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Monitoramento ambiental é fundamental para uma produção aquícola sustentável
Foto: Marcus Vinícius Fier Girotto.
Plataforma de coleta de dados instalada dentro da área aquícola.
O monitoramento ambiental da aquicultura visando uma maior sustentabilidade e melhor uso do recurso hídrico é condição para o licenciamento ambiental da produção aquícola. No entanto, este monitoramento muitas vezes torna-se oneroso ao produtor, e seus resultados nem sempre são efetivos na identificação de problemas relacionados à qualidade da água na piscicultura.
O aumento da produção aquícola no Brasil leva os empreendedores a almejar que seu produto chegue ao mercado de forma mais competitiva e com menor impacto ambiental. Diante disso, o monitoramento ambiental ganha uma relevância ímpar, tornando-se instrumento de gestão dos sistemas de produção e de regularização ambiental. Entretanto, muitos dos programas de monitoramento ambiental são focados na obtenção de dados isolados, e com baixa frequência, o que tem se mostrado insuficiente para detectar todas as variações na água e no tempo. Essa situação não permite um adequado entendimento das alterações, podendo levar a conclusões equivocadas a respeito do real comportamento do ambiente e tal fato induzir a manejos inadequados do cultivo.
Além disso, o monitoramento pontual de variáveis em campo pode se tornar ineficiente, tanto em função da frequência necessária para que as amostras sejam realmente representativas, bem como para o número de pontos amostrais necessários para retratar a dimensão da área. Assim, para melhorar a cobertura da amostragem do monitoramento da qualidade da água, são empregados equipamentos para coleta de dados de forma autônoma, o que permite um monitoramento in loco e de alta frequência, além da captura das variações ao longo de um período mais extenso, gerando subsídios para que o desenvolvimento tecnológico possa propor instrumentos para uma gestão ambiental mais adequada da aquicultura.
Desde 2011 a Embrapa, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vem trabalhando no aperfeiçoamento e adaptação do Sistema Integrado de Monitoramento Ambiental (Sima), para o monitoramento da qualidade da água com o objetivo de orientar os produtores a otimizarem o manejo da produção de peixes em tanques-rede.
A publicação Documentos 131 apresenta as principais orientações para fundeio, manutenção e operação de plataformas de monitoramento e coleta de dados de qualidade da água. Cita também os procedimentos de rotina de operação de sondas multiparâmetros dentro do Sima, bem como os procedimentos rotineiros das sondas e das linhas de sensores de temperatura, baseando-se em uma metodologia de baixo custo, eficiente, de fácil replicação e alta confiabilidade na obtenção dos dados.
De acordo com a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente e uma das autoras da publicação, Fernanda Garcia Sampaio, “o desenvolvimento de métodos que permitam monitorar adequadamente as variáveis de qualidade da água na piscicultura traz segurança ao produtor e aos órgãos reguladores, seja por parte de empreendedores, bem como gestores públicos e consequentemente ao consumidor, que pode comprar um produto oriundo de uma produção responsável”, salienta ela.
Os processos de instalação e manutenção das plataformas e sondas são caros e trabalhosos, requerendo pessoal capacitado para que continuem operando. Essa situação restringe o uso desses equipamentos pelos órgãos gestores, sendo ainda mais difícil para o produtor, inibindo a massificação dessa metodologia, que fica restrita a poucos pontos de estudo.
Fernanda enfatiza que para superar esta situação, “seria fundamental o desenvolvimento de uma sonda de menor valor, e que tivesse também maior autonomia de bateria e de calibração dos sensores, podendo permanecer na água sem necessidade de manutenção constante. Uma solução viável seria o uso de painéis solares para o carregamento de baterias da sonda”, propõe ela.
Os autores da publicação salientam que uma maneira fácil de replicar a tecnologia seria o desenvolvimento de sondas e de plataformas com preços mais acessíveis e de simples operação, construídas com materiais que a maioria dos produtores tenha acesso. Também que essas novas plataformas pudessem ter uma estrutura de flutuação tão segura quanto a das plataformas atuais, mas com montagem mais fácil e rápida, ou ainda, o desenvolvimento de um equipamento em que que fosse possível acoplar a sonda diretamente na linha de tanques-rede, para locais onde não fosse possível a instalação de plataformas.
São unânimes em afirmar que “é fundamental o esforço entre os atores envolvidos na gestão da propriedade para que os dados coletados em vários reservatórios sejam compilados a fim de se obter um panorama de suas características”. Eles enfatizam que esses dados seriam de grande importância para a gestão das áreas e parques aquícolas, podendo servir de ferramentas para facilitação de licenciamentos ambientais, revisão de normas legais ligadas à aquicultura e principalmente evidenciar que a piscicultura em tanques-rede em águas da União não afeta de forma significativa os parâmetros de qualidade de água, e sim, sofre influência pelas mudanças geradas por outras fontes, evidenciando o caráter de atividade de baixo impacto ambiental.
O trabalho que contribui para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12 – consumo e produção sustentáveis e ODS 14 – vida na água, foi realizado no âmbito do projeto BRS Aqua e patrocinado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Na Embrapa, estão diretamente envolvidos no projeto centenas de empregados de mais de 20 Unidades de Pesquisa, além de algumas dezenas de parceiros, públicos e privados.
Os autores são: Marcus Vinícius Fier Girotto; Consuelo Marques da Silva; Fernanda Garcia Sampaio; José Luiz Stech; Geraldo Orlando Mendes; Rafaela Feller Dalsasso; André Gerdulo Bodelão; Flávia Tavares de Matos e Jonadab Andrade de Messia.
Eliana Lima (MTb 22.047/SP)
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