Segundo o último documento da FAO (2020), a aquicultura mundial cresceu 5,3% ao ano no período de 2001 a 2018. Ainda no ano de 2018, a produção atingiu um recorde histórico e chegou a 114,5 milhões de toneladas em peso vivo. Em paralelo, de 1961 a 2017, o consumo mundial de pescado apresentou aumento anual de 3,1%, percentual quase duas vezes maior que o crescimento anual da população mundial no mesmo período (1,6%) e acima do crescimento anual de outros alimentos (carne, laticínios, leite, etc.), que aumentaram 2,1% ao ano (FAO, 2020).
Atualmente a atividade pesqueira nacional não tem condições de atender toda a demanda do mercado consumidor (em parte em razão da atividade pesqueira extrativista, como era praticada no passado, que provocou declínio dos estoques naturais das populações selvagens). O cultivo de espécies ameaçadas tem sido apoiado pelos governos e por empresas privadas no intuito de promover o repovoamento de áreas de instabilidade populacional.
O Brasil não é, ainda, um país de grande destaque no cenário mundial da produção aquícola. A produção de pescado no Brasil saltou de 578 mil toneladas (2014) para pouco mais de 802 mil toneladas (2020) (Associação Brasileira da Piscicultura, 2021). Entretanto, o Brasil possui, além de 8.500 km de zona costeira, aproximadamente 12% do total mundial de águas continentais (rios, lagos e reservatórios artificiais) (Ummus; Pedrosa Filho, 2021), bem como espécies nativas com potencial de exploração comercial (Figura 15).
Figura 15 Distribuição dos principais grupos de espécies de pescado produzidas nos Estados do Brasil.
Fonte: Valenti, et al. 2021.
É prospectado que o Brasil se torne o maior produtor de tilápia (espécie exótica) do mundo nos próximos 20 anos (atualmente ocupa a quarta posição) (Maliszewski, 2021). Um dos grandes entraves históricos que desamparam o desenvolvimento da aquicultura no Brasil é a dificuldade de obtenção de licenças ambientais, e isso se dá principalmente em razão do alto grau de exigências técnicas, por vezes desconhecidas pelos produtores e pelos próprios técnicos das agências ambientais fiscalizadoras (Ummus; Pedrosa Filho, 2021).
As principais tendências para esse setor são o uso sustentável dos cultivos, com priorização dos sistemas de baixa demanda hídrica, como recirculação (RAS) e bioflocos, e maior produção aquícola em águas da união por meio do uso de tanques-rede. É necessário também investir em mecanização e informatização na produção e no processamento do pescado, bem como no aumento das exportações de produtos da aquicultura. Nesse processo, destacam-se o melhoramento genético de espécies nativas, o uso de indicadores sociais, econômicos e ambientais para avaliar a aquicultura, a maior demanda do setor por ações de zoneamento aquícola (regiões aptas e inaptas para o cultivo), o desenvolvimento da aquicultura multitrófica, o maior controle quanto ao uso de antibióticos e o aumento da demanda por rações mais completas e com aditivos/imunoestimulantes.
Matthews (2020) indicou tendências para o setor: desenvolvimento de moluscos resistentes a mudanças climáticas; uso de óleos procedentes de microalgas; fazendas para produção de macroalgas; aumento da produção de organismos detritívoros; e aquicultura “offshore”. Esses pontos ressaltam a necessidade de adoção de sistemas de produção de menor impacto ambiental, a criação de espécies resistentes a mudanças climáticas, com animais com hábitos detritívoros, que ajudam na ciclagem de nutrientes, e a proteção de ambientes costeiros, mais frágeis, mais vulneráveis a alterações.
A malacocultura (cultivo de moluscos) associada à produção de macroalgas marinhas pode representar um sistema de produção zero carbono, pois utiliza os nutrientes presentes na água, em ambientes abertos (sem input de infraestruturas ou pressão ambiental), para produzir alimento de elevado valor biológico a um baixo custo. Os gargalos estão no melhoramento de espécies nativas para produção, no controle sanitário e no escalonamento da produção.