Em um mundo com recursos naturais limitados, é necessário um esforço constante de inovação para prover alimento, água e energia limpa para as populações. Algumas iniciativas têm sido exitosas e representam um marco para a sociedade moderna na busca da sustentabilidade, como é o caso do conceito de economia circular (Towards the circular economy, 2014; European Environment Agency, 2018), que ganhou destaque com a proposta de redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia, pregando que os resíduos são insumos para a produção de novos produtos.
Em 2008, a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) lançaram a iniciativa intitulada Um Mundo, Uma Saúde. O termo One Health traduzido como Saúde Única é um conceito sugerido para demonstrar a indissociabilidade da saúde humana, animal e ambiental. Essa abordagem enfatiza ainda os grandes desafios relacionados à saúde e alimentação na humanidade moderna, que exigem uma ação integralizada e holística desses três componentes.
Segundo a OIE (World Organisation for Animal Health, 2016), 60% das doenças infeciosas humanas são zoonoses; 75% dos agentes de doenças infeciosas no homem são de origem animal; cinco doenças novas no homem surgem por ano, sendo três de origem animal; 80% dos agentes causadores de doenças que podem ser utilizados como armas biológicas são zoonóticos.
A alta conectividade da atualidade acaba afetando diretamente a maneira como pessoas, animais e o meio ambiente interagem. Essa conectividade pode levar a reemergência de muitas doenças. Por isso é necessária a abordagem One Health para entender melhor as zoonoses e doenças infecciosas. A priorização dessas doenças significa realizar vigilância, planejar atividades de resposta a surtos e criar estratégias de prevenção de doenças para reduzir a contaminação e mortes em pessoas e animais. Questões de segurança nas fronteiras, movimentação de cargas e animais, além da alimentação com animais silvestres têm sido alvo de preocupação, em especial em um país como o Brasil com ampla fronteira, megabiodiversidades, práticas alimentares e culturais tradicionais, muitas delas desconhecidas pelos cientistas, estudiosos e sanitaristas.
Apesar da tradição da sua agricultura, o Brasil necessita de ações coordenadas para manter seu status e atuar de modo mais expressivo para prospectar o potencial para desenvolvimento de novos produtos e serviços a partir da sua biodiversidade e da saúde da população como um todo, já que está tudo conectado.
Alguns sinais reforçam essa necessidade. Em primeiro lugar, o Brasil é o maior detentor de biodiversidade e segundo maior produtor e exportador de alimentos do planeta. Em segundo lugar, possui uma extensão territorial com cerca de 200 milhões de hectares em áreas consideradas degradadas com potencial para ampliar o cultivo de alimentos, produção de biomassas adequadas ao desenvolvimento de bioprodutos e bioenergia de origem renovável. Em terceiro lugar, mas não menos importante, o Brasil é detentor de tecnologia para produção e agregação de valor a matérias-primas renováveis, principalmente pela nossa capacidade em adaptar áreas originalmente consideradas improdutivas, como aconteceu nos últimos 20 anos com o Cerrado brasileiro.
Referências
- EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY. The circular economy and the bioeconomy: partners in sustainability. Copenhagen, 2018. 60 p. (EEA Report, n. 8/2018).
- TOWARDS the circular economy: accelerating the scale-up across global supply chains. Geneva: World Economic Forum, 2014. v. 3.
- WORLD ORGANISATION FOR ANIMAL HEALTH. Final Report: 2016. Paris: OIE, 2016. 276 p. 84SG.