Banana
Pragas
Autor
Marilene Fancelli - Embrapa Mandioca e Fruticultura
O conhecimento dos fatores bioecológicos que interferem na população de uma praga é fundamental para o desenvolvimento e aplicação de medidas de controle que apresentem baixo impacto ambiental. De modo geral, o bananal constitui-se num agroecossistema cuja estabilidade propicia a atuação de inimigos naturais e favorece a aplicação de técnicas de controle biológico, contribuindo para a redução populacional das pragas e das perdas por elas provocadas.
No Brasil, apesar da ocorrência de muitas espécies de insetos em bananais, poucas causam danos significativos à produção, sendo necessária a identificação das principais pragas e o seu monitoramento populacional, para subsidiar a adoção de medidas de controle.
Broca-do-rizoma – Cosmopolites sordidus (Germ.)
É a principal praga que ataca a cultura da bananeira, conhecida também por moleque-da-bananeira. Na forma adulta, esse inseto é um besouro de cor preta. As larvas são responsáveis pelos danos à planta, ao construírem galerias no rizoma. O ataque desta praga pode reduzir a produção de bananais ´Prata´ em até 30%. Em variedades mais suscetíveis, como a Nanica, as perdas decorrentes da redução no peso e no tamanho dos frutos chegam a 80%.
Foto: Nilton Fritzons Sanches
Figura 1. Adulto de Cosmopolites sordidus.
Foto: Zilton José Maciel Cordeiro
Figura 2. Danos no rizoma da bananeira causados pelas
larvas de C. sordidus.
A dispersão deste inseto ocorre por meio de mudas infestadas pela praga, as quais podem conter ovos e larvas em desenvolvimento. Portanto, recomenda-se muito cuidado na seleção do material de plantio.
O tratamento químico das mudas é realizado mediante imersão do material de plantio em calda contendo inseticida.
Uma alternativa ao uso do inseticida é a imersão das mudas em água a 54ºC durante 20 minutos.
Iscas atrativas podem ser usadas para redução da populaçao dos insetos, mas não utilizadas como medida única de controle. Recomenda-se o uso de 50 iscas/hectare, podendo variar de 40 a 100 iscas/hectare. Os insetos capturados devem ser coletados manualmente e posteriormente destruídos, quando não forem utilizados produtos químicos ou inseticida biológico para seu controle.
O fungo Beauveria bassiana é usado no controle biológico do moleque-da-bananeira. Uma solução contendo este fungo deve ser distribuída por meio de pincelamento ou pulverização sobre a superfície das iscas de pseudocaule, à razão de 50 iscas/hectare ou conforme recomendação do fabricante.
Quanto ao emprego de inseticidas, estes podem ser introduzidos em plantas desbastadas e colhidas, através de orifícios efetuados pela lurdinha. A utilização de quaisquer produtos químicos deve seguir os procedimentos de segurança recomendados pelo fabricante.
O controle por comportamento preconiza o emprego de armadilhas contendo feromônio (Cosmolure), o qual atrai adultos da broca para um recipiente do qual o inseto não consegue sair e fica aprisionado. Recomenda-se o uso de três armadilhas/hectare para o monitoramento da broca, devendo-se renovar o sachê contendo o feromônio a cada 30 dias.
Tripes
Tripes da Erupção dos Frutos - Frankliniella spp.
A forma jovem apresenta cor branca ou amarela-clara e, assim como o adulto, é muito ativa. Os adultos apresentam coloração marrom-escura e são encontrados geralmente em flores jovens abertas. Também podem ocorrer naquelas flores que estão ainda protegidas pelas brácteas, alimentando-se nas brácteas e, algumas vezes, sobre frutos jovens.
Os danos provocados por estes tripes manifestam-se nos frutos em desenvolvimento, na forma de pontuações marrons e ásperas ao tato (Figura 3), o que reduz o seu valor comercial, mas não interfere na qualidade da fruta.
Foto: Aristoteles Pires de Matos
Figura 3. Danos causados por tripes da erupção dos frutos, em bananeira.
A retirada dos restos florais (despistilagem) e a remoção do coração reduzem a população destes insetos. A aplicação de inseticidas via solo é citada na literatura como método de controle deste inseto. Recomenda-se a utilização de sacos impregnados com inseticida (Tabela 1), no momento da emissão do cacho, para reduzir os prejuízos causados pelo tripes da erupção dos frutos.
Tabela 1. Inseticidas registrados para a cultura da bananeira.
Tripes da Ferrugem dos Frutos - Chaetanaphothripsspp.
São insetos pequenos que vivem nas inflorescências, entre as brácteas do coração e os frutos. Seu ataque provoca o aparecimento de manchas de coloração marrom (semelhante à ferrugem) (Fig. 4). Em casos de forte infestação, a casca da bananeira pode apresentar pequenas rachaduras em função da perda de elasticidade. Para o controle destes insetos, deve-se efetuar o ensacamento do cacho (Tabela 1) e a remoção de plantas invasoras, tais como Commelina sp. e Brachiaria purpurascens, hospedeiras alternativas destes insetos.
Foto: Antonio Lindemberg Martins Mesquita
Figura 4. Danos causados por tripes da ferrugem, em bananeira.
Outras pragas da bananeira
Lagartas Desfolhadoras - Caligo Calligo spp., Opsiphanes spp. (Lepidoptera: Nymphalidae), Antichloris spp. (Lepdoptera:Arctiidae)
Fotos: Antonio Lindemberg Martins Mesquita
Figura 5. Danos causados por lagartas desfolhadoras:Caligo sp. e Opsiphanes sp. (a) e Antichloris sp. (b), em bananeira.
As principais espécies de Caligo que ocorrem no Brasil são C. brasiliensis, C. beltrao e C. illioneus. No estágio adulto, Caligo sp. é conhecida como borboleta corujão pois a disposição das escamas na face ventral de suas asas lembra os olhos de uma coruja. Na face dorsal, as asas apresentam coloração azul metálica. As lagartas, no máximo desenvolvimento, chegam a medir 12 cm de comprimento e apresentam coloração parda. Seus inimigos naturais são Hemimasipoda sp. (Diptera: Tachinidae) e Spilochalcis sp. (Hymenoptera: Chalcididae).
No gênero Opsiphanes, registram-se no Brasil as espécies O. invirae e O. cassiae. Na fase adulta, são borboletas que apresentam asas de coloração marrom, com manchas amareladas. Na fase jovem, as lagartas possuem coloração verde, com estrias amareladas ao longo do corpo, alcançando cerca de 10 cm de comprimento. Apanteles sp. (Hymenoptera: Braconidae), Horysmenus sp. (Hymenoptera: Eulophidae), Spilochalcis sp. e Xanthozona melanopyga (Diptera: Tachinidae) são referidos como inimigos naturais desta praga.
O terceiro grupo de lagartas que atacam a bananeira pertence às espécies Antichloris eriphia e A. viridis. Os adultos são mariposas de coloração escura, com brilho metálico. As lagartas apresentam fina e densa pilosidade de coloração creme, medindo 3 cm de comprimento. Seus inimigos naturais são Telenomus sp. (Hymenoptera: Scelionidae), Calocarcelia sp. (Diptera: Tachinidae), Meteorus sp. (Hymenoptera: Braconidae).
As lagartas pertencentes ao gênero Caligo e Opsiphanes provocam a destruição de grandes áreas, enquanto que as do gênero Antichloris apenas perfuram o limbo foliar (Fig. 5a e 5b). Em Caligo sp., entretanto, as lagartas possuem hábito gregário. Em geral, estas lagartas são mantidas em equilíbrio pelos seus inimigos naturais. A aplicação de inseticidas no bananal (Tabela 1) deve ser realizada com cautela, para evitar a destruição dos inimigos naturais.
Abelha Arapuá - Trigona spinipes (Fabr.) (Hymenoptera: Apidae)
O ataque às flores e frutos jovens provoca o aparecimento de lesões irregulares, principalmente ao longo das quinas, o que deprecia seu valor comercial. A eliminação do coração, após a formação do cacho, auxilia a diminuir os danos causados por este inseto.
Broca-Rajada - Metamasius hemipterus (Coleoptera: Curculionidae)
Ácaros de Teia - Tetranychus spp. (Acari:Tetranychidae)
Foto: Nilton Fritzons Sanches
Figura 6. Danos nas folhas da bananeira causados por ácaros.
Na forma adulta, medem cerca de 0,5 mm de comprimento. Apresentam coloração avermelhada, com pigmentação mais acentuada lateralmente. Os ácaros formam colônias na face inferior das folhas, tecendo teias no limbo foliar, normalmente ao longo da nervura principal (Fig. 6). São favorecidos por umidade relativa baixa. O ataque desta praga torna a região infestada inicialmente amarelada; posteriormente, torna-se necrosada, podendo secar a folha. Sob alta infestação, podem ocorrer danos aos frutos. Não há produtos registrados para o controle desta praga em bananeira; entretanto, em alguns países, recomenda-se a aplicação de acaricidas diluídos no óleo utilizado para controle da Sigatoka-amarela. São citados como inimigos naturais dessa praga alguns ácaros predadores da família Phytoseiidae e os coleópteros Stethorus sp. e Oligota sp.
Traça da Bananeira - Opogona sacchari (Bojer) (Lepidoptera: Lyonetiidae)
No Brasil, sua ocorrência é restrita aos Estados de São Paulo e de Santa Catarina. O inseto pode atacar todas as partes da planta, exceto raízes e folhas