Mudas Convencionais

Conteúdo migrado na íntegra em: 08/12/2021

Autores

Élio José Alves - Consultor autônomo

Marcelo Bezerra Lima - Embrapa Mandioca e Fruticultura

Janay Almeida dos Santos Serejo - Embrapa Mandioca e Fruticultura

Aldo Vilar Trindade - Embrapa Mandioca e Fruticultura

 

O ideal é ter mudas originárias de viveiristas idôneos, cuja finalidade exclusiva seja a produção de mudas de boa qualidade, em local próximo à futura plantação, o que permite transportá-las de forma rápida, eficiente e a baixo custo.

Caso a opção seja por produzir a muda, esta deve sofrer um processo de saneamento e seleção, bem como apresentar peso não inferior a 2 kg, devendo os rizomas originarem-se de plantas sadias, com alta vitalidade e de aparência normal.

O bananal selecionado para fornecer mudas diretamente para plantio não deve ter mistura de variedades nem a presença de plantas infestantes de difícil erradicação (tiririca, capim canoão).

Tanto no viveiro como no bananal que vai fornecer mudas, seleciona-se o tipo de muda mais indicado pela pesquisa, com todos os cuidados indispensáveis ao seu arranquio. Na prática, escolhem-se mudas bem vigorosas, de formato cônico, com 60 a 150 cm de altura, com folhas estreitas (chifrinho, chifre ou chifrão) ou com folhas largas (adulta). Há ainda o pedaço de rizoma, o guarda-chuva ou orelha-de-elefante e a muda com filho aderido, conforme ilustrado na Figura 1.

Foto: Janay Almeida dos Santos-Serejo/Marcelo Bezerra Lima

Figura 1. Tipos de mudas: micropropagada (a); tipo chifrão (b);
tipo chifre (c); tipo chifrinho (d); rizoma de planta adulta (e); rizoma com filho
aderido (f); pedaço de rizoma (g); e muda tipo guarda-chuva (h).

 

A variedade, o porte da bananeira e a idade da planta-mãe são fatores importantes na determinação do número de rebentos emitidos até o surgimento do cacho, o que tem reduzido o potencial para aproximadamente 25% do total ou seja, na realidade uma bananeira produz apenas nove a dez mudas, em período geralmente superior a 12 meses, em condições de campo, e nem todas são de boa qualidade.

Objetivando aproveitar ao máximo a potencialidade da bananeira de produzir gemas vegetativas, têm-se aplicado diversas metodologias para a propagação da cultura, cujo princípio fundamental é o de induzir a brotação das gemas e acelerar seu processo de desenvolvimento.

 

Métodos de propagação

A reprodução da bananeira é vegetativa ou clonal, por meio da separação de brotos e filhos da planta-mãe os quais, por replantio, perpetuam a espécie.

Dentre os métodos mais utilizados para a obtenção de mudas de bananeira, que estão ao alcance dos produtores, destacam-se: a) o próprio bananal; e b) viveiros.

  • O próprio bananal

Não se deve utilizar indiscriminadamente o bananal para a obtenção de mudas. É possível utilizá-lo adequadamente, para esse fim, especialmente para atendimento a pequenos produtores, que representam, provavelmente, mais de 90% do universo dos bananicultores brasileiros.

Quando se dispõe de um cultivo comercial bem estabelecido, que não tenha pragas que possam propagar-se e que a idade do rizoma não seja superior a três anos, pode-se obter mudas dos filhos que não foram selecionados para dar continuidade à unidade de produção (touceira). Nesse caso, os filhos para mudas são selecionados e marcados com uma fita plástica colorida, não devendo selecionar-se mais de um filho por touceira. A escolha deve ocorrer quando a planta-mãe já está bem desenvolvida (8 a 10 meses de idade) e o filho medindo 30 a 50 cm de altura. Este se desenvolve ao lado da mãe até que esta seja colhida, sem alterar a composição da nova unidade de produção (mãe, filho e neto ou mãe e dois filhos), como ilustra a Figura 2; nesse momento, o filho selecionado para muda pode ser retirado.

Foto: Janay Almeida dos Santos-Serejo

Figura 2. Filho deixado para muda na touceira.

 

Por nenhuma razão deve extrair-se a muda de uma mãe antes da colheita, já que os riscos de tombamento e perda da unidade são muito altos.

Esse procedimento não afeta o bananal em produção, pois, ao retirar-se a muda de uma bananeira já colhida, os estragos provocados em suas raízes e rizoma não interferem no desenvolvimento das plantas componentes da touceira, as quais devem estar opostas à muda a ser retirada, como mostra a Figura 3.

Foto: Janay Almeida dos Santos Serejo

Figura 3. Posição da muda chifrão a ser retirada da touceira.

 

Dentre os principais tipos de mudas a serem obtidas do bananal, podem-se destacar:

a) Chifre: muda com altura entre 30 a 60 cm, apresentando folhas lanceoladas e um grande diâmetro na base do seu rizoma.

b) Chifrão: é o tipo ideal de muda, com altura entre 60 a 150 cm, apresentando uma mistura de folhas lanceoladas com folhas semi-largas, tendendo para adultas, um grande diâmetro na base do seu rizoma e um pequeno diâmetro na parte aérea

  • Viveiros

As principais etapas descritas para propagação de mudas de bananeira em viveiro são: escolha da área, tipo e origem do material propagativo, variedades, instalação e condução do viveiro.

a) Escolha da área

O viveiro deve ser estabelecido em local o mais próximo possível do futuro plantio, e que esteja bem servido por estradas, cabos aéreos ou outros sistemas de transporte que permitam mobilizar a muda de forma rápida, eficiente e a baixo custo. O solo deve ser de textura média a ligeiramente arenosa, permitindo a fácil extração da muda; deve ser profundo, bem drenado e fértil, tendo-se o cuidado de que seja o mais livre possível de nematóides ou outras pragas da bananeira que poderiam, a partir do viveiro, propagar-se para o plantio a ser estabelecido.

b) Tipo e origem do material propagativo

Uma vez definida a quantidade de mudas a reproduzir e preparado o terreno convenientemente, procede-se a seleção das mudas que serão propagadas.

O ideal é que a muda para estabelecimento do viveiro seja de boa procedência, destacando-se as originárias de técnicas de multiplicação in vitro (Figura 4), em laboratórios de comprovada idoneidade. Essas matrizes são multiplicadas em campo pelos viveiristas, com o objetivo de fornecer mudas de boa qualidade aos produtores e por preços mais em conta do que os da muda micropropagada, cujo processo de produção requer estruturas e insumos caros.

Embora o custo de instalação de um viveiro com mudas micropropagadas seja mais elevado, devido ao maior preço da muda em relação à muda convencional, esse custo dilui-se significativamente por não precisar tratá-la, pelo seu índice de pegamento ser de praticamente 100% e pelo seu desempenho no campo ser, muitas vezes, superior.

Foto: Ana Lúcia Borges

Figura 4. Muda originária de multiplicação in vitro (micropropagada),
própria para estabelecimento de viveiro.
 

c) Variedades

Somente aquelas com maior possibilidade de mercado são objeto de constante procura de mudas pelos produtores, destacando-se a ‘Prata-Anã’, ‘Pacovan’, ‘Nanicão’, ‘Grande Naine’, ‘Maçã’, ‘Nanica’, ‘Terra’, ‘Terrinha’, ‘D’Angola’ e ‘Prata Comum’, cada uma com suas características de desenvolvimento, rendimento e preferência pelos consumidores, as quais têm de ser levadas em consideração ao definir-se a sua propagação. A demanda por mudas das variedades Ouro, Figo, Mysore, Caipira e Nam tem sido menores

d) Instalação do viveiro

A iniciativa a ser tomada, após a definição do local para instalação do viveiro, é a retirada de amostras de solo para verificar a acidez (pH), os teores de alumínio e de manganês, a saturação por bases, os teores de matéria orgânica e de fósforo e textura do solo, com base em sua análise química e física em laboratório credenciado, bem como verificar a presença ou não de nematóides, também em laboratório especializado, por meio de levantamento específico.

As etapas de instalação do viveiro constam de: preparo da área, espaçamento, sulcamento e/ou coveamento, preparo e adubação das covas, seleção, arranquio e preparo da muda e plantio.

Preparo da área

O preparo da área deve constar das seguintes subetapas: limpeza, conservação do solo, aração, calagem, gradagem e drenagem, que são praticamente as mesmas preconizadas para os sistemas de produção da cultura da bananeira.

No que concerne à limpeza, o solo deve estar limpo, a fim de permitir a realização das etapas subseqüentes relativas à sua conservação, aração, calagem, gradagem e drenagem; a conservação do solo justifica-se pela necessidade de protegê-lo contra os impactos das gotas de chuva e de manter níveis de matéria orgânica que permitam uma boa permeabilidade, capaz de uma suficiente retenção de água no solo. Se necessário, práticas conservacionistas como curvas de nível e cordões em contorno devem ser adotadas. A calagem é uma prática necessária, quando o resultado da análise de solo indicar baixos teores de Ca e Mg, índice de saturação por bases inferior a 60% e pH abaixo de 5,5, devendo-se utilizar o calcário dolomítico, por conter esses nutrientes em níveis adequados, sendo aplicado após a aração e antes da gradagem. A gradagem, como prática de complementação do preparo do solo, destina-se a destorroar melhor a terra e auxiliar na incorporação do calcário e de restos culturais, sendo recomendável, próximo ao plantio, fazer uma nova gradagem para eliminar as plantas infestantes. A drenagem ou o escoamento das águas de chuva e de irrigação é outro fator que deve ser considerado na produção de mudas de bananeira de boa qualidade. Assim, em terrenos planos a ondulados, de difícil escoamento, com presença de lençol freático superficial, faz-se necessária a abertura de canais de drenagem com 1% a 3% de declividade.

Espaçamento

Os arranjos mais recomendados são o triangular e em fileiras duplas, que permitem melhor aproveitamento da luz; o último permite introduzir mecanização no cultivo, com diminuição dos custos de manutenção e retirada das mudas.

As populações recomendadas variam de 2.500 a 5.000 plantas por hectare, dependendo da variedade e das condições ecológicas. As distâncias mais freqüentes em triângulo são de 2,0 x 2,0 x 2,0 m e 2,0 x 2,0 m x 1,0 m.

O sistema em fileiras duplas, para variedades de porte médio a baixo como o ‘Grande Naine’, poderia ter a distância de 1,0 m entre as duas fileiras, 1,5 m entre as plantas nas fileiras e 3,0 m entre as fileiras duplas; a população seria de 3.300 plantas por hectare, (Fig. 5.4), podendo ser reduzida para 2.500 se a distância entre touceiras na fileira for aumentada para 2,0 m.

 

Fig. 5. Sistema de plantio de viveiros em fileiras duplas, com 3.300 plantas/ha.

 

Como se trata de produção de mudas, o espaçamento deve ser o mais reduzido possível, a fim de possibilitar uma maior densidade e melhor aproveitamento da área.

Tem sido recomendado que as covas sejam marcadas nos sulcos com 30 cm de profundidade, num espaçamento de 2,0 m entre linhas por 1,0 m entre plantas.

Sulcamento e/ou coveamento

Em terrenos que permitam a fácil movimentação de máquinas, recomenda-se abrir sulcos de 30 a 40 cm de profundidade, com base no tamanho da muda, observando-se a distância entre as linhas de plantio. Em solos argilosos, as covas devem ser feitas nas dimensões de 40 x 40 x 40 cm, separando-se a camada dos primeiros 20 cm para um lado e os 20 cm seguintes para o outro. Se o solo for friável ou solto, as dimensões podem ser reduzidas para 30 x 30 x 30 cm. A separação das camadas do solo na abertura da cova é de suma importância no seu enchimento, como será visto a seguir.

Preparo e adubação das covas

Devem ser realizados com uma antecedência mínima de, pelo menos, 30 dias do plantio, enchendo-se as covas até o nível do solo com os primeiros 20 cm de terra originários de sua abertura, misturados com esterco de galinha (2 a 5 kg) ou de curral (10 a 20 kg), ou de outra fonte de matéria orgânica, em quantidade equivalente, mais 150 a 250 g de superfosfato simples e 200 a 300 g de fosfato natural, ou, de preferência, seguindo as dosagens recomendadas pela análise química do solo.

Seleção, arranquio e preparo da muda

Podem ser utilizadas mudas provenientes de viveiristas, com registro de procedência credenciada e com certificado fitossanitário de origem.

No caso de mudas provenientes de bananais, é imprescindível que o material propagativo seja de procedência credenciada. No bananal, devem ser selecionadas as touceiras que apresentam melhor vigor vegetativo, que tenham produzido cachos de bom peso e com frutos de bom tamanho, para retirada das mudas. No próprio local de obtenção das mudas procede-se também o descorticamento do rizoma, retirando-se as partes necrosadas e as partículas de solo a elas aderidas, até o rizoma ficar inteiramente branco.

e) Plantio

As mudas tipo chifrão, devidamente preparadas (prontas para plantio), são colocadas nas covas adubadas, a uma profundidade tal que o rizoma fique totalmente coberto (até a região do colo) com o solo proveniente dos 15-20 primeiros centímetros da abertura da cova, misturado com o esterco e o adubo fosfatado previstos. Durante o plantio deve-se compactar bem a terra ao redor da muda. Se, após o seu plantio, não houver chuvas suficientes nem se instalou previamente um sistema de irrigação para garantir um bom pegamento das mudas, é conveniente fazer uma bacia ao redor de cada muda plantada, colocar 8 a 10 litros de água e cobrir parcialmente com capim seco, para conservar a umidade.

f) Condução do viveiro

O viveiro de mudas, devidamente instalado, exige uma série de operações que visa garantir o potencial de brotações com o vigor e sanidade desejável, para que o material propagativo seja de boa qualidade, podendo-se destacar a capina, fertilização, irrigação, desbaste e limpeza das folhas, inspeção e tratamento fitossanitário e arranquio e limpeza das mudas.

Capina

A bananeira, nos seus primeiros meses pós-plantio, é bastante afetada pela concorrência de plantas infestantes em água, luz e nutrientes, principalmente nos períodos de escassez de chuvas. Portanto, faz-se necessário manter o viveiro sempre no limpo.

Fertilização

Estabelecido o viveiro, para conseguir-se um rápido desenvolvimento da muda, acompanhado do surgimento de brotações laterais (novas mudas), faz-se necessária a aplicação de nitrogênio.

A fertilização deve ser realizada obedecendo rigorosamente o que recomenda a análise química do solo do viveiro, tanto no que se refere à dosagem quanto à época e local de sua aplicação dos adubos.

Irrigação

Como bem já foi enfatizado, a maior eficiência do uso da irrigação obtém-se quando é feita no solo a reposição de 60% a 70% da água evaporada no tanque classe A. Por outro lado, para efeito de irrigação do viveiro, deve-se considerar como medida a profundidade do solo explorada pelas raízes da bananeira até 60-80 cm, a qual deve ser umedecida em cada rega.

Desbaste e limpeza de folhas

A operação de desbaste torna-se, portanto, praticamente dispensável nos primeiros quatro a quatro e meio meses do estabelecimento do viveiro, quando o número de filhos normais não exceder de cinco. Excedendo, deve proceder-se o desbaste, para deixar os cinco melhores filhos, que transformar-se-ão em mudas nos próximos meses. Já a limpeza de folhas mais velhas é uma prática cultural de grande importância para o bom desenvolvimento das bananeiras e do seus brotos. Ela se faz necessária porque essas folhas deixam-se dobrar junto ao seu pseudocaule, interferindo no desenvolvimento das brotações e, com a sua eliminação, também se expõem novas gemas laterais de brotação (Figura 6).

Foto: Janay Almeida dos Santos-Serejo

Figura 6. Exposição de novas gemas laterais do rizoma,
pela eliminação de bainhas até a sua base.

 

No que concerne à planta-mãe, por nenhuma razão deve-se cortá-la enquanto seus filhos não estiverem aptos para retirada e plantio. Se, antes disso, emitir a inflorescência, esta deve ser eliminada para que seus nutrientes sejam transferidos para os filhos (mudas) em desenvolvimento.

Inspeção e tratamento fitossanitário

O viveiro deve merecer atenção especial no que concerne à inspeção e tratamento fitossanitário. Assim, o monitoramento contra o ataque da broca, de nematóides e de doenças vasculares deve ser realizado no mínimo a cada seis meses após o plantio, sempre com base nas medidas cabíveis em cada situação.

Arranquio e limpeza das mudas

Uma das formas para o arranquio das mudas ocorre quando os brotos atingem 50 cm de altura, sendo eles considerados mudas comerciais. Nesse sistema, as mudas devem ser retiradas cuidadosamente, com o auxílio de um cavador afiado e/ou enxadão, sem danificar o rizoma da planta-mãe ou mesmo a recém-formada gema do broto da muda extraída.