Megatendências / Incremento da Governança e dos Riscos

Aumento da ameaça representada por doenças infecciosas emergentes e pela poluição ambiental

Download

A agricultura e a pecuária são setores essenciais para a economia brasileira. As Doenças Infecciosas Emergentes (DIE) são uma das maiores ameaças à estabilidade desses setores, pois além das perdas de produção, refletidas diretamente em perdas econômicas, elas podem também afetar o comércio global, a saúde e a segurança alimentar de toda a população mundial (Fisher et al., 2012; Zanella, 2016; Chaloner et al., 2021).

A velocidade com que as DIE podem se espalhar é altamente preocupante do ponto de vista da saúde pública, da economia e da segurança alimentar, não apenas no Brasil, mas em todas as nações do globo, o que por sua vez enfatiza a necessidade de desenvolvimento de amplos sistemas de detecção e capacidade de resposta, em especial nas regiões consideradas como confluentes de fatores de risco, as quais incluem a América Latina (United States Agency, 2013).

Inúmeros são os fatores que influenciam a emergência ou a reemergência de doenças, sendo que a expansão da população humana, as mudanças climáticas, a globalização do comércio e das viagens, a poluição, a destruição dos habitat nativos, aliados à ocupação humana e à expansão e intensificação da produção animal e vegetal, estão entre as principais causas (Chomel et al., 2007; Panda et al., 2008; Cutler et al., 2010; Vurro et al., 2010; Fisher et al., 2012; Zanella, 2016; Chaloner et al., 2021; World Organisation for Animal Health, 2021).

Medicamentos, pesticidas, produtos químicos e outros poluentes, quando usados de forma indiscriminada ou indevidamente descartados, podem contaminar não apenas os alimentos, mas também o solo e chegar aos lençóis freáticos. Mais de 90 tipos de drogas provenientes do descarte de medicamentos e diversos pesticidas já foram reportados em ambientes aquáticos (Lima et al., 2020; Rodrigues et al., 2020). A poluição ambiental e seus efeitos vão além da poluição de água doce, solos e sistemas costeiros. A contaminação ambiental interfere na saúde dos ecossistemas, e, a longo prazo, pode erradicar espécies endêmicas raras e interromper interações ecológicas, funções do ecossistema e processos evolutivos, os quais, por sua vez, em geral, refletem negativamente sobre a saúde humana, animal e vegetal (Destoumieux-Garzón et al., 2018; Teixeira et al., 2020).
Nos últimos séculos, a alteração do uso da terra cresceu exponencialmente para acompanhar o crescimento da população e a subsequente demanda por recursos naturais e alimentos. Dessa forma, além da contaminação ambiental, a destruição da vegetação nativa também prejudica a manutenção da saúde animal e vegetal, reduz a biodiversidade, e tem papel fundamental no surgimento de doenças (Fisher et al., 2012; United States Agency, 2019).

O controle efetivo de enfermidades pode ser alcançado quando as abordagens de saúde pública selecionadas são combinadas globalmente e entregues localmente (United States Agency, 2013; Doenças..., 2021). Isso também se aplica à sanidade vegetal e animal (CABI, 2021). Dessa forma, o desenvolvimento de novas ferramentas, que incluem a vigilância em escala global, aliadas a tecnologias de detecção precoce, modelagem preditiva e alertas em tempo real será essencial para mitigar novos surtos epidêmicos (CABI, 2021; Ristaino et al., 2021; World Organisation for Animal Health, 2021).

Prognosticar o surgimento ou ressurgimento de uma determinada doença é difícil. O passado mostra que a prevenção é a maneira mais eficaz e econômica para a proteção de todos. A identificação precoce e a resposta imediata são a maneira mais eficaz para reduzir os riscos persistentes relativo as DIE.

Realizar estudos de análise de riscos e investir em defesa sanitária animal e vegetal, dentro do conceito de Saúde Única (One Health) além de treinamento e resposta ao foco em áreas geográficas onde essas ameaças são prováveis de emergir devem ser prioridades de modo a evitar o surgimento de novas pragas e doenças (Destoumieux-Garzón et al., 2018; Morris et al., 2022).

Referências

  • CABI. The persistent threat of emerging plant disease pandemics to global food security. 2021. Disponível em:https://blog.cabi.org/2021/06/08/the-persistent-threat-of-emerging-plant-disease-pandemics-to-global-food-security/. Acesso em: 20 out. 2021.
  • CHALONER, T. M.; GURR, S. J.; BEBBER, D. P. Plant pathogen infection risk tracks global crop yields under climate change. Nature Climate Change, v. 11, p. 710-715, 2021. DOI: https://doi.org/10.1038/s41558-021-01104-8.
  • CHOMEL, B. B.; BELOTTO, A.; MESLIN, F.-X. Wildlife, exotic pets, and emerging zoonoses. Emerging Infectious Diseases, v. 13, n. 1, p. 6-11, 2007.
  • CUTLER, S. J.; FOOKS, A. R.; POEL, W. H. M. van der. Public health threat of new, reemerging, and neglected zoonoses in the industrialized world. Emerging Infectious Diseases, v. 16, n. 1, p. 1-7, 2010. DOI: https://doi.org/10.3201/eid1601.081467.
  • DESTOUMIEUX-GARZÓN, D.; MAVINGUI, P.; BOETSCH, G.; BOISSIER, J.; DARRIET, F.; DUBOZ, P.; FRITSCH, C.; GIRAUDOUX, P.; LE ROUX, F.; MORAND, S.; PAILLARD, C.; PONTIER, D.; SUEUR, C.; VOITURON, Y. The one health concept: 10 years old and a long road ahead. Frontiers in Veterinary Science, v. 5, n. 14, p. 1-3, 2018. DOI: https://doi.org/10.3389/fvets.2018.00014.
  • DOENÇAS tropicais negligenciadas: 30 de janeiro: dia mundial de combate às doenças tropicais negligenciadas. Boletim Epidemiológico, número especial. 2021.
  • FISHER, M. C.; HENK, D. A.; BRIGGS, C. J.; BROWNSTEIN, J. S.; MADOFF, L. C. MCCRAW, S. L.; GURR, S. J. Emerging fungal threats to animal, plant and ecosystem health. Nature, v. 484, p. 186-193, 2012. DOI: https://doi.org/10.1038/nature10947.
  • LIMA, J. A. M. C.; LABANOWSKI, J.; BASTOS, M. C.; ZANELLA, R.; PRESTES, O. D.; VARGAS, J. P. R. de; MONDAMERT, L.;GRANADO, E.; TIECHER, T.; ZAFAR, M.; TROIAN, A.; LE GUET, T.; SANTOS, D. R. dos. “Modern agriculture” transfers many pesticides to watercourses: a case study of a representative rural catchment of southern Brazil. Environmental Science and Pollution Research, v. 27, n. 10, p. 10581-10598, 2020. DOI: https://doi.org/10.1007/s11356-019-06550-8.
  • MORRIS, C. E.; GÉNIAUX, G.; NÉDELLEC, C.; SAUVION, N. ; SOUBEYRAND, S. One health concepts and challenges for surveillance, forecasting, and mitigation of plant disease beyond the traditional scope of crop production. Plant Pathology, v. 71, p. 86-97, 2022. DOI: https://doi.org/10.1111/ppa.13446.
  • PANDA, A. K.; THAKUR, S. D.; KATOCH, R. C. Rabies: control strategies for Himalayan states of the Indian subcontinent. Journal of Communicable Diseases, v. 40, n. 3, p. 169-175, 2008.
  • RISTAINO, J. B.; ANDERSON, P. K.; BEBBER, D. P.; BRAUMAN, K. A.; CUNNIFFE, N. J.; FEDOROFF, N. V.; FINEGOLD, C.; GARRETT, K. A. The persistent threat of emerging plant disease pandemics to global food security. PNAS, v. 118, n. 23, e2022239118, 2021. DOI: https://doi.org/10.1073/pnas.2022239118.
  • RODRIGUES, I. C. G.; GARCIA, I. F.; SANTOS, V. L. P.; RIBAS, J. L. C. Contaminação ambiental decorrente do descarte de medicamentos: participação da sociedade nesse processo. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 11, p. 86701-86714, 2020.
  • TEIXEIRA, D. C. L.; MOREIRA, I. G. V.; COELHO, M. A.; AMARAL, Y. F. Q.; CUPERTINO, M. C. Exposição a contaminantes ambientais inorgânicos e danos à saúde humana. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 4, p. 10353-10369, 2020.
  • UNITED STATES AGENCY. International Development. Final Report: infectious disease emergence and economics of altered landscapes. New York: EcoHealth Alliance, 2019. 88 p. Disponível em: https://www.ecohealthalliance.org/wp-content/uploads/2019/09/IDEEAL_report_final.pdf. Acesso em: 29 ago. 2021.
  • UNITED STATES AGENCY. International Development. Pandemic influenza and other emerging threats. 2013. Disponível em: https://www.usaid.gov/sites/default/files/documents/1864/PIOETFact%20SheetApril2013.pdf. Acesso em: 20 out. 2021.
  • VURRO, M.; BONCIANI, B.; VANNACCI, G. Emerging infectious diseases of crop plants in developing countries: impact on agriculture and socio-economic consequences. Food Security. v. 2, p. 113-132, 2010. DOI: https://doi.org/10.1007/s12571-010-0062-7.
  • WORLD ORGANISATION FOR ANIMAL HEALTH. One health. Disponível em: https://www.oie.int/en/what-we-do/global-initiatives/one-health/. Acesso em: 29 ago. 2021.
  • ZANELLA, J. R. C. Zoonoses emergentes e reemergentes e sua importância para saúde e produção animal. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 51, n. 5, p. 510-519, 2016.DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-204X2016000500011.