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Artigo - O cidadão e a conservação de espécies vegetais
Fernanda Vidigal - Pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas, BA)
Poucas ações têm sido feitas no sentindo de induzir o cidadão comum a plantar e conservar em quintais urbanos espécies nativas ou que sejam importantes para determinada região, ainda que algumas publicações chamem à atenção para o uso de espécies nativas em quintais residenciais ou agroflorestais. Por outro lado, um estudo produzido pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos [ONU-Habitat] em 2013, indicou que a população urbana da América Latina deve chegar a 89% em 2050, o que reforça ainda mais a necessidade de levar ao cidadão urbano, noções de responsabilidades com a agrobiodiversidade que o cerca e que o alimenta.
Identificar as espécies que são cultivadas em hortos e quintais urbanos pode ser uma radiografia que mostre a diversidade genética vegetal existente ao nosso redor e pode se constituir em uma etapa inicial para ações que valorizem, de forma dirigida, os recursos genéticos locais que são de interesse para a região, ou que estão ameaçados ou negligenciados, ou que sejam espécies nativas bem adaptadas às condições locais.
O cidadão urbano pode e deve ser um importante ator na conservação de espécies nativas ou de recursos genéticos importantes para a região onde vive. É ele quem decide o que planta em sua casa, seja em vasos no seu apartamento ou em um jardim. Entretanto, o que se tem visto de forma geral nos centros urbanos, é o uso indiscriminado de espécies exóticas, tanto nas vias públicas quanto em residências privadas.
Esse equívoco inicia com o que as prefeituras decidem plantas nas ruas, avenidas e alamedas e continua com o que os hortos costumam vender para o cidadão que quer ter sua plantinha em casa. É uma conjunção de erros que pode custar caro à paisagem urbana e à conservação das nossas espécies.
Algumas vezes a planta que vem de outra região ou país pode até ter uma vantagem adaptativa sobre as nossas espécies nativas, mas pode ser um agente de desequilíbrio ambiental local bastante significativo em longo prazo.
A espécie local está bem adaptada e interage com as condições ambientais locais de forma muito mais equilibrada, inclusive com a fauna local. É bastante comum em paisagens urbanas o desaparecimento de pássaros e outros pequenos animais que anteriormente eram comuns à região e muitas vezes responsáveis por polinizar essas plantas e dispersar suas sementes, uma importante ferramenta de conservação. O impacto negativo do uso de espécies exóticas é um processo demorado e por isso pouco percebido pelo cidadão urbano.
Assim é fundamental o desenvolvimento de estratégias que possam passar ao cidadão este tipo de informação, podendo sensibiliza-lo, transformando-o em um parceiro na conservação da nossa agrobiodiversidade, mesmo em espaços urbanos.
Ferramentas como o RGV no Parque possibilitam esse contato do cidadão com informações importantes sobre a relevância de se plantar e estimular o cultivo de espécies nativas locais a fim de se resgatar parte da paisagem original. Os desdobramentos de um trabalho dessa natureza, ainda que em longo prazo, podem impactar no panorama urbano da cidade, na qualidade de vida do cidadão comum e na conservação de uma agrobiodiversidade importante para a sustentabilidade da região.
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