira-de-nutrologia-abran-a-respeito-de-micronutrientes-e-probioticos-na-infeccao-por-covid-19/
10 Mais detalhes em https://www.sciencedaily.com/releases/2015/10/151022124335.htm e https://www.pnas.org/content/pnas/117/4/2122.full.pdf
11 Todas as medidas tomadas até o momento pelo MAPA poderão ser consultadas através do seguinte link: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/mapacontracoronavirus
12 Link para acessar a revista: https://www.hfbrasil.org.br/br/revista/acessar/completo/edicao-de-maio-oportunidades-ao-setor-na-quarentena-especial-citros.aspx 
 




REFERÊNCIAS

CAVALCANTI, A. R. Frutas e hortaliças consumidas in natura, boas práticas e Covid-19: algumas perguntas que a Embrapa pode cogitar de responder ou participar da busca por resposta. Nota Técnica, Agropensa, Embrapa, Brasília. 2020.
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. FAOSTAT. Disponível em: <http://www.fao.org/faostat/en/#data/QC>. Acesso em: 05 mai. 2020.
IBGE. Banco de dados agregados, pesquisas, produção agrícola municipal 2018. Disponível em: <https://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/pam/tabelas>. Acesso em: 05 mai. 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Agropecuário 2017. Disponível em: < https://censos.ibge.gov.br/agro/2017/>. Acesso em 12 mai. 2020.
LUCENA, C. C. de; HOLANDA FILHO, Z. F.; BOMFIM, M. A. D. Atuais e potenciais impactos do coronavírus (Covid-19) na caprinocultura e ovinocultura. Boletim do Centro de Inteligência e Mercado de Caprinos e Ovinos, Sobral, n. 10, p. 1-6, abr. 2020. Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/212245/1/BoletimCIM-n10.pdf>. Acesso em: 04 mai. 2020.

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