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Conferência de abertura do Congresso de Agroecologia destaca experiências agroecológicas para o bem viver
O papel da agroecologia na transformação dos sistemas agroalimentares na América Latina: Memórias, Saberes e Caminhos para o Bem Viver foi o tema escolhido para a conferência de abertura do Congresso Latino-Americano e Brasileiro de Agroecologia, que contou com a presença de Irene Cardoso, presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA); Jan Douwe van der Ploeg, pesquisador e sociólogo holandês; Agustín Infante Lira, Diretor do Centro de Educação e Tecnologia (CET) do Chile; e Dona Dijé, representante do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu.
A presidente da ABA abriu a sessão falando da invisibilidade das redes de agricultores que praticam a agroecologia. “Precisamos cada vez mais fortalecer os nossos laços com os nossos irmãos latino-americanos”, disse, lembrando ainda que a agroecologia trouxe as bases da agricultura alternativa.
O sociólogo holandês Jan Douwe van der Ploeg, autor de livros como “Camponeses e a arte da agricultura” e “Camponeses e Impérios Alimentares”, falou da força transformadora da agroecologia a partir de três raízes: multifuncional, multiautoral e multinível, em que campesinos, professores, consumidores e estudantes atuam em diversos níveis nos campos social, econômico, político, cultural e histórico.
“O movimento da agroecologia é um movimento de práticas emancipadoras e criativas. O campesinato é a força motriz principal da Agroecologia”, disse Jan Douwe, enfatizando que a prática da agroecologia é, por si só, um ato de rebeldia.
O pesquisador citou exemplos de campesinato na Holanda, Japão, Brasil e Espanha, em que os agricultores se negaram a adotar como prática o uso de químicos e estabeleceram novas formas de aquisição de insumos-semente e de comércio justo. “Em Córdoba, na Espanha, há uma rede dinâmica de produtores e consumidores locais praticando atividades que são, na verdade, aplicações de direitos civis fundamentais como é o da alimentação e o de fazer chegar comida aos que precisam”, afirmou van der Ploeg.
O diretor do CET/Chile, Agustín Lira, destacou que o uso de tecnologias sociais conseguiu reverter no Chile os prejuízos causados por uma série de problemas ambientais, como mudanças climáticas, desastres naturais e a própria crise do sistema político. “Fortalecemos o uso de tecnologias nos anos 90/2000, a solidariedade entre as comunidades, a capacitação do campesinato e programas de apoio à Agricultura Familiar, entre outros. “Ainda assim, consideramos o futuro do campesinato muito incerto”, disse.
Por último, mas não menos importante, Dona Dijé, representante do Movimento Interestadual das Quebradeira de Côco Babaçu, lembrou que a agroecologia veio unir o conhecimento tradicional das comunidades com a palavra que vem da academia. “Tanto faz estar na Bahia ou no Rio Grande do Sul, a gente detém o conhecimento que não está nos livros, mas na memória do nosso povo”, afirmou, lembrando que as raízes da agroecologia estão fincadas nos conhecimentos dos povos tradicionais.
Dona Dijé também denunciou a perda de direitos no atual momento político brasileiro, que culmina, muitas vezes também, na perda de vidas. “Estamos vivendo hoje o legado do sangue dos nossos mártires do passado, que lutaram pelo direito à vida”.
O Congresso de Agroecologia 2017 começou hoje (12) em Brasília e vai até a próxima sexta-feira (15). É promovido pela Sociedade Latino-Americana de Agroecologia (SOCLA) e Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), e organizado em Brasília por uma comissão formada por representantes da Embrapa, Universidade de Brasília, EmaterDF, Secretarias de Estado do GDF (Seagri e Sedestmidh), IBRAM e ISPN. Conta com o apoio de vários ministérios, organizações e movimentos sociais. O evento é patrocinado pelo BNDES, Itaipu Binacional e Fundação Banco do Brasil. Acompanhe as novidades em www.agroecologia2017.com e nos perfis do Facebook e Instagram.
Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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