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Pesquisa investiga impactos dos usos da terra na Amazônia
Uma equipe composta por pesquisadores da Embrapa Acre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade Kaiserslautern-Landau (RPTU), na Alemanha, investiga os impactos de diferentes usos da terra na dinâmica da matéria orgânica do solo na Amazônia Ocidental. A atividade faz parte da segunda fase do projeto Process-based management of Diversity Generates sustainable Yield (Prodigy Biotip), liderado pela universidade alemã, e inclui coletas de solos em diferentes tipos de paisagens. No mês de outubro as coletas aconteceram em áreas de pastagem, pasto consorciado, florestas nativas, áreas de cultivo de seringueira e floresta regenerada do município de Rio Branco.
O pesquisador da Embrapa Acre, Falberni de Souza Costa, explica que investigar essa diversidade de ambientes é fundamental para identificar possíveis tipping points ou pontos de não retorno no processo de recuperação dos estoques de carbono nos solos da região. “O estudo vai mostrar se os estoques de carbono voltam ao estado original, ou pelo menos se aproximam do que eram antes da intervenção humana. Caso não tenham se recuperado, será um alerta para um ponto de não retorno, enquanto a recuperação, devido a determinado tipo de manejo ou à regeneração natural, sem intervenção humana, indicará a capacidade do solo de se recompor”, complementa.
O tipping point ocorre quando as mudanças em um determinado ambiente ocasionadas, por exemplo, por um processo de derruba e queima, se tornam irrecuperáveis devido a transformações no modo de funcionamento do solo, que não permitem o retorno ao estado anterior.
Segundo Costa, os dados gerados pela pesquisa podem ajudar a compreender como o uso de práticas agrícolas sustentáveis afeta os níveis de carbono armazenado no solo. Essas informações podem subsidiar políticas públicas voltadas para o melhor uso do solo, conservação do meio ambiente na região e redução das emissões de carbono. Além disso, podem apontar práticas de uso da terra que não comprometem a saúde dos agroecossistemas locais e contribuem com a melhoria da qualidade de vida das comunidades na região.
Análises mais profundas
Estudos realizados em Rondônia, na década de 1980, sobre estoques de carbono em pastagens de diferentes idades, mostraram que, quando comparado à dinâmica da matéria orgânica e da fertilidade do solo na floresta nativa, sem considerar a biomassa retirada, o pasto aumenta o estoque de carbono no solo em relação à área original. Resultados semelhantes também já foram obtidos no Acre, esses dados serão refinados com os novos estudos.
“O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) recomenda avaliações de até um metro de profundidade, mas nossas coletas em algumas localidades chegaram a cinco metros. Essa análise dos estoques de carbono em camadas mais profundas do solo pode revelar novos insights sobre a capacidade dos estoques se recuperarem em diferentes ambientes de uso da terra", acrescenta Costa.
Deborah Pinheiro Dick, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, reforça que novos achados serão importantes tanto para a compreensão da dinâmica da matéria orgânica em áreas de pastagem, como para o desenvolvimento de práticas de manejo que possibilitem otimizar a captura de carbono e promover a qualidade do solo e a sustentabilidade na região amazônica.
“A parceria com a Embrapa nos permite estudar outras regiões do País e aprofundar os conhecimentos sobre o carbono dos solos do ambiente amazônico, que impacta diretamente nas mudanças climáticas, inclusive o ponto de não retorno, uma questão crucial na atual crise climática que já enfrentamos. Com o refinamento desses dados, esperamos que novas estratégias possam ser implementadas, beneficiando tanto o meio ambiente quanto a produtividade agrícola ”, ressalta.
Para Klaus Schützenmeister, pesquisador da Universidade de Kaiserslautern-Landau, é preciso conhecer a dinâmica de uso da terra para entender melhor as mudanças climáticas. “Precisamos juntar informações para definir qual será o próximo passo da investigação. Há muito desmatamento para a criação de gado, fato que gera a necessidade de conhecer a condição dos solos com atividade pecuária e identificar se esse solo ainda permite o retorno de uma floresta secundária ou se as suas características indicam tipping point. Por isso as coletas foram feitas em áreas de floresta e desmatadas para uso em atividades agropecuárias. Nossa pergunta principal é se no futuro poderemos ter novamente uma floresta em áreas hoje desmatadas e com ocupação econômica”, pondera.
As amostras de solo coletadas serão analisadas por profissionais da Embrapa, da UFRGS e Universidade de Landau. Cada instituição avaliará aspectos específicos da pesquisa e os resultados serão apresentados e discutidos em workshop a ser realizado pelo projeto.
Projeto Prodigy
O Prodigy reúne pesquisadores e comunidades de diferentes localidades do mundo e busca descrever as complexas interações entre a saúde do solo, as práticas econômicas e os aspectos sociais da região amazônica. O objetivo é entender como esses sistemas se interconectam e identificar pontos de inflexão que possam indicar mudanças críticas.
Dick acrescenta que o projeto possibilita intercâmbio, pesquisa e desenvolvimento de programas de pós-graduação, com foco em estudos sobre o comportamento do solo. “Essas colaborações são fundamentais para aumentar a qualidade dos estudos e ampliar o alcance das publicações científicas. A parceria não apenas abre horizontes, mas também promove a troca de saberes científicos entre diferentes regiões do mundo”, reforça.
Alinhado com as metas globais de sustentabilidade e conservação, o Prodigy propõe um modelo que não apenas preserve o meio ambiente, mas também respeite e integre as necessidades sociais e econômicas de comunidades amazônicas. Diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas e da pressão sobre os recursos naturais vivenciados atualmente, esse tipo de iniciativa é fundamental para promover o uso mais consciente e sustentável da terra e investigar como a diversidade em sistemas ambientais, econômicos e sociais pode fortalecer a resiliência na Bacia Amazônica Ocidental.
Mauricilia Silva (MTb 429/AC)
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