Pragas

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autor

Luizinho Caron - Embrapa Suínos e Aves

 

Roedores

Os roedores - ratos e camundongos – são animais sinantrópicos superiores adaptados e aparelhados, capazes de sobreviver e proliferar na natureza. Estimativas indicam que um quinto de toda a produção mundial é perdido, devido aos danos provocados por roedores. O controle deve estar baseado no número de roedores vivos e não nos eliminados. Quanto mais o método de controle estiver em consonância com a biologia dos animais melhor será a probabilidade de êxito.

Na produção de frango de corte os roedores podem facilmente consumir, espalhar ou estragar por contaminação 10% do total da ração para as aves. Nos pinteiros podem atacar os pintainhos tornando-se carnívoros e causando grandes perdas. Os roedores ainda provocam danos às estruturas, aos equipamentos, como cortinas, canos d’água e outros. Mais importante do que o que consomem é o alimento que contaminam com fezes, urina e pelos.

Um dos mais importantes impactos na saúde animal e humana causado pelos roedores é seu potencial para a transmissão de doenças. Entre as principais doenças carreadas pelos roedores destaca-se a salmonelose, que tem alto impacto na criação de frangos de corte, além de coriza infecciosa, coccidiose entre outras. Se forem considerados os riscos para a população humana, destacam-se a peste bubônica a leptospirose e a hantavirose (doença hemorrágica, quase sempre fatal, transmitida por roedores).

Existem dois gêneros principais de roedores (Mus e Rattus) que albergam as três mais importantes espécies de roedores sinantrópicos: Mus musculus, Rattus novergicus e Rattus Rattus, que correspondem respectivamente ao camundongo, à ratazana e ao rato de telhado. É possível encontrar as três espécies coabitando no mesmo habitat. Estes animais pertencem à ordem Rodentia, pois seus dentes incisivos centrais são adaptados para roer, e por isso crescem constantemente durante a vida do animal. Para que estes dentes continuem funcionais precisam sofrer desgaste continuamente, e dessa forma os animais roem estruturas para desgastá-los, mesmo que não seja para se alimentar.

O Mus musculus ou camundongo é um animal pequeno, medindo cerca de 18 cm e pesando entre 10 a 21 gramas. O comprimento da cauda é um pouco maior do que o comprimento do corpo. Os animais desta espécie possuem olhos proeminentes e orelhas proporcionalmente grandes e não possui membranas interdigitais. Os camundongos são novofílicos, ou seja, são curiosos e gostam de provar novos alimentos que aparecem na propriedade e roer coisas que chegaram ao seu habitat recentemente, sendo essa uma característica biológica importante a considerar para o combate desses roedores.

O Rattus rattus ou rato-de-telhado é maior do que o camundongo, medindo cerca de 38 cm e pesando de 80 a 300 gramas. A cauda é mais longa do que o comprimento do corpo até a cabeça; têm olhos grandes e proeminentes, orelhas grandes. Assim como o camundongo, não possuem membranas interdigitais.
O Rattus novergicus, conhecido popularmente como ratazana ou gabirú, é o maior destes 3 roedores sinantrópicos, pesando de 120 a 500 gramas e medindo cerca de 45 cm de comprimento, sendo o comprimento da cauda menor do que o comprimento do corpo até a cabeça. Tem olhos e orelhas relativamente pequenos. Diferente dos camundongos e ratos-de-telhado o Rattus novergicus possui membranas interdigitais, o que o torna um exímio nadador.

Os ratos-de-telhado e as ratazanas, ao contrário dos camundongos, são novofóbicos, pois estes têm receio de experimentar alimentos novos ou se aproximar de objetos colocados recentemente em seu habitat. Estes animais possuem uma vida social bastante organizada, com diversos níveis de hierarquia e nessa sociedade fica a cargo dos animais de menor status social experimentar novos alimentos. Assim, se esse novo alimento matar esse animal pouco tempo após consumir este alimento, os demais animais da colônia associam a morte a esse alimento ou objeto e não irão mais experimentá-lo. Por isso, as iscas para combater ratos devem conter venenos que matem o animal alguns dias após terem ingerido o alimento.

As iscas raticidas mais empregadas são aquelas com venenos anticoagulantes do sangue como a warfarina, cumacloro, difenacoum, clorofacinona, bradifacoum, bromadiolone, ente outros. Por serem anticoagulantes, seu efeito é lento e não é tóxico para animais domésticos ou selvagens que ingerirem ratos mortos por estes venenos. Outra vantagem é que possuem antídoto (vitamina K1). As iscas devem ser colocadas escondidas em caixas que contenham pelo menos duas aberturas, pois se o animal se sentir encurralado não entrará na caixa para comer a isca. Os roedores possuem uma visão muito limitada, por isso andam próximo a paredes, ou anteparos e usam seus bigodes como órgão sensorial para se localizarem. Dessa forma, as caixas com as iscas devem ficar encostadas às paredes. As caixas devem ter uma tampa para inspeção rápida e permitir a troca da isca facilmente. Deve-se tomar o cuidado de não colocar as iscas ao alcance dos frangos de corte.

 

Cascudinho

Outra praga importante da avicultura de corte, talvez hoje a mais importante, principalmente pelos problemas relacionados à sanidade avícola, seja o Alphitobius diaperinus, também conhecido como cascudinho. Trata-se de um besouro pequeno, de cor preta, que tem um ciclo de vida de 89 dias. São coleópteros originários do continente africano. A temperatura entre 21 e 33°C é ideal para o desenvolvimento desse inseto. O cascudinho se alimenta de restos de ração, aves moribundas, cadáveres e fezes. 

Por ser um local onde estes insetos ficam abrigados da luz e das aves, e terem fonte de alimento abundante, podem ser encontrados em grande quantidade sob os comedouros. O aviário com piso de chão batido proporciona um habitat muito favorável para estes insetos, pois eles cavam galerias profundas no solo onde depositam seus ovos e ficam protegidos no período de vazio sanitário. Eles também se albergam nas fendas, nas muretas e madeiras ou no piso, entre as cortinas ou divisórias.

Os cascudinhos são vetores de muitas doenças, entre as já comprovadas destaca-se a salmonelose. Mesmo após a higienização do aviário, se os cascudinhos infectados voltarem na cama do próximo lote, a bactéria também poderá retornar com eles. Outros agentes como Clostridium perfringens, Eimeria sp, Escherichia coli, Campylobacte sp, Bacillus sp, Streptococcus sp, Aspergillus sp e vírus como os da Doença de Marek, Influenza, Gumboro, Newcastle, rotavírus e enterovírus, também podem ser carreados. O cascudinho também é considerado vetor da leucose aviária.

A presença dos cascudinhos é um problema maior ainda em aviários que utilizam o sistema "Dark House" devido a condições ideais de luminosidade e de maior densidade de aves, que favorece a presença desses insetos.
 
Para o combate ao cascudinho recomenda-se evitar o desperdício de ração, recolher a  ração derramada no chão, fazer piso de concreto em instalações de chão-batido, recolher as aves mortas pelo menos 2 vezes ao dia. Após a retirada da cama e limpeza do aviário,  deixar o aviário aberto,  principalmente nos dias frios, pois os cascudinhos e suas larvas não resistem às baixas temperaturas. É recomendado o uso de inseticidas à base de piretroides para combater o inseto, aplicados após a limpeza e higienização do aviário.

 

 

Moscas

As moscas podem se tornar uma praga em aviários de frango de corte se houver descuidos por parte do produtor com a compostagem, se não for bem feita. Cama molhada no interior do aviário pode se tornar um excelente criatório para larvas de moscas, bem como cama amontoada nas proximidades do aviário expostas à chuva.

Por isso recomenda-se não deixar a cama amontoada sem estar devidamente coberta e de preferência longe do aviário ou de outras instalações. Nunca deixar cama molhada por goteiras ou vazamentos no interior do aviário. Recomenda-se retirá-la para local distante do aviário, e cobri-la com lona, para agilizar o processo de fermentação. A temperatura da cama alcançada nesse processo inibe o desenvolvimento das larvas de moscas.
 

Pássaros

Os pássaros sinantrópicos ou silvestres também podem ser uma praga para aviários, pois são atraídos pela ração dos frangos e defecam nos comedouros. Essas aves não são vacinadas e são hospedeiros de diversos agentes de enfermidades infecciosas. Para combater a entrada dessas aves no aviário ou nas proximidades, é recomendado o uso de tela de 2,54 cm e evitar a presença de árvores frutíferas localizadas próximas aos aviários.