A safra de soja ainda nem acabou e os produtores começam a movimentação na procura por sementes para os cultivos de inverno. O trigo deve continuar sendo a opção mais atrativa após alcançar a maior produção dos últimos 20 anos. Na última safra, a área de trigo cresceu 14,8% no Brasil com relação ao ano anterior, com uma produtividade 5,4% maior, resultando no maior volume de produção desde o ano 2000 (veja no gráfico da Conab). O preço também favoreceu a triticultura com crescimento constante ao longo de 2020, fechando o ano próximo a R$ 70,00 a saca de 60kg. De acordo com a Apassul (Associação dos Produtores de Sementes e Mudas do RS), hoje já são mais de 89 mil hectares aprovados para a produção de sementes de trigo no Rio Grande do Sul (dados do SIGEF - Sistema de Gestão da Fiscalização do MAPA), um aumento de 18% em comparação à safra anterior. “Estes números demonstram o sentimento do produtor de sementes para incrementar o trigo no portfólio. Mesmo que nem toda a produção de sementes seja comercializada, certamente o mercado está aquecido, principalmente em função dos preços que tornam o trigo uma opção rentável além das vantagens no sistema de produção”, avalia o diretor administrativo da Apassul, Jean Cirino. No Paraná, maior estado produtor do cereal nas últimas safras, os produtores aguardam a colheita da soja para decidir se investem no trigo ou optam pelo plantio tardio do milho safrinha. Mas segundo a Apasem (Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas) o setor já observa a antecipação pela procura de sementes de trigo: “Estamos vendo uma antecipação no mercado de sementes. A procura pelo trigo, que antes acontecia no mês de março, neste ano começou em janeiro”, conta o Diretor Executivo da Apasem, Jhony Möller. Ele acredita que o Paraná deverá repetir a área de trigo do ano passado, acima de um milhão de hectares. Acompanhando o aumento nas cotações do trigo, o valor da semente também sofreu alteração: conforme números do Deral/PR, os preços recebidos pelo produtor de trigo no Paraná tiveram alta de 30,5% de janeiro a novembro de 2020, enquanto o preço da semente subiu 16% no mesmo período. Cultivares Na publicação Informações Técnicas para Trigo e Triticale – safra 2020 estão indicadas 230 cultivares de trigo para as diferentes regiões produtoras no Brasil. Como escolher? O pesquisador da Embrapa Trigo, Pedro Scheeren, recomenda que o produtor avalie as cultivares direto na propriedade, reservando uma área para experimentar algumas opções disponíveis no mercado, já que o desempenho das cultivares pode variar nas diferentes regiões produtoras. “Na escolha da cultivar é preciso observar primeiro suas características agronômicas e a resistência às doenças. Mas devemos considerar sempre onde e como será cultivada a variedade escolhida, desde o ambiente, clima e solo, até a capacidade de investimento na lavoura, bem como o potencial de rendimento esperado na área com o manejo planejado, sem esquecer da liquidez daquela cultivar no mercado regional” explica o pesquisador. Segundo ele, apesar do momento de preços em alta nos grãos, o produtor deve garantir o equilíbrio da lavoura, priorizando cultivares com melhor sanidade e uso eficiente de nutrientes, fatores que permitem economizar em fertilizantes e fungicidas, que representam os principais custos da lavoura. A Embrapa dispõe de um portfólio variado de cultivares de trigo para todo o Brasil. Para a Região Tritícola Centro-sul (PR e Sul de SP) são indicadas as cultivares BRS Sanhaço, BRS Gralha-Azul, BRS Sabiá e BRS Atobá. Na Região do Cerrado, com irrigação, são recomendadas as cultivares BRS 254, BRS 264 e BRS 394, enquanto para o Cerrado no sequeiro, são indicadas as cultivares BRS 404 e BRS 264 (somente para MG). Na Região Sul (RS, SC e Sul do PR), são indicados os trigos: BRS Reponte e BRS Belajoia, para a produção de grãos; BRS Pastoreio e BRS Tarumã para produção de forragem animal. Veja aqui os resultados do ensaio estadual de cultivares de trigo, com dados de Coxilha, RS. O pesquisador da Embrapa Trigo lembra que os triticultores estão com bons materiais para alcançar os melhores resultados no campo: “O volume de produção de trigo no Brasil cresceu na última safra tanto em função do clima, quanto do potencial produtivo das cultivares. Por exemplo o trigo BRS Reponte, que tem alcançado sucessivos recordes de produtividade em sistema de sequeiro no Rio Grande do Sul, ou o trigo irrigado BRS 264 que foi recorde nacional pelo segundo ano em Goiás”, ressalta Pedro Scheeren. Experiência do produtor A expectativa de preços altos levou o produtor Gean Bender a trocar a cobertura de aveia pelo trigo na última safra, investindo em 550 hectares na Granja Ouroverde que administra com a família em Giruá, RS. O escalonamento contou com três cultivares de ciclos diferentes, o que evitou perder toda a lavoura para a geada no mês de agosto. Uma das apostas foi a cultivar BRS Reponte, cultivada em 180 hectares (ha), resultando no rendimento de 61 sacos por hectare na média das lavouras. “Mesmo em anos de intempéries, o produtor consegue uma boa produtividade com cultivares mais rústicas e de alto rendimento”, explica o assistente técnico Vicente Victor, da Sementes Victor, com sede em Giruá, RS, e destaca: “Sem dúvidas, no cenário atual, investir no trigo é um negócio muito mais vantajoso do que deixar apenas uma cultura de cobertura no inverno”. No norte do Rio Grande do Sul, a família Rigon reserva, no mínimo, 50% da lavoura para o cultivo de trigo, aumentando a área todos os anos: nos anos 70 era 100 ha; anos 80 passou para 500 ha; anos 90 foram 1.000 ha; anos 2000 subiu para 1.800 ha; 2010 foram 2.500 ha; e em 2020 atingiu os 4.500 ha com trigo. “Nunca deixamos de plantar trigo, independente do mercado. Se não retornar dinheiro com a venda dos grãos, a palhada com certeza vai gerar lucro no verão”, avalia o produtor Roberto Rigon, de Seberi, RS. Por que plantar trigo? Observando a série histórica da Conab é possível considerar que a cotação do trigo no mercado nacional nem sempre é atrativa para o produtor. Contudo, o investimento no cereal de inverno não deve ser calculado de forma isolada e sim avaliado no sistema de produção verão/inverno. Um estudo da Embrapa, conduzido nas safras 2017/18 e 2018/19 em Londrina, no PR, mostrou que o cultivo de trigo no inverno pode resultar em um aumento superior a 50% na produtividade da soja em relação ao pousio. “A palhada do trigo reduziu o estresse hídrico na soja durante o enchimento de grãos, além de reduzir a temperatura do solo, enquanto que as raízes da cultura de inverno permitiram maior infiltração de água no solo”, explica o pesquisador da Embrapa Soja Henrique Debiasi. Na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS, o cultivo do trigo foi a base de um experimento para avaliar a infiltração de água no solo. “Após dois anos de intervenção física e química no solo, a taxa de infiltração de água passou de 13 mm/hora para 80 mm/hora. Em 120 dias de implantação da cultura do trigo, as raízes já alcançavam 1,3 metros de profundidade, melhorando a estrutura do solo para disponibilidade de água às plantas em período de estiagem”, explica o analista de transferência de tecnologia Jorge Lemainski. “Isso prova que a melhor safra de verão começa no inverno”, conclui. Saiba mais sobre o trabalho “Desempenho da soja cultivada em sucessão à aveia preta e trigo” assistindo o vídeo:
Foto: Diogo Zanatta
Antecipação no mercado de sementes mostra otimismo no setor
A safra de soja ainda nem acabou e os produtores começam a movimentação na procura por sementes para os cultivos de inverno. O trigo deve continuar sendo a opção mais atrativa após alcançar a maior produção dos últimos 20 anos.
Na última safra, a área de trigo cresceu 14,8% no Brasil com relação ao ano anterior, com uma produtividade 5,4% maior, resultando no maior volume de produção desde o ano 2000 (veja no gráfico da Conab). O preço também favoreceu a triticultura com crescimento constante ao longo de 2020, fechando o ano próximo a R$ 70,00 a saca de 60kg.
De acordo com a Apassul (Associação dos Produtores de Sementes e Mudas do RS), hoje já são mais de 89 mil hectares aprovados para a produção de sementes de trigo no Rio Grande do Sul (dados do SIGEF - Sistema de Gestão da Fiscalização do MAPA), um aumento de 18% em comparação à safra anterior. “Estes números demonstram o sentimento do produtor de sementes para incrementar o trigo no portfólio. Mesmo que nem toda a produção de sementes seja comercializada, certamente o mercado está aquecido, principalmente em função dos preços que tornam o trigo uma opção rentável além das vantagens no sistema de produção”, avalia o diretor administrativo da Apassul, Jean Cirino.
No Paraná, maior estado produtor do cereal nas últimas safras, os produtores aguardam a colheita da soja para decidir se investem no trigo ou optam pelo plantio tardio do milho safrinha. Mas segundo a Apasem (Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas) o setor já observa a antecipação pela procura de sementes de trigo: “Estamos vendo uma antecipação no mercado de sementes. A procura pelo trigo, que antes acontecia no mês de março, neste ano começou em janeiro”, conta o Diretor Executivo da Apasem, Jhony Möller. Ele acredita que o Paraná deverá repetir a área de trigo do ano passado, acima de um milhão de hectares.
Acompanhando o aumento nas cotações do trigo, o valor da semente também sofreu alteração: conforme números do Deral/PR, os preços recebidos pelo produtor de trigo no Paraná tiveram alta de 30,5% de janeiro a novembro de 2020, enquanto o preço da semente subiu 16% no mesmo período.
Cultivares
Na publicação Informações Técnicas para Trigo e Triticale – safra 2020 estão indicadas 230 cultivares de trigo para as diferentes regiões produtoras no Brasil. Como escolher? O pesquisador da Embrapa Trigo, Pedro Scheeren, recomenda que o produtor avalie as cultivares direto na propriedade, reservando uma área para experimentar algumas opções disponíveis no mercado, já que o desempenho das cultivares pode variar nas diferentes regiões produtoras. “Na escolha da cultivar é preciso observar primeiro suas características agronômicas e a resistência às doenças. Mas devemos considerar sempre onde e como será cultivada a variedade escolhida, desde o ambiente, clima e solo, até a capacidade de investimento na lavoura, bem como o potencial de rendimento esperado na área com o manejo planejado, sem esquecer da liquidez daquela cultivar no mercado regional” explica o pesquisador. Segundo ele, apesar do momento de preços em alta nos grãos, o produtor deve garantir o equilíbrio da lavoura, priorizando cultivares com melhor sanidade e uso eficiente de nutrientes, fatores que permitem economizar em fertilizantes e fungicidas, que representam os principais custos da lavoura.
A Embrapa dispõe de um portfólio variado decultivares de trigopara todo o Brasil. Para a Região Tritícola Centro-sul (PR e Sul de SP) são indicadas as cultivares BRS Sanhaço, BRS Gralha-Azul, BRS Sabiá e BRS Atobá. Na Região do Cerrado, com irrigação, são recomendadas as cultivares BRS 254, BRS 264 e BRS 394, enquanto para o Cerrado no sequeiro, são indicadas as cultivares BRS 404 e BRS 264 (somente para MG). Na Região Sul (RS, SC e Sul do PR), são indicados os trigos: BRS Reponte e BRS Belajoia, para a produção de grãos; BRS Pastoreio e BRS Tarumã para produção de forragem animal. Veja aqui os resultados do ensaio estadual de cultivares de trigo, com dados de Coxilha, RS. O pesquisador da Embrapa Trigo lembra que os triticultores estão com bons materiais para alcançar os melhores resultados no campo: “O volume de produção de trigo no Brasil cresceu na última safra tanto em função do clima, quanto do potencial produtivo das cultivares. Por exemplo o trigo BRS Reponte, que tem alcançado sucessivos recordes de produtividade em sistema de sequeiro no Rio Grande do Sul, ou o trigo irrigado BRS 264 que foi recorde nacional pelo segundo ano em Goiás”, ressalta Pedro Scheeren.
Experiência do produtor
A expectativa de preços altos levou o produtor Gean Bender a trocar a cobertura de aveia pelo trigo na última safra, investindo em 550 hectares na Granja Ouroverde que administra com a família em Giruá, RS. O escalonamento contou com três cultivares de ciclos diferentes, o que evitou perder toda a lavoura para a geada no mês de agosto. Uma das apostas foi a cultivar BRS Reponte, cultivada em 180 hectares (ha), resultando no rendimento de 61 sacos por hectare na média das lavouras. “Mesmo em anos de intempéries, o produtor consegue uma boa produtividade com cultivares mais rústicas e de alto rendimento”, explica o assistente técnico Vicente Victor, da Sementes Victor, com sede em Giruá, RS, e destaca: “Sem dúvidas, no cenário atual, investir no trigo é um negócio muito mais vantajoso do que deixar apenas uma cultura de cobertura no inverno”.
No norte do Rio Grande do Sul, a família Rigon reserva, no mínimo, 50% da lavoura para o cultivo de trigo, aumentando a área todos os anos: nos anos 70 era 100 ha; anos 80 passou para 500 ha; anos 90 foram 1.000 ha; anos 2000 subiu para 1.800 ha; 2010 foram 2.500 ha; e em 2020 atingiu os 4.500 ha com trigo. “Nunca deixamos de plantar trigo, independente do mercado. Se não retornar dinheiro com a venda dos grãos, a palhada com certeza vai gerar lucro no verão”, avalia o produtor Roberto Rigon, de Seberi, RS.
Por que plantar trigo?
Observando a série histórica da Conab é possível considerar que a cotação do trigo no mercado nacional nem sempre é atrativa para o produtor. Contudo, o investimento no cereal de inverno não deve ser calculado de forma isolada e sim avaliado no sistema de produção verão/inverno. Um estudo da Embrapa, conduzido nas safras 2017/18 e 2018/19 em Londrina, no PR, mostrou que o cultivo de trigo no inverno pode resultar em um aumento superior a 50% na produtividade da soja em relação ao pousio. “A palhada do trigo reduziu o estresse hídrico na soja durante o enchimento de grãos, além de reduzir a temperatura do solo, enquanto que as raízes da cultura de inverno permitiram maior infiltração de água no solo”, explica o pesquisador da Embrapa Soja Henrique Debiasi.
Na Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS, o cultivo do trigo foi a base de um experimento para avaliar a infiltração de água no solo. “Após dois anos de intervenção física e química no solo, a taxa de infiltração de água passou de 13 mm/hora para 80 mm/hora. Em 120 dias de implantação da cultura do trigo, as raízes já alcançavam 1,3 metros de profundidade, melhorando a estrutura do solo para disponibilidade de água às plantas em período de estiagem”, explica o analista de transferência de tecnologia Jorge Lemainski. “Isso prova que a melhor safra de verão começa no inverno”, conclui.