Características da planta

Conteúdo migrado na íntegra em: 20/12/2021

Autor

Levi de Moura Barros - Embrapa Agroindústria Tropical

 

Morfologia

O cajueiro é uma planta perene, de porte médio e ramificação baixa, sendo que nas áreas costeiras a copa é normalmente espalhada, em razão dos ventos. A folhagem é permanente, embora, no período de renovação da folhagem, a aparência seja de perda total das folhas. Na realidade, essa a renovação ocorre após o ciclo produtivo e se dá de forma contínua, razão de se considerar esta fase como de repouso aparente da planta. É aparente porque, biologicamente, não ocorre repouso, já que alguns processos do metabolismo da planta continuam em andamento. As folhas são simples, inteiras, medindo de 10cm a 20 cm de comprimento por 6cm a 12cm de largura.

A diversidade de plantas do cajueiro tem sido agrupada em dois tipos: o comum e o anão precoce. As plantas do tipo comum têm altura média de 5m a 8m e diâmetro da copa de 12m e 14m, com plantas em que a altura chega a 15m de altura e a copa a 20m de diâmetro. As plantas do tipo anão precoce alcançam altura média de 4m e diâmetro de copa entre 6m e 8m, sendo possível, no entanto, encontrar plantas fora desse padrão.

O sistema radicular é formado por uma raiz bem desenvolvida, que pode ir além de 10m de profundidade, e uma malha lateral que se localiza de 15cm a 32cm de profundidade. Este sistema de raízes laterais é importante para a planta, em razão de 82% das raízes efetivas na absorção de nutrientes encontrarem-se até a 30cm de profundidade. Em plantas jovens, a planta segue um modelo de dois para um na relação raízes laterais/envergadura, ou seja, o sistema lateral atinge duas vezes a projeção da copa. Já em plantas adultas do tipo comum, as raízes laterais chegam a 20m do tronco. Essas informações são importantes para um adequado manejo do pomar.

 

Modelo de Crescimento

O primeiro ciclo reprodutivo pode ocorrer já no primeiro ano de vida da planta, como se verifica com o tipo anão precoce. No tipo comum, este ciclo se inicia normalmente a partir do segundo ano e depende da constituição genética e do ambiente onde a planta se encontra, sendo o fator quantidade de água disponível o mais importante. Depende também da forma de propagação, se por semente ou por via assexuada. Após o primeiro fluxo reprodutivo, a planta passa a ter dois fluxos de crescimento: um vegetativo e um reprodutivo.

No fluxo de crescimento, iniciado após a fase de repouso, há a substituição das folhas velhas por brotações novas que resultarão em novas inflorescências (fluxo reprodutivo). O formato da copa é bastante influenciado pelos tipos de ramificações que a planta produz: extensivas e intensivas. As ramificações intensivas crescem 25cm a 30cm e terminam em panículas. Desses ramos, nascem simultaneamente três a oito novos ramos a 10cm-15cm do ápice, os quais podem originar outras panículas. As ramificações extensivas crescem 20 cm a 30cm e repousam, ou seja, não resultam em panículas. Desses ramos, nascem outros, a 5cm-8cm do ápice, com o processo continuando por dois e três anos, sem que sejam produzidas panículas. O balanço entre a quantidade dos dois tipos da ramificação determina o formato da copa. A predominância de ramificações do tipo intensiva resulta em copas com formato de guarda-chuva. Este formato é desejável por reduzir o número e a intensidade de podas na condução dos pomares. A predominância de ramificações do tipo extensiva resulta em copas mais abertas e as plantas tendem a produzir menos, em decorrência da menor quantidade de panículas por unidade de superfície. Além disto, demandam mais esforço de poda para uma melhor condução do pomar.

 

A Inflorescência

O cajueiro é uma planta classificada como andromonoica, ou seja, o seu sistema reprodutivo é constituído por flores masculinas (estaminadas) e flores hermafroditas. A inflorescência é uma panícula onde se encontram os dois tipos de flores em quantidades e proporções que variam muito, tanto entre plantas como entre panículas de uma mesma planta. A importância do conhecimento sobre a distribuição dos dois tipos de flores na planta é importante, porque pode explicar muito do comportamento produtivo. Em geral, as plantas pouco produtivas apresentam poucas flores hermafroditas.

 

A flor

A flor é constituída de cinco sépalas, cinco pétalas, um ovário simples - que é rudimentar nas flores estaminadas - e sete a quinze estames: um grande e seis a quatorze pequenos. Algumas variações e anomalias dos componentes florais são frequentes e o número de flores de uma panícula varia muito, como também varia a relação entre os tipos masculino e hermafrodita.

 

Florescimento

A duração da fase juvenil - que é a que antecede à primeira floração - depende das características genéticas da planta e das condições do ambiente onde ela se desenvolve. O cajueiro anão precoce inicia o florescimento no 1º ou 2º ano e o cajueiro comum no 2º ou 3º ano. Atingida a idade reprodutiva, a atividade passa a ser anual, dependendo também das características da planta e do ambiente, principalmente o regime de chuvas, razão pela qual as informações disponíveis nem sempre são as mesmas.

 

Antese

As flores masculinas iniciam a abertura por volta das 6h e continuam por todo o dia, até aproximadamente 16h. A abertura das flores hermafroditas concentra-se entre 10h e meio-dia, com pouca variação. É comum um modelo de abertura de flores que compreende: uma fase masculina, onde predomina este tipo de flores; segue-se uma fase mista, quando abrem ambos os tipos; e, finalmente, uma segunda fase masculina, com as mesmas características da primeira fase. Entretanto, outros modelos podem ser encontrados, dependendo das características da planta e do ambiente.

 

Receptividade do Estigma

O estigma fica receptivo um dia antes da abertura das flores e permanece receptivo até dois dias depois. A polinização ocorre normalmente até o meio-dia do dia da abertura da flor.

 

Viabilidade do Pólen e Polinização

A viabilidade do pólen do cajueiro normalmente é alta e a estrutura da flor - com o estigma situando-se em posição superior aos estames - favorece mais a polinização cruzada. É possível ocorrer polinização entre flores de uma mesma planta. Por causa disto, o plantio por sementes resulta em grande variação entre plantas, o que afeta não só o seu formato como também sua produção.

A flor tem odor bastante ativo, indicando ser atrativa para os insetos. No Brasil, foi comprovado o efeito favorável dos insetos na polinização do cajueiro, sendo a abelha Apis mellifera a espécie mais importante, com pico máximo de visitas às panículas entre 9h e 14h.

 

Frutificação

O percentual de frutos formados em relação à quantidade de flores hermafroditas produzidas é muito baixo no cajueiro e varia de região para região, com a época do ano, entre plantas e mesmo entre panículas de uma mesma planta. Entre as causas da queda de frutos imaturos, destacam-se o ataque de fungos e insetos, efeitos nutricionais e fatores mecânicos, como ventos fortes.

 

O Fruto

Quando ocorre a fertilização, a haste que sustenta a flor apresenta-se avermelhada e, após uma semana aproximadamente, o fruto torna-se visível. Por volta da quinta semana, o fruto para de crescer e começa a diminuir até completada a maturação, quando atinge de 73% a 77% do tamanho máximo. Inversamente, o pseudofruto tem um crescimento inicial bem mais lento, atingindo o tamanho máximo apenas próximo de completada a maturação. Até a quarta semana aproximadamente, o fruto torna-se maior que o pseudofruto. Após a maturação, não obstante a grande variação da relação peso do fruto/peso do falso fruto, o fruto representa de 8% a 12% do peso total.

Do surgimento até a completa maturação do fruto, decorre um período variável de tempo, entre 56 e 60 dias, sendo 52 dias para o cajueiro do tipo anão precoce. O fruto consiste em epicarpo, mesocarpo, endocarpo e amêndoa, que é coberta por uma panícula. O mesocarpo constitui-se de uma camada de células esponjosas, na qual se localiza o líquido da casca da castanha (LCC).